Alberto Pitta: do sonho de ser goleiro às estampas africanas marcantes
Perfil do artista plástico faz parte do especial da Agenda pelo Dia da Consciência Negra
Por Laisa Gama*
Artista plástico há 35 anos, Alberto Pitta trabalha com a serigrafia, um processo de impressão de desenhos ou textos em uma superfície, através de uma tela preparada. Mas nem sempre foi com isso que ele quis seguir a sua vida. Queria mesmo era ser goleiro de futebol, quando se deparou com o surgimento de dois blocos: O Afro e o Afoxés. “Me interessei profundamente pela estética africana e aliado a isso tinha o fato de ser de dentro de Terreiro de Candomblé.”
Filho de Santinha de Oyá, que era educadora e bordadeira de talento, a qual fazia rechiliê e outros tipos de bordado, foi com ela que ganhou gosto pelas artes. Tomou ela como uma inspiração para assim fazer estamparias que hoje são sua paixão. Pitta, que já trabalhou para diversos blocos, tais como o Afro, Afoxés e também do Olodum, o qual trabalhou por 15 anos como diretor de arte, hoje em dia tem seu próprio bloco, o Cortejo Afro. A soma de todos os lugares em que passou se encontra ali. “O Cortejo resulta em minha experiência. É a soma de tudo e percebo o impacto na comunidade. Ela [experiência] participa ativamente das produções pré-carnavalescas do bloco.”
Criar e estampar os tecidos é a sua vida há mais de 40 anos. Sua inspiração, que mais parece não ter fim, vem, a princípio da ambiência que está mergulhado, ou seja, do contato diário com símbolos e signos milenares da África. “Eu procuro perceber o que está acontecendo no momento, a ideia é ter o bloco o mais contemporâneo possível. Alguns deslocamentos estéticos, lançando mão de elementos tradicionais, eu faço sempre que for necessário.” Um de seus trabalhos foi para o Bloco Afro Malê Debalê, de Itapoan.
O Malê veio com uma homenagem para Gilberto Gil e a Alberto foi dado o poder de criação das estampas para referenciar isso. “Eu contei a história e escrevi nos panos do bloco a letra da música Refavela, bem como, estampei as casas do BNH e as favelas dos morros cariocas, exatamente o que @gilbertogil narra em sua composição, pois é, como vocês sabem, eu adoro escrever nos panos, sobretudo para os que não ‘sabem ler’”, diz ele em uma das suas postagens no instagram.
E por falar nesse ambiente, seu Instagram é por si só uma porta de entrada para conhecer um pouco quem Alberto é. Cheio de cores e de histórias, nele encontramos suas inspirações, seus trabalhos e suas diversas opiniões. “Não precisa escrever muito, é sabido, esse país ainda cheira a escravidão”, diz ele ao publicar um vídeo sobre o racismo impregnado em todas as vertentes do Brasil. Para Pitta, dias como o da Consciência Negra não são apenas extremamente importantes, eles são uma necessidade, e continuarão sendo por muitos anos.