Temos que pegar Pokémons! Na UFBA?!

Conheça o grupo que se reúne para jogar Pokémon Go nos campi da universidade

Por Madson Souza

Se você encontrar pequenos grupos de pessoas pela UFBA, todas com smartphones nas mãos e dando toques vorazes nas telas, altas são as chances de você estar vendo os jogadores remanescentes do fenômeno Pokémon GO. Sim, o jogo ainda existe. E, mais do que isso, está presente na UFBA com um grupo no Telegram com mais de cem jogadores, página no Facebook e perfil no Instagram e Twitter.

Quase toda criança que cresceu nos anos 2000 foi em, algum grau atingida pela febre Pokémon, ou por meio dos jogos da Nintendo, ou, principalmente, pelo anime. Como é o caso do estudante de geografia Eduardo Alexandrino, 27 anos. “Desde criança jogo e desde então joguei todos os jogos, assisti ao anime, sempre fui envolvido com Pokémon”. E isso foi fundamental para o “boom” do jogo Pokémon Go no fim de 2016.  

Esses treinadores perambulam caçando pokémons, batalhando em ginásios e realizando raids – batalhas contra pokémons poderosos e lendários, que podem ser feitas de forma individual ou em grupo, e ao fim tem-se uma oportunidade de capturar a criatura – inclusive, com eventos aos fins de semana para prosseguir com a jogatina.

O futuro geógrafo Danilo Marcel, 26 anos, comenta sobre as motivações dos estudantes e a relação com o jogo. “Qualquer coisa é bem vinda quando se tem que estudar. Então, são vários universitários que tem que estudar, mas que ao menos tem o Pokémon”, diz em tom de brincadeira.

Lynn Alves doutora em pedagogia, 56 anos e coordenadora do grupo Comunidades Virtuais – UFBA, uma das responsáveis pelo livro “Jogos digitais, entretenimento, consumo e aprendizagens: uma análise sobre o Pokémon Go”, comenta sobre os aspectos positivos relacionados ao jogo. “O jogo propõe diferentes desafios e gera um estímulo ligado às funções do sistema cognitivo. Então, pensar o Pokémon Go é pensar num ambiente que estimula funções executivas, como memória, controle inibidor, flexibilidade cognitiva, atenção e outras”, explica.

Equipe Rocket decolando de novo
E a associação do espaço da UFBA com os universitários é um ponto fundamental para os jogadores, como aborda Eduardo Alexandrino. “A UFBA é muita positiva para o jogo, porque temos uma certa segurança, um ambiente bastante propício, com pokestops, e estamos sempre encontrando pessoas que jogam, conhecendo a galera”, argumenta.

Outra aspecto positivo que o game reforça para os universitários é uma associação com a prática de exercícios, como caminhar e em alguns casos, até correr. O mestrando em ciências da computação e jogador Gunot Freire, 23 anos, explica. “É uma forma de você se divertir e não ficar sedentário. Se antes do jogo te chamassem pra passar três horas andando na UFBA, ninguém ia”. E continua. “Agora, porque tá aparecendo pokémon no mapa você nem pensa que vai ser cansativo passar o dia andando e no fim, você ainda acaba se divertindo”, relata.

Além das questões de saúde, existe toda uma reapropriação do espaço, conta Danilo Marcel. “Eu gosto de jogar e todo lugar que vou reinvento jogando. É um motivador a mais, reinvento meu caminho e minha rotina jogando Pokémon Go”, diz.

A paixão é tanta, que os jogadores se movimentam e povoam o espaço universitário, mesmo nos fins de semana, que é quando rolam os dias comunitários, eventos divulgados pela Niantic e normalmente são dedicados a um pokémon específico. “Sempre rola umas quedas, uns trocadilhos, umas pessoas que dão uns nomes de pokémon diferente. São várias histórias que acabam criando vínculo com a galera”, conta Arleide Muniz, estudante de língua estrangeira (inglês), 32 anos.

O sentimento é o mesmo de Jeane Marques, estudante de Direito, 33 anos, que reforça o valor dos dias de comunidade. “É para termos um dia de comunidade mesmo. É saber que você vai lá encontrar uma comunidade que gosta do jogo assim como você. Isso é fundamental!”.

É sabido que os jogos tendem a ser espaços pouco acolhedores para mulheres, mas parece que no grupo do Pokémon não. Arleide Muniz afirma que manter uma comunidade saudável de jogadores é fundamental, tanto que uma das regras do grupo do Telegram é que não é aceita nenhuma forma de preconceito. “Ações que promovem discurso de ódio não são toleradas na comunidade. E por isso, nós conseguimos manter uma comunidade estável, de pessoas que se ajudam e respeitam umas as outras”.

No fim das contas, o Pokémon Go continua vivo no espaço da UFBA, por diversos motivos, desde o reforço positivo para a saúde, passando pela relação de infância com os monstrinhos de bolso, mas, o que parece o principal fator é a sociabilização dos indivíduos. Então, se você quer ser um mestre Pokémon, parece que a UFBA é o lugar certo.

 

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