Centros religiosos adaptam rituais para manter atividades na pandemia
Agenda conversa com líderes religiosos para saber como está sendo o período de pandemia
Por Laisa Gama
Com a pandemia de covid-19 que o país vem enfrentando desde o começo do ano passado, datas de celebração e momentos em coletivo, tiveram de ser repensados para proteção de todos. Essa, é claro, também é uma realidade dos diversos centros religiosos que existem. Assim, dias como o de hoje, o qual é pensado para enfatizar a busca pelo respeito, tolerância e diálogo, estão cada vez mais sendo repensados e reformulados. Nesse sentido, a Agenda conversou com diversos líderes religiosos para saber sobre este período de incertezas.
Foi logo em março de 2020, quando na Bahia as medidas de controle começaram a ser empregadas. Ao longo dos meses e da propagação do vírus no Estado, as decisões a respeito de quais atividades seriam essenciais ou não, foram sendo atualizadas. Embora em alguns momentos houve discussões se cultos religiosos estariam nessa categoria, elas não foram enquadradas como essenciais.
Ao longo dos meses, esses centros religiosos fizeram mudanças para prosseguir com suas atividades, como eles mesmo teriam de permanecer saudáveis para ajudar a lidar com mais essa questão além de todos os outros desafios que diariamente eles enfrentam.
Mudanças com a pandemia
O Sheikh Abdul Ahmad, 79, que coordena o Centro Islâmico da Bahia desde 1992, conta que com a pandemia, a Mesquita desenvolveu uma série de reuniões para tratar de diversos temas que vão muito além da religião, tais como respeito e amor. “A chave da convivência é o respeito, não importa a religião. A pandemia não acabou com nossas formas de orientar nos ensinamentos”.
No Ilê Axé Ojisé Olodumare, conhecido também como “Casa do Mensageiro”, em Barra de Pojuca, que tem como sacerdote Rychelmy Esutobi, também buscou outras atividades a distância para que dessa forma o terreiro continuasse ativo. “Precisamos reavaliar nossas relações, Se não havia a possibilidade de se fazer presente fisicamente, as reuniões foram transpassadas para o meio virtual.” Assim, às quartas-feiras de todas as semanas havia reuniões que foram chamadas de Guardas de Afeto, que aconteciam através do zoom, para que neles houvesse uma troca de experiências e angústias.
Já o pastor Michel Rocha, 26, que atua há 3 anos no pastorado na Igreja Batista em Gentio do Ouro, enfatizou a importância do cuidado com o próximo, principalmente no momento atual. “Nós tivemos irmãos contaminados que precisaram de outros para confortar, apoiar, mesmo distantes fisicamente, carregar o fardo do outro, se importar, oferecer apoio e amparo”, explica.
Em sua igreja, ele buscou conscientizar os frequentadores para escutar o próximo, assim como no discipulado direcionado aos adolescentes da comunidade e auxiliar quem estava passando por necessidades. “Nós distribuímos inúmeras cestas básicas à famílias carentes da cidade nesse período, tudo isso pela ajuda de irmãos que doaram sem nenhum tipo de publicidade pessoal e eu fico imensamente contente por conta disso”, conta ele.
O pai de Santo Jidewá Osoosi também manteve as atividades de seu terreiro, o Ilê Asé Òdé Oluami, seguindo as normas da OMS, para proteger a comunidade. O projeto que consiste na distribuição de alimentos e doces para as crianças diariamente pela tarde e manhã, já existe há oito anos.
Missas reduzidas
A Igreja Nossa Senhora do Rosário, na cidade de Irecê, no norte do Estado, ficou quase 10 meses fechada, tendo somente as missas através da internet. O Padre Jessé Deus Vasconcelos, 49, que atua há 24 anos nessa função, conta que na volta da abertura surgiram diversas dúvidas a respeito de problemas que poderiam surgir com a volta de um fluxo de pessoas e aglomerações. Porém não teve uma grande proporção nesse sentido, um dos fatores foi a adoção do meio virtual.
“Eu até prefiro estar assim, com poucas pessoas, pois realmente não é o momento para isso.” E para o padre, a forma com que as missas estavam acontecendo e ainda acontecem vão continuar por muito tempo, segundo ele pessoas de diversos Estados, Brasília e outros países como a Alemanha, estão acompanhando as celebrações de forma virtual.
Da mesma forma aconteceu com o pastor Michel Rocha, que modificou as formas de contato com a comunidade, optando pelo Facebook e o Youtube para transmissão dos cultos, mesmo embora com as dificuldades de conexão por estarem em uma cidade pequena. “São ferramentas muito úteis, consegui nesse período de distanciamento um grande número de pessoas, que eu não alcançaria pessoalmente”. Que é a mesma realidade a qual Abdul Ahmad notou, que diz que essas ferramentas se tornaram indispensáveis, pois mesmo com o futuro cada vez mais próximo de um novo ‘normal’, os encontros online não irão desaparecer.
Volta das atividades
Mesmo com a flexibilização das atividades, o cuidado para evitar possíveis aglomerações ainda precisa e vai continuar por muito tempo. Os centros já estão abertos, mas continuam seguindo as normas para preservação dos indivíduos buscando atentar ao fato de que estar presente em um centro religioso, não é a única forma de manter sua fé. No Ilê de Rychelmy, as festividades foram restringidas somente aos filhos de santo. “A roça não pode parar, não podemos abandonar. Estamos mantendo nosso calendário de forma interna.”
Já o Pastor e o Sheikh concordam a respeito de que a religião não é algo que acontece somente nos centros religiosos, é algo que está presente na rotina. “O que não dá para fazer em conjunto, falamos para as pessoas aplicarem os ensinamentos em casa, com a família e os filhos até podermos abrir a mesquita normalmente.” explica Abdul alertando ao fato de que aqueles que precisem de algum auxílio, utilizar canais de comunicação tais como e-mail, telefone. Além dos encontros online, tanto a mesquita e a Igreja retornaram com suas atividades presenciais, porém com a cautela que os tempos pedem.
Porém, nem tudo pode continuar como era antes, cursos, como exemplo o curso de Bíblia que a Igreja que é comandada por Padre Jessé, ainda não tem confiança de uma volta física. “Não podemos abrir agora, somente quando estivermos bastantes seguros. Temos que ter sabedoria.” O curso está com volta prevista somente em março a depender do avanço da pandemia.