Comunicação e sociedade de consumo
Mesa Redonda reúne pesquisadores para discutir paradoxos e tensões da relação entre comunicação e consumo
Por Artur Mello
Diferentes dimensões do consumo foram discutidas na mesa redonda, “Comunicação e sociedade de consumo: paradoxos e tensões no Brasil e na Bahia”. A atividade foi moderada pela professora Rita Aragão, e teve como expositores os pós-graduandos do Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade (Pós-Cultura) Velda Torres, Márcia Bittencourt, Cássio Aragão e Patrícia Figueiredo, integrantes do Grupo de Pesquisa Núcleo 3, e contou, ainda, com a participação da doutoranda Catiane Rocha e do mestrando Raphael Medeiros.
Pesquisadora da cultura de consumo infanto-juvenil, Velda Torres levantou questões relacionadas ao estudo desta prática social, a exemplo da falta de uma categorização que contemple os pré-adolescentes, fase de transição entre a infância e a adolescência. “Eles não gostam de ser classificados como crianças, se sentem menosprezados”, afirmou a palestrante. Doutoranda em Cultura e Sociedade pelo Pós-cultura, Torres realizou pesquisa sobre o tema em sua dissertação de mestrado, problematizando as abordagens que posicionam os adolescentes como passivos e manipuláveis, sobretudo, na análise da comunicação publicitária. “[As análises] parecem negligenciar o caráter ativo e reflexivo desses sujeitos como preponderantes nas suas escolhas”, defende a pesquisadora em seu trabalho.
O tema da midiatização da religiosidade e as relações mercadológicas também ganhou espaço no evento. A doutoranda do IHAC/UFBA, Catiane Rocha, falou sobre o crescimento do número de evangélicos no país e a grande divulgação da religião nos meios. “O crente passa a ser um consumidor e acredita estar se aproximando de Deus através desta atitude. O crescimento dos evangélicos é associado ao investimento nos meios de comunicação”, defendeu a pesquisadora, que considera o comércio da religião evangélica como negativo.
“O comércio de produtos evangélicos, faz com que o foco do evangelho seja perdido e a religião se torne manobra de muitos empresários que não são adeptos e só buscam o lucro, se apropriando da prática da religião”, concluiu Catiane.
++ Consumo e fruição da música na cultura digital
O corpo da mulher idosa e o consumo
Dividida em “O corpo”, “A sociabilidade”, e “A cultura do consumo”, a apresentação do doutorando Cássio Aragão reuniu os resultados de sua dissertação defendida, em 2015, no IHAC. A pesquisa, com abordagem etnográfica, teve como proposta analisar a imagem corporal das idosas, percebendo-a como “estratégia de distinção social e simbólica, além de (re)definição de identidade cultural”. O estudo teve como universo a “idosa jovem”, com idade de 60 a 75 anos. “Essas mulheres não aceitam a velhice e depreciam o seu próprio corpo. Mas a cultura do consumo positiva o envelhecimento na busca de atrair essa parcela da população”, afirmou.
Comportamentos, atitudes e o próprio consumo de cosméticos, medicamentos e vestuários aparecem como uma estratégia de fortalecimento da identidade das idosas. “Foi possível identificar como era importante para as entrevistadas fazer uso destes produtos a fim de se sentirem bonitas e serem percebidas pelos outros como mulheres velhas bem cuidadas, bonitas, conservadas e rejuvenescidas para a idade”, relatou o pesquisador na dissertação.
Consumo e sustentabilidade
Mestre em Cultura e Sociedade, Márcia Bittencourt, trouxe o tema da sustentabilidade na cultura do consumo, tema de sua dissertação defendida em 2013. Segundo a pesquisadora, o discurso da sustentabilidade muitas vezes aparece como um mecanismo de legitimação do consumo, deixando de lado questões importantes como os modos de produção, o papel do Estado no controle e a necessidade de redução do próprio consumo.
Para além de uma atitude individual, a pesquisadora defende uma alteração mais ampla de modelo de consumo. “O lixo individual e doméstico acaba sendo o menor dos problemas. Entretanto, é fundamental salientar que produção e consumo são processos inseparáveis e a lógica da sociedade de consumo é a produção de excedentes, o consumo excessivo, o acúmulo de bens, o exagero, o instantâneo, o descartável, a sobra e o desperdício – produz-se mais porque consome-se mais, há produção porque há demanda”, destacou a pesquisadora em sua dissertação.
Para Bittencourt, embora não sejam os principais responsáveis pela produção de resíduos, os consumidores passam a adquirir um papel fundamental num processo de mudança, sobretudo, através de ações coletivas que pressionem as indústrias por um “comportamento mais responsável”.
Publicidade e construção de marcas
Com uma série de informações sobre o turismo no mundo comparadas às estatísticas brasileiras, Patrícia Figueiredo trouxe para o público o debate sobre “Publicidade e Consumo Turístico”.
A palestrante expôs uma análise da imagem turística do Brasil nos outros países ao longo dos anos. “No começo, só se retratava o Rio de Janeiro, e divulgava uma imagem da mulher brasileira enquanto atrativos turísticos para o país. Nos anos posteriores alguns outros aspectos foram adicionados, como o futebol, outros estados, o Ecoturismo e as belezas naturais”, afirmou Patrícia.
Segundo Figueiredo, a partir de 2003, começaram a aparecer campanhas publicitárias que colocam o turista em interação com a cultura brasileira. “Começou a ser usadas imagens de turistas nas campanhas publicitárias, eles começam a ser inseridos em um contexto de compartilhamento do nosso país junto com a gente. As campanhas mostram turistas no meio dos brasileiros”.
O último a expor seu trabalho foi Raphael Medeiros, que fez uma reflexão sobre “A marca como estratégia discursiva para as cidades”. A apresentação teve como foco a análise da marca do RIO2016. “A cidade se colocou como centro econômico e não foi escolhida como a cidade sede à toa, pois por muito tempo foi a única imagem do Brasil no exterior”.
Medeiros tratou ainda do processo de construção da marca, conduzida pela empresa estrangeira Dalton Maag. “A marca foi construída por um grupo de comunicação estrangeiro e isso não é o que eu considero ideal, por eles não terem a real noção de como é o país e a cidade sede”, argumentou.