“Extensão, a bola da vez”: segundo encontro discute ACCS
*Por Virgínia Andrade
Após o Conselho Superior de Ensino, Pesquisa e Extensão da Universidade Federal da Bahia (UFBA) aprovar, no início deste ano, a Resolução N° 01/2013, a Ação Curricular em Comunidade (ACCS) foi regulamentada como requisito obrigatório nos currículos dos Cursos de Graduação e Pós Graduação da UFBA, considerando, no caso dos primeiros, que o prazo máximo para incorporação dos novos componentes curriculares em seus projetos pedagógicos é de cinco anos.
A fim de fomentar as ações de extensão por meio da interação do corpo discente das graduações com a comunidade extrauniversitária, contribuindo para a formação dos estudantes, a Pró-Reitoria de Extensão pôs em debate, no segundo encontro do seminário “Extensão: a bola da vez”, as oportunidades e desafios do Programa ACCS. Realizado na última terça-feira, 3 de agosto, na Sala de Videoconferência do PAF III, o evento foi mediado pelo Coordenador de Formação e Integralização Curricular de Extensão (PROEXT/UFBA), Adriano Sampaio, e recebeu como convidados o Diretor da Faculdade de Educação (FACED), Cleverson Suzart Silva, e o Vice-diretor do Instituto de Biologia (IBIO), Miguel da Costa Accioly, ambos coordenadores de ACCS na Universidade.
Universidade e sociedade, um trabalho de parceria Com o foco voltado para o desenvolvimento da extensão universitária, Adriano Sampaio abriu o segundo dos cinco encontros previstos destacando a importância da ACCS enquanto possibilidade de a universidade aproximar-se da sociedade e viabilizar o atendimento de suas principais demandas, com ênfase na construção em conjunto de uma relação mútua entre universidade e comunidade e na utilização da Ação Curricular em Comunidade como ferramenta para suprir demandas não abarcadas pelos editais, vinculados a áreas de interesse da UFBA. Sem deixar de enfatizar os projetos que atualmente vêm sendo desenvolvidos pela PROEXT, Adriano ressaltou os desafios de vigorar os próximos, como os editais de 2014, bem como o lançamento das ACCS de inovação Propci/Proext.
Coordenador da ACCS “Mapeamento Biorregional”, Miguel Accioly acredita que, apesar das dificuldades, o desenvolvimento de projetos de extensão é uma grande oportunidade de vivência estudantil dentro da Universidade e incide de maneira decisivamente positiva na formação dos estudantes, que, segundo ele, “despertam outro olhar sobre a própria profissão, independente do mapeamento”. Desenvolvido em pequenas comunidades das regiões do Baixo Sul da Bahia e do Recôncavo Baiano, o projeto, que a cada semestre dedica-se a explorar a dinâmica de determinada comunidade, é aberto a participação de graduandos de todas as áreas, principalmente Oceanografia e Geografia, e se propõe estudar a relação homem-natureza a partir do reconhecimento de pontos importantes para a pesca tradicional.
Para Accioly, embora as ACCS sejam projetos em crescimento que tendem a expandir seu espectro de ação e influência, limitações ainda precisam ser superadas, como a desvalorização da extensão em relação à pesquisa. Entre os desafios mais latentes estão a formação de docentes para atuar em extensão, a preparação ainda deficitária dos estudantes extensionistas, a limitação do tempo de execução do projeto e do valor designado para as intervenções na comunidade, além da necessidade de o projeto estar em sincronia com o semestre letivo. Em contraponto a este quadro, é marcante o aumento do interesse e do fomento nas áreas de extensão e tem crescido a disposição à interdisciplinaridade e à interinstitucionalidade, embora os meios de fazê-lo ainda não estejam devidamente formatados.
Consonante com o vice-diretor do IBIO, Cleverson Suzart destaca a contradição que há, em relação ao próprio discurso da universidade, em localizar a extensão em posição inferior à pesquisa e reforça a reflexão acerca do papel da instituição enquanto promotora da formação. “A universidade não pode se furtar do papel de dar um retorno à comunidade, atendendo às suas demandas e especificidades”. Ao levantar questões sobre a natureza da Ação Curricular em Comunidade e discorrer sobre sua própria experiência enquanto coordenador de ACCS, Suzart pôs em debate as três tensões geradas pelo modelo clássico de universidade imposto e questionou até que ponto os projetos extensionistas são, de fato, um retorno social. “Esse modelo precisa ser repensado dentro do nosso padrão de Universidade”.
A primeira das tensões discutidas pelo diretor da FACED diz respeito à relação tempo-espaço-lugar da universidade levando à comunidade seu projeto pronto, fechado, e ao sentimento das comunidades em relação a esses trabalhos que, longe de serem pensados com elas, são construídos a partir de uma perspectiva unilateral, chamada por Cleverson de “postura iluminista”. A tensão de número dois faz referência à ausência de continuidade das intervenções acadêmico-sociais nas comunidades e à retirada da universidade do espaço após a execução do seu projeto, sem que seja estabelecido qualquer contato posterior com a comunidade. Por fim, a última tensão gerada pelo modelo de universidade instituído coloca em discussão a possibilidade de as comunidades demandarem e a universidade se disponibilizar a atender essas demandas.
Para Suzart, na busca por uma universidade socialmente referenciada, precisa-se estabelecer outra lógica dentro dos projetos de extensão. “É fundamental entender que o conhecimento produzido é importante, mas não o único. E entender ainda que existem outros tempos-espaços-lugares e realidades para além da Academia”. O professor observou ainda que para o projeto de extensão ser eficaz é fundamental “estabelecer de fato uma convivência, formar relação orgânicas com a comunidade, que permitam a criação de um ou uma infinidade de projetos que respondam às demandas desse próprio ambiente”.
Diálogo entre pesquisa e extensão Presente no encontro, Blandina Viana, Pró-reitora de Extensão Universitária, aproveitou a circunstância para reforçar a importância do princípio de indissociabilidade entre pesquisa e extensão, e a necessidade de democratizar o conhecimento produzido através de publicações ou projetos de extensão, compartilhando-o tanto com os pares quanto com a comunidade. A ideia é que os projetos apontem não apenas suas finalidades acadêmicas como também as metas para o desenvolvimento da extensão universitária, na sua articulação com o ensino e a pesquisa. Nesta perspectiva, Blandina pontuou a importância de dialogar com a sociedade através da extensão, sem substituir o papel do Estado ou de quaisquer outras esferas políticas e sociais. “Nosso grande ganho é formar profissionais cidadãos”, finaliza.