Pai: amigo, herói e companheiro

Conheça a história de Marcelo, Marcelinho e Marina

Por Madson Souza

As mães têm muita coisa. Uma relação muito particular, afinal ela é a única com quem compartilhamos um corpo. São nosso ponto de partida e comumente nosso quarto do pânico. Elas recebem discursos, músicas, poesias e grandes feitos. E tudo isso é muito merecido. 

Mas, hoje vamos falar sobre os pais. E aqui a banda toca de um jeito diferente. Os pais, às vezes são considerados vilões, numa tentativa de impor limites. Em outras, são os amigos que nos consolam. Para alguns são os grandes heróis, com a capa balançando ao vento. 

De qualquer forma, acho que os pais merecem algo melhor que uma música do Fábio Jr, não é mesmo? Então, essa é a homenagem da Agenda Arte e Cultura aos pais.

Quem é o pai?
Quando fui entrevistar Marcelo, com a presença de Marcelinho e Marina, eles estavam usando camisas combinando. E eram engraçadas! Estava escrito: Bee happy in Bahia. É uma piada, porque eles estudam abelhas. 

“Sempre dividi com os meus filhos. Acho que família é isso. Dividir o que é seu com os outros”, conta Marcelo Rocha Lordelo, divorciado e pai da Marina, de 15 anos e do Marcelinho, de 13. 

A primeira coisa que notei sobre eles é o tamanho do cabelo. Todos muito longos. Especialmente o de Marcelinho. O pai explica. “É pra esconder a cirurgia, mas o importante é que ele se sinta bem”. Quando questionado sobre a possibilidade de cortar, o menino rapidamente negou a alternativa, com um cômico “bye, bye”.

UFBA também para os baixinhos
Marcelinho já sofreu um AVC (danos ao cérebro devido à interrupção do fornecimento de sangue) e tem afasia (distúrbio de linguagem que afeta a capacidade de comunicação da pessoa). 

“Tem criança que tem creche, mas Marcelinho não pode devido à situação dele. Ele dorme comigo ou com Marina, não dorme sozinho. É uma situação complexa”, explica Marcelo. E, por esse motivo, ele traz o filho para a UFBA. A professora Eliza Mendes foi a primeira a apoiar a presença de Marcelinho na sala de aula, acompanhando o pai no BI em Artes. 

Atualmente eles já desenvolveram um protocolo, que consiste de: ouvir relatos sobre a postura dos professores e o próprio Marcelinho se apresentar no primeiro dia e perguntar se pode assistir a aula. “Fiz o BI inteiro assim levando Marcelinho, pegando professor por recomendação, fiz monitoria na Facom, participei de ACCs, fiz muita coisa com ele porque era a única forma de conseguir estudar”, relembra Marcelo. 

Ainda que com toda a precaução na escolha das matérias, Marcelo relatou diversas situações em que foi julgado, questionado e criticado, tanto por professores, quanto por alunos. “Tem gente que não aceita isso, que não quer ele na sala. Não sei o porquê disso”, desabafa. 

Mas, nada disso impede Marcelinho de citar conhecimentos sobre inseminação em animais com extrema facilidade, de maneira surpreendente para qualquer um.

No geral, ele fala que foi bem recebido nos locais. Mais do que só assistir as aulas uma das características de Marcelinho é a participação. “A gente tá tentando adentrar um espaço e acho que conseguimos formar um espaço na universidade”, afirma Marcelo. E já ouvi amigo dizendo que conseguiu trazer o filho para sala de aula por minha causa. 

“Formei no BI e Marcelinho me perguntou como ia frequentar a universidade, já que ele estava formado. Então, voltei e comecei a cursar jornalismo. Pra poder continuar com os projetos que faço com ele, conseguir fazer meus projetos e montar um portfólio”, confirma Marcelo. 

Marcelo e Marcelinho
É comum pais colocarem seus nomes nos filhos. “Eu não tinha um nome para dar pra ele. E sempre gostei do meu. Por gostar do meu nome quis colocar nele também. Agora, eu sou Marcelo e ele é o Marcelinho”, brinca Marcelo.

Fato curioso é que pai e filho já estudaram palhaçaria e, inclusive, tem um nome para seus palhaços. O pai é o Cara de cueca e o filho, o Lá, de Lá Lá Lândia. “Isso ajudou muito ele. As relações dele com outras pessoas melhorou muito depois da palhaçaria”, Marcelo diz.

Marcelo, formado no BI de Artes e agora graduando do curso de jornalismo tem como um de seus muitos projetos uma pesquisa sobre “A inserção da meliponicultura na vida de uma criança deficiente”. Meliponicultura é a criação de abelhas sem ferrão. Pesquisa que surgiu baseada numa relação empírica, devido ao interesse de Marcelinho pelas pequenas criaturas. 

Outro de seus planos é produzir uma animação baseada numa história criada por Marcelinho. “Eu tenho mais projetos dele do que meu”, diverte-se Marcelo.  

Marcelo e Marina
Muitas coisas passam de pai pros filhos, como: times do coração, filmes favoritos, manias. Nessa família o traço comum é o amor pela natureza. “Gostava da natureza desde criança”, conta Marcelo. E os filhos seguiram pelo mesmo caminho, enquanto Marcelinho tem uma forte relação com as abelhas, Marina gosta muito de borboletas. 

“Em uma consulta do Marcelinho na Hemoba, apareceu uma borboleta com a asa quebrada. Ela (Marina) queria ajudar a borboleta, então peguei ela e levei para casa. Colamos a asa dela e a soltamos no quintal. Essa borboleta colocou ovos num tomate, nasceram larvinhas e Marina as colocou em um pote e criou até virarem borboletas”, fala Marcelo. 

Interessante que a borboleta voa, vai pra mata e volta para por seus ovos no mesmo lugar. “Até hoje tem borboleta lá em casa”, comenta Marcelo. 

Num outro momento da entrevista enquanto o pai conta das roupas que costurou para ela quando mais jovem, Marina ri, como quem sabe qual o fim da história. O pai, sem perceber, prossegue recordando a maneira como a filha exibia as roupas feitas por ele.  

Hakuna Matata
“Eu sempre quis ser pai. Queria vivenciar a experiência de criar um ser, de ver nascer, crescer e evoluir”, explica. Simultaneamente Marina pratica com Marcelinho a letra de “Hakuna Matata”, música do clássico da Disney “Rei Leão” (1994). 

Parece que Marcelo gosta muito de ser pai e busca essa sensação o tempo todo. Não importa se é brincando na natureza, assistindo filmes, frequentando a universidade ou construindo coisas. No fim parece que para eles o que importa é estar junto.

Feliz Dia dos Pais!

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