Olhos da Rua: intervenção artística em diálogo com a cidade
*Por Virgínia Andrade
O público de Salvador pôde assistir, na última terça-feira, 27 de agosto, à 23ª edição da projeção fotográfica “Olhos da Rua”. Em sua terceira temporada, o projeto manteve nesta última edição contornos e dinâmicas próprios da sua identidade – que desde a sua concepção existe como um lugar de partilha de belas imagens e troca de experiências. De acordo com Carlos Lopes, gestor de projetos do Labfoto/UFBA – uma das instâncias organizadoras do evento -, “o Olhos segue de modo inclusivo, unindo e projetando trabalhos de fotógrafos consagrados e, ao mesmo tempo, viabilizando a participação de amadores e até iniciantes. Tudo isso sem dispensar os critérios de qualidade que deve ser sempre a marca nos trabalhos de curadoria”.
Destacada em relação às edições anteriores, a mostra de número 23 bateu recorde de público, com mais de cem pessoas presentes no evento, entre convidados, fotógrafos, moradores e interessados. Neste retorno ao bar e restaurante Platô, depois de uma temporada no Bar do Gino, na Cidade Baixa ao lado do Elevador Lacerda, registrou-se também o aumento do número de inscritos, que foi semelhante ao do ano de lançamento do projeto, em 2011. Das cerca de 400 imagens enviadas por 48 candidatos, a curadoria, composta pelo pernambucano Márcio Lima e pelo paulista Paulo Munhoz, ambos radicados na Bahia, selecionou um total de 215 para a projeção.
O “Olhos da Rua” foi idealizado e produzido por José Mamede, coordenador do Labfoto, da Faculdade de Comunicação da UFBA, em parceria com Marcelo Reis, diretor do Instituto Casa da Photografia, os fotógrafos locais Elcio Carriço e Alex de Oliveira, além da TAZ (Tuesday Autonomous Zone) – na época responsável pela ambientação sonora dos espaços de acordo com a sequência fotográfica da noite. “A gente queria que essas imagens fossem projetadas na rua para que todo mundo visse, não só nós, fotógrafos, e os nossos colegas”, revela Mamede. Aberto à participação de fotógrafos amadores e profissionais, o projeto já contou com a participação de fotógrafos brasileiros de expressão nacional e internacional, além dos estrangeiros.
Em diálogo com o mundo Desde a sua primeira edição, em fevereiro de 2011, o projeto, que se propõe a utilizar o cenário urbano como ambiente para mostras fotográficas, ocorre tradicionalmente na última terça-feira do mês, sempre a partir das 20h. O evento, antes mensal e agora bimestral, instalou-se inicialmente no Bar Ulisses, localizado na rua direita do Santo Antônio, centro histórico de Salvador e permaneceu lá por 11 edições, passando também pelo Sebo Praia dos Livros, no Porto da Barra. Segundo Rodrigo Rossoni, vice-coordenador do Labfoto, a ideia inicial “era rodar na cidade, ser itinerante”. Esse movimento, entretanto, só começou a se tornar frequente em 2012. A mudança para o Bar Platô, no tradicional bairro do Chame-Chame, é a que marca a continuação do ciclo.
“Olhos da Rua” é uma cria do Labfoto que tem crescido e se transformado dentro dessas novas dinâmicas e perspectivas. A partir do ano passado, no lugar de convidarem fotógrafos para se apresentarem entre os outros trabalhos que eram submetidos, a organização passou a criar um espaço só para os convidados, que é o espaço anterior à projeção geral. “É uma reformatação”, explica Mamede. Além disso, a produção de outros trabalhos junto ao ‘Olhos da Rua’ surgiu como uma vontade de tornar o caráter do projeto mais dinâmico. Em três anos do projeto, já foram realizadas 23 edições e exibidas mais de 10 mil imagens de mais de 300 fotógrafos, muitos deles com trabalhos selecionados em várias projeções.
As dinâmicas do projeto, associadas à forma de participação e aos espaços de veiculação escolhidos para cada exibição facilitam o entrosamento entre fotógrafos e público apreciador, além de fortalecer a ideia de democratização da fotografia e educação do olhar. “É um projeto que se insere dentro dessa perspectiva de selecionar imagens que a gente considera boas para que as pessoas tenham acesso a essas imagens e não fiquem só com aquelas referências do dia a dia de revistas, jornais ou das suas próprias fotografias familiares e pessoais”, acentua Mamede.
Entre os 40 fotógrafos que tiveram trabalhos selecionados para a projeção, os nomes mais citados são os dos brasileiros Walter Firmo, primeiro fotógrafo brasileiro a expor no MAM/RJ e vencedor, por oito vezes, do Prêmio Internacional de Fotografia Nikon, Zeca Araújo e Ratão Diniz. Dentre os baianos, já foram projetadas imagens de Rafael Martins, Rodrigo Fiusa Wanderley, Xando Pereira e Aristides Alves, com estreia de Arthur Lopes e Ana Maiato. O “Olhos da Rua” também exibiu trabalhos de Hans Georg, organizador do “Foto Escambo” – um dos principais projetos de troca de imagens fotográficas do Brasil -, Vitor Schietti, que apresenta um trabalho fotográfico com qualidade fine art, Fernanda Chemale, Leonardo Costa Braga e Meredith Andrews, artista sueca que tem o trabalho voltado para a fotografia contemporânea.