O Rato no Muro: Espetáculo de Hilda Hilst estréia dia 07 de dezembro em Salvador

Encenado pela turma de formatura da Escola de Teatro da UFBA, a peça escrita durante a ditadura militar, traz um mergulho profundo na condição humana

 

 

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Foto: Divulgação

 

Qual é o seu medo? Qual é a sua culpa? É debatendo os medos, culpas e muros físicos, simbólicos e subjetivos, que o espetáculo O Rato no Muro, da dramaturga Hilda Hilst, chega ao Teatro Martim Gonçalves, nesta quinta-feira, 7, às 19h. Estrelado pela turma de formatura em Interpretação Teatral 2023.2, da Escola de Teatro da UFBA, a temporada, que vai até o dia 17 de dezembro, é gratuita, e promete tocar a alma e consciência do público, ao falar sobre a liberdade de ser e estar na vida, assim como de padrões que limitam as expressões e o desejo de pulsar diariamente. 

A partir das inquietações e das demandas dos estudantes, especialmente do desejo de falar sobre tragédias cotidianas e de dar protagonismo a uma mulher dramaturga, surgiu a escolha do texto. Escrita por uma mulher e com todas as personagens femininas, a peça é dirigida por  Meran Vargens, Elaine Cardim e Vica Hamed. “Para as mulheres, por exemplo, há séculos são estabelecidos medos para galgar a sociedade capitalista e o patriarcado, e é importante ver o medo como uma estratégia”, diz a diretora Elaine Cardim. 

Mais do que do pensamento artístico, a montagem que está para além do campo intelectual e passa pelo subjetivo, tem como prioridade a formação do elenco composto por Ana Paula Borges, Ceia Correia, Lana Sacramento, Lívia Maria, Marina Torres, Nina Andrade, Rafael Britto, Renata Benigno e Victor Hugo Carvalho. A perspectiva pedagógica, de desenvolvimento intelectual, emocional, psíquico e de alma de cada um desses e dessas estudantes é o norte que orienta o projeto. 

 

“É um privilégio como artista, mulher e aprendiz fazer parte do elenco de um espetáculo que descortina violências e silenciamentos que perpassam a identidade das mulheres”, conta Ana Paula Borges, atriz de O Rato no Muro. 

Em um texto carregado por metáforas e que leva a um mergulho profundo na condição humana, a equipe  traz uma linguagem poética ampla e escolheu construir o trabalho com o texto pela intuição e instinto. Inicialmente, conectando a arte ao corpo e a alma, para ganhar intimidade com os pensamentos e as palavras da autora. Escrito em 1967, em um período de opressão, censura e desvalorização da arte.

 O ator Rafael Britto destaca que o momento em que a Hilda Hilst escreve o texto é de um marco histórico muito importante, um processo ditatorial que não permite o meio termo, a diversidade, a diferença. 

“Ela [Hilda Hilst] nos motiva a pensar nas repressões cotidianas , nos silenciamentos que nos impedem de falar sobre ser uma pessoa soropositiva, homem gay, afroindígena, como eu sou. Construir o espetáculo me permitiu rememorar alguns medos e perceber o quanto eles me limitaram e me impediram de ser quem desejava. Foi doloroso, mas também me proporcionou perceber um outro cara, quem sou hoje, o quanto que sou vencedor por ter me livrado dessa culpabilização e medos”, ressalta Rafael. 

Quem incute o medo que existe em nós? Quem edifica o medo e a culpa?, questiona a diretora geral Meran Vargens, que acredita que é preciso dar atenção ao que mobiliza o medo e a culpa. “Existe alguém, em um plano de poder e interesses evidentes, que tem objetivo de trucidar aquilo que emana da vida, do que é viver e expressar, que se propõe a atiçar aquilo que não é vida e que se opõe ao brilho da existência”, completa Meran.

Os espectadores podem aguardar palavras como verdadeiros portais, interações se revelando a partir do campo magnético, do vínculo sincero e efetivo, e ver a arte agir no imaginário e potencializar lembranças, dores, angústias e, em contrapartida permitir o alcance de cosmovisões múltiplas. Tudo isso agregado a iluminação de Otávio Correia, que traz sombras, se soma a cenografia digital de Marcus Lobo, e revela em sincronia com projeções em uma caixa preta –  que faz alusão aos muros que encontramos não só no convento que existe na história de Hilda, mas em outros ambientes sociais e existentes atualmente -, a criação das atmosferas e espaços do espetáculo. 

Com figurino e maquiagem de Thiago Romero, que pretende evidenciar as diferenças ao mesmo tempo que traz a unicidade e demonstra que todas as personagens são uma só, será possível ver uniformes que expõem o hábito, o padrão e retiram as identidades das personagens, as irmãs que não têm sequer nome. O público ainda será surpreendido com um forte trabalho de vocalização, em uma aura sonora fortalecida por Luciano Bahia, que assina a direção musical e a trilha sonora junto as composições de Vica Hamed, uma das três diretoras que trabalham com voz e constroem com a equipe o forte recorte musical presente no trabalho.

SERVIÇO 

O QUE? espetáculo “O Rato no Muro” da dramaturga Hilda Hilst

ONDE? Teatro Martim Gonçalves (Av. Araújo Pinho, 292 – Canela, Salvador – BA)

QUANDO? 07 a 17 de dezembro de 2023 (quinta a domingo)

QUANTO? Gratuito

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