Com participação de pesquisadores da UFBA, estudo mundial mostra os benefícios da biodiversidade
Trabalho reuniu mais de 100 acadêmicos, de várias partes do mundo
Por Ícaro Lima
A biodiversidade como um fator benéfico para a da produção agrícola em todo o mundo. É isso que defende um estudo científico internacional divulgado no último dia 17, na revista Sciences Advances. A pesquisa se baseia em dados recentes que mostram que, nas últimas décadas, 20% da superfície cultivada da Terra se tornou menos produtiva para o plantio.
Participaram do estudo acadêmicos de seis instituições brasileiras: Universidade Federal da Bahia (UFBA), Universidade Federal de Goiás (UFG), Universidade Federal da Bahia (UFBA), Universidade Federal do Ceará (UFC), Universidade de Brasília (UnB), Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (INPA) e Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso. Foram mais de 100 pesquisadores internacionais coordenados pela Universidade de Würzburg, da Alemanha, e o centro de pesquisa Eurac Research, da Itália.
Todos esses centros de estudo trabalharam em conjunto e confirmaram as vantagens da biodiversificação, detalhando como áreas agrícolas mais ricas em biodiversidade são mais protegidas de insetos prejudiciais, promovem a polinização e produzem melhores colheitas.
Os ecólogos, biólogos e agrônomos compararam informações de cerca de 500 áreas agrícolas pelo mundo, de campos de milho das planícies americanas a plantios de canola no sul da Suécia, plantações de café na Índia e Brasil, manga na África do Sul, cereais nos Alpes e acerola no Nordeste do Brasil, entre outros.
Efeitos
Os resultados mostraram que em paisagens heterogêneas – onde há maior variação de cultivos, cercas vivas, campos e árvores – os polinizadores silvestres e insetos benéficos são mais abundantes e diversificados. Assim, não somente a polinização e o controle biológico aumentam, como também a produção agrícola.
Por outro lado, monoculturas foram a causa de aproximadamente um terço dos efeitos negativos sobre a polinização devido a simplificação da paisagem (medida pela perda da ‘riqueza de polinizadores’). Esse efeito é ainda maior em relação ao controle de insetos prejudiciais aos cultivos, onde a perda da ‘riqueza de inimigos naturais’ representa 50 por cento da consequência total da simplificação da paisagem.
Para o biólogo da Eurac Research, Matteo Daines, a pesquisa demonstra resultados importantes para o futuro do ecossistema do planeta: “Nosso estudo mostra que a biodiversidade é essencial para assegurar a provisão dos serviços ecossistêmicos e para manter uma produção agrícola elevada e estável”, diz.
Matteo acredita que algumas ações descritas no estudo facilitaria o trabalho dos profissionais que movimentam a agricultura em todo o mundo. “Por exemplo, um agricultor pode depender menos de agrotóxicos para controlar insetos prejudiciais se os controles biológicos naturais forem incrementados por meio de uma biodiversidade maior na agricultura”, conta.
Já para o ecologista animal do Departamento de Ecologia Animal e Biologia Tropical da Universidade de Würzburg, Ingolf Steffan-Dewenter, o estudo oferece novos meios para uma estabilização positiva da produção agrícola mundial.
“Nosso estudo fornece um forte apoio empírico dos benefícios potenciais de novos caminhos para uma agricultura sustentável com o objetivo de compatibilizar a proteção da biodiversidade e a produção de alimentos para uma população humana crescente”, conta.
Representante da UFBA
Para a professora do Instituto de Biologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Dra. Blandina Felipe Viana, que também participou do estudo, a pesquisa ratifica outros trabalhos que já detalharam resultados sobre este tema:
“Esse estudo vem confirmar o que alguns estudos de caso prévios já haviam apontado, que a biodiversidade provê serviços essenciais para a agricultura, como polinização e controle de pragas, e que a adoção de práticas de manejo agrícola amigáveis à biodiversidade poderá trazer muitos benefícios para o produtor rural, inclusive financeiros”, explica.
O estudo pode ser conferido integralmente clicando aqui.