Agenda na Saladearte: Parasita é um filme necessário
Por Jô Stella
Parasita, filme do cineasta Bong Joon-ho, ganhador de seis estatuetas na última cerimônia do Oscar, merece cada prêmio e elogio que recebeu desde a sua estreia. O filme conta a história de uma família pobre da Coreia do Sul que começa a trabalhar para uma família rica do mesmo país, mas o enredo vai muito além disso.
A narrativa trata de questões intrínsecas das relações de classe ao redor do mundo ,e por isso, consegue alcançar o público de diversos países por ver transposta a própria realidade.
Está presente no filme o problema arquitetônico das cidades que reserva aos ricos o topo confortável e espaçoso, enquanto os pobres se espremem como podem em construções precárias e desconfortáveis que podem a qualquer chuva, seja no morro ou no subterrâneo, ruir.
Também estão lá a fetichização do pobre pelo rico, que expressa o seu nojo e desprezo pelas classes “inferiores” mas que, ao mesmo tempo, fantasia com seus cheiros e corpos cheios de suor, desprovidos de tantas loções artificiais de qualidade. Essa é mais um dos tantos fatores de distinção entre os “superiores” de quem está abaixo.
Está também representado o pobre que, mesmo oprimido e vivendo em condições subumanas, é grato e idolatra cegamente o rico que o sustenta, sem sequer se dar conta da sua existência.
Mas se as discussões citadas não são suficientes para que o leitor considere Parasita um filme necessário, cabe dizer que os diálogos são muito bem construídos, a fotografia é impecável e cada detalhe, da direção à montagem, parece se encaixar perfeitamente. Além da narrativa transitar naturalmente entre comédia, suspense, terror e drama sem se prender a um só, como é de fato na vida.
E para coroar brilhantemente a obra de Bong Joon-ho e sua equipe, quando o público acha que o filme atingiu seu ápice, a narrativa surpreende com uma reviravolta de gelar o estômago.
Dificilmente alguém termina Parasita sem o impacto de precisar rever, pegar detalhes perdidos, e além de tudo precisar de um tempo para processar e respirar.