Ativismo e as hashtags: quais os alcances e limites da militância online?
As redes digitais viraram palco de discussões e levantamento de hashtags nas últimas semanas
Laiz Menezes e Luana Lisboa*
Com a “viralização” de imagens e notícias, as ondas de protestos virtuais têm ganhado força em prol do movimento negro e contra as desigualdades evidentes. E, principalmente com o isolamento social, as redes digitais vêm sendo o palco de discussões e levantamento de hashtags, o chamado ativismo online. Com todas essas manifestações em plataformas da internet, como o Twitter, a questão em pauta é se é dessa forma que as injustiças, de fato, serão combatidas e como fazer para que as discussões extrapolem os limites da web e se transformem em reais mudanças no mundo. Conversamos com ativistas e pesquisadoras da área para entendermos melhor o assunto.
Para a ativista e pesquisadora em Discursos e Midiatização da Sociedade Bruna Rocha, o primeiro entendimento que devemos ter é que o ativismo online não está desconectado do presencial. O ambiente digital é um novo local em que as relações sociais se constroem e pode, inclusive, democratizar discussões.
“Não dá pra ser militante na internet e não ser na vida real, no sentido de não incorporar uma prática política e transformadora no seu cotidiano”. Mas, segundo ela, o ativismo online tem suas limitações.
As relações de poder, diferença do acesso nas distribuições de conteúdo e na sua circulação, segundo Bruna explica, é o limite da estrutura organizacional das empresas. Esse limite envolve os algoritmos das redes sociais, responsáveis por limitar o conteúdo que as pessoas têm acesso, e mostram, muitas vezes, somente o que querem ver, de acordo com suas interações nas postagens. A outra dificuldade, de acordo com a pesquisadora, é a falta de acesso à educação. É quando o excesso de informação pode virar desinformação. “Para uma comunidade que não tem facilidade em interpretar conteúdos, a quantidade enorme de textos e pautas disponíveis nas redes pode gerar dificuldade de compreensão”.
A jornalista e ex-apresentadora da TVE Rita Batista pontua a dificuldade na visibilidade de alguns casos e como o cenário seria pior sem as redes sociais. “É como aquela frase que viralizou: ‘o racismo sempre existiu, a diferença é que agora tem alguém gravando’. Agora tem alguém que fala, posta e mobiliza”. O vídeo de George Floyd sendo violentado e morto pelo agora ex-policial branco Derek Chauvin é o exemplo mais recente da mobilização que a midiatização dos conteúdos pode gerar na sociedade. “Eu tenho o entendimento de que não é pra gente parar na rede social. Não é pra pensar ‘já postei, então já fiz minha parte, já doei minha cesta básica, então já cumpri meu papel'”.
A jornalista explica como ela consegue atuar nesse cenário. “Em casos na Bahia, especialmente em Salvador, eu meto o dedo na ferida e rodo”, afirma. Ela lembra que as coisas acontecem do seu lado, na sua casa, na casa do seu vizinho e que há maneiras de denunciar. Por isso, acredita que as instituições existem para serem incomodadas e fazerem o seu papel.
Prós e contras
A secretária de Promoção da Igualdade Racial do Estado da Bahia (Sepromi), Fabya Reis, alerta sobre os prós e contras da militância online. Para ela, o ativismo é, sem dúvidas, mais um instrumento de fortalecimento das lutas e é fundamental para o engajamento de públicos, vozes e de uma grande diversidade de perfis.
Têm surgido uma série de ativistas e mobilizadores que, de acordo com Fabya, enxergam as plataformas virtuais como uma oportunidade de pautar novos debates ou até reverberar antigas lutas no campo racial e social.
Durante o isolamento social, o desafio é manter a mobilização. “Torna-se um desafio – por vezes um limite – seguir resistindo, na continuidade das pautas, nas mobilizações e debates, sobretudo em tempos de isolamento social, realidade que fez atrair todas as atenções e movimentações para o meio virtual”, explica. Mas relembra os riscos do meio digital. “No ativismo virtual, vale a vigilância e trabalho de combate diário às fake news, fenômeno que gera dispersão, propagação de inverdades e desmobilizações”.
Por isso, o governo do estado implementou um projeto para combater as fake news. “Um exemplo disso é lei de combate à disseminação de fake news, sancionada pelo Executivo no final de maio, além das campanhas e sensibilizações realizadas nesta frente”, completa a secretária. As ações podem ser acompanhadas no site https://bahiacontraofake.com.br/.
*voluntárias da Agenda Arte e Cultura