Baixo estoque de leite é uma realidade enfrentada pela Maternidade Climério de Oliveira
Segundo a Rede Global de Bancos de Leite Humano, a amamentação nos seis primeiros meses de vida ajuda a salvar mais de seis milhões de bebês em todo o mundo
Por: Ruan Amorim
O leite materno é considerado um alimento essencial para os recém-nascidos por auxiliar no combate à mortalidade infantil e trazer diversos benefícios para a saúde dos pequeninos. Segundo a Rede Global de Bancos de Leite Humano, a amamentação nos seis primeiros meses de vida ajuda a salvar, por ano, mais de seis milhões de bebês em todo o mundo. Apesar de ser um recurso importante, o leite humano segue em falta em entidades que colaboram com as pessoas que engravidam e que não podem amamentar por algum motivo.
Esse é o caso do Banco de Leite Humano (BLH) da Maternidade Climério de Oliveira (MCO-UFBA/Ebserh). No mês passado, quando se comemora o Dia Nacional e Mundial de Doação do Leite Humano, o BLH estava com baixo estoque de leite para alimentação dos bebês internados na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal. A Instituição contava com apenas 50 litros de leite humano, quando o ideal seriam 120 litros no estoque para atender à demanda.
Qualquer gota faz diferença
O cenário enfrentado pela MCO não é exclusivo. Na Bahia, muitas maternidades lidam com a falta de leite materno. Um exemplo é o banco de leite do Hospital Esaú Matos, em Vitória da Conquista, que no mês passado se encontrava com metade do estoque necessário para amamentar os bebês. Nesse contexto, a médica neonatologista da MCO, Alena Jardim, explica a importância de doar e qual o efeito do gesto na vida dos recém nascidos.
“O leite materno é considerado o padrão ouro da alimentação infantil, pois ele contribui com a saúde do bebê, crescimento e desenvolvimento mais saudável e vai ter repercussão para toda vida da criança. Além disso, o leite materno previne doenças como diabetes, pressão alta, alergia e, no bebê prematuro, os benefícios são ainda maiores, uma vez que ajuda a proteger a criança de eventuais problemas por causa da prematuridade e reduz o risco de morte”, esclarece Jardim.
A técnica de enfermagem Michele Souza, 31, que teve um parto prematuro em abril e precisou fazer uso do banco de leite da MCO para amamentar o filho, ressalta que qualquer doação tem grande impacto na vida do recém nascido e de sua família. “Não importa a quantidade que as pessoas possam doar, e sim a doação. Qualquer gota é importante. O leite humano é muito importante para o desenvolvimento da criança e a doação é um gesto de amor, pois as pessoas estão fazendo isso em prol do próximo. Nada paga esse gesto e seus efeitos na vida de muitas famílias”, valoriza Souza.
A técnica de enfermagem também conta que, além de ser um espaço para doação, os lactários são usados para estimular a produção de leite das mães que estão com dificuldades de amamentar, o que era o seu caso na época que teve o bebê. Por isso, ela começou a ordenhar na expectativa que o leite fosse para o seu filho que estava internado na UTI, mas descobriu que era direcionado também para as demais crianças que precisavam da assistência do banco de leite.
“Quando me apresentaram o banco de leite, eu o busquei com o intuito de estimular minha produção láctea, uma vez que mães de bebês prematuros não estão com os seios amadurecidos para produzir uma quantidade de leite suficiente para o bebê. Então, comecei a ordenhar a pouca quantidade que tinha como forma de incentivar uma maior produção. Nesse processo, descobri que doava para outras crianças além do meu filho e fiquei muito feliz em saber que estava ajudando os bebês assim como o meu pequeno estava sendo ajudado à noite, momento em que eu não estava presente para ordenhar para ele na maternidade”, conta Michele.
Como doar?
Contribuir com os recém nascidos que precisam da doação não é muito difícil. Para ser doadora é preciso estar saudável e produzir leite além do necessário para seu bebê. Isso é o que explica Jardim. “Para doar, a mamãe pode entrar em contato com o banco de leite por telefone, preencher um cadastro simples e enviar os exames mais recentes do pré natal. Depois disso, colaboradores do banco de leite juntamente com o corpo de bombeiro vão até a casa da doadora para fornecer o frasco da coleta e orientar como deve ser feito o armazenamento do leite. O recolhimento da doação também é feito pelo corpo de bombeiro na casa da doadora, ou seja, não é preciso sair de casa para doar”, esclarece a médica neonatologista.
Com facilidade de doar sem sair de casa, a farmacêutica Núbia Paiva faz três doações por semana. Foi percebendo a necessidade de pacientes das UTI neonatais que ela resolveu ser doadora. “É o alimento mais completo para todo bebê. É muito importante por ser completo, uma vez que tem vitaminas e anticorpos na sua composição. Por isso, é muito importante a doação. Não tenho dúvidas do impacto positivo que ela tem”, diz Paiva.