Djamila Ribeiro e Lilia Schwarcz: a potência do encontro entre ativismo e academia

No “Fronteiras do Pensamento”, a filósofa Djamila Ribeiro e a historiadora Lilia Schwarcz dividem palco no TCA

Por Mariana Gomes

Colonialismo. Antirracismo. Branquitude. Sexismo. “Palavrões” que podem até parecer que não fazem sentido no nosso dia a dia, mas são termos-chave para construção democrática, sobretudo quando olhamos para a história do Brasil. Tendo isto em vista, as pesquisadoras Djamila Ribeiro e Lilia Schwarcz chegam à Salvador para o Fronteiras do Pensamento, evento que reúne intelectuais de destaque para discutir temáticas que impactam na nossa vida atual produzido pela Braskem em parceria com o governo da Bahia.

Djamila Ribeiro é mestre em filosofia política pela Universidade Federal de São Paulo. Organizadora e propositora da ideia de “lugar de fala”, viaja ao mundo compartilhando sua pesquisa e seus livros. Autora de “Quem Tem Medo do Feminismo Negro”,  também é figura presente em mídias como o Justificando, Folha de S.P. e Marie Claire. Coordena a coleção de livros “Feminismos Plurais” e o Selo Sueli Carneiro.

Lilia Schwarcz é doutora em antropologia social pela Universidade de São Paulo e, atualmente, professora titular da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas na mesma universidade. Professora titular na USP e Global Scholar em Princeton, Schwarcz também é curadora adjunta do Museu de Arte de São Paulo (Masp), criou seu próprio canal de vídeos na Internet e é colunista do jornal Nexo.

Hoje à noite, no Teatro Castro Alves, o público pode esperar um debate profundo e acessível sobre novos marcos para a humanidade, em que as convidadas analisam a recriação do racismo estrutural no país e avaliam com a perspectiva histórica as desigualdades postas na sociedades. 

Para além dos muros da faculdade
Tanto Djamila Ribeiro quanto Lilia Schwarcz constróem trajetórias enquanto figuras públicas dispostas a democratizar o acesso ao conhecimento científico. Ambas posicionam-se abertamente nas suas páginas das redes sociais, contribuem com colunas em jornais e revistas nacionais e se integram à iniciativas dos movimentos sociais, como no caso daqueles vinculados às lutas antirracistas e antissexistas.

“Eu penso que é muito importante não ficar preso academia. Eu parto do feminismo negro, e as feministas negras ao longo da história rompem com essa dicotomia entre ativismo e academia, de que é um não lugar. Na verdade, é mais dialético do que dicotômico”, comenta Ribeiro.

“Quando eu olho a trajetória de Audre Lorde e Lélia Gonzalez, que rompem com essas expectativas, percebo a potência desse lugar. A academia pode ser um espaço de manutenção do poder, de hegemonia, por isso é necessário desmistificar que conhecimento é para poucos, para privilegiados. Todo mundo pode debater, e é importante trabalharmos no processo de democratização do conhecimento. Já que linguagem é poder, que pode excluir pessoas de determinados debates, é de suma importância o tipo de trabalho de aproximação”, argumenta a filósofa paulista.

“Eu tenho uma trajetória bastante vinculada à academia, mas também tenho essa face um pouco diferente que é a de trabalhar numa editora e ser curadora do MASP, assim como colunista. Isso me fez atentar a relevância do intelectual público. No Brasil, nós não temos essa tradição. Por exemplo, na Plataforma Lattes, enquanto órgão de avaliação e espaço de poder, não há local para incluir produções como o meu canal. Costumo dizer que quando não há espaço é porque há muito espaço”, argumenta Schwarcz.

Enfrentamento ao racismo
Iniciando uma nova década, o Brasil terá que lidar em breve com algumas questões, como a avaliação do sistema de cotas nas instituições de ensino, no ano de 2022. “O racismo é um problema da sociedade, não das pessoas negras”, afirma Djamila. A pesquisadora e ativista também chama atenção para a importância de cada um, a partir de seus lugares sociais diversos, se responsabilizar no combate às opressões.

“É preciso que as pessoas brancas se comprometam com a luta antirracista. Senão isso se torna um peso muito grande para nós, em que não podemos ser sujeitos nunca”, conclui.

Partindo de uma análise histórica do racismo no Brasil, Lilia soma à reflexão de Djamila. “Apesar de não termos inserido no corpo de leis, nós praticamos o racismo institucional e estrutural de maneira silenciosa. E esse silêncio é muito barulhento”, explica. “Tenho refletido que vivemos um momento em que o extermínio de jovens negros da periferia, com os dados de crise, de ataque às minorias, penso que nunca foi tão necessário mostrar essa face mais pública da questão. Essa é minha escolha e tendo estudado numa escola pública, me formado numa universidade pública, eu devo isso à sociedade”, defende Schwarcz.

“Quando alguém me diz ‘parabéns pela sua luta’, bem a luta não é minha, na verdade essa deveria ser nossa luta, todos devem se engajar. Quanto mais pessoas entenderem e  inclusive comunicar nos lugares que não acessamos”, finaliza Ribeiro. O encontro entre Djamila Ribeiro e Lilia Schwarcz encerra a temporada 2019 do Fronteiras do Pensamento.

Serviço
O quê: Fronteiras do Pensamento com Djamila Ribeiro e Lilia
Quando: 1/10, às 20h30
Onde: Teatro Castro Alves, Salvador (BA)

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