Medos guardados e monstros libertos em exposição no MAS
O artista Carlos Reis realiza exposição “Monstros Libertos” como parte de seu trabalho de conclusão de curso na EBA-UFBA
*Por Debora Rezende e Gustavo Salgado
Desenvolvido como Trabalho de Conclusão de Curso do artista Carlos Henrique Reis, 25, “Monstros Libertos” é a maneira encontrada por ele, graduando em Artes Plásticas pela Escola de Belas Artes da UFBA, para externalizar medos, pavores e tensões do ser humano. “A exposição é fruto de sentimentos que sempre tive, sentimentos compartilhados, transformando estresses em seres comuns a várias culturas”, explica Reis. A exposição foi aberta na terça-feira, 04 de fevereiro, no Museu de Arte Sacra da UFBA (MAS), e fica aberta a visitação até o dia 18 de fevereiro. A entrada é gratuita e o horário de visitação vai das 15h às 17h.
Caminho: purgatório e paraíso Ir até o Museu de Arte Sacra não é tarefa fácil: é preciso ter fôlego, preparo físico e vontade de se chegar ao espaço – principalmente se o visitante estiver a pé. A falta de informação indicativa sobre sua localização, a ladeira que lhe dá acesso e a pouca divulgação a sinalizar a existência do Museu contribuem para a baixa frequência por parte da população soteropolitana. De fato, a maior parcela dos frequentadores do MAS é composta por viajantes, visto que o espaço está no circuito turístico da cidade. “O Museu de Arte Sacra não é muito valorizado por nós, soteropolitanos”, ratifica Etiennette Bosetto, 25 anos, museóloga.
Chegando-se ao espaço do museu, o esforço é primeiramente recompensado pela vista da Baía de Todos os Santos. O ambiente tranquilo, rodeado por árvores antigas e grama, é famoso por ser procurado para a realização de eventos como casamentos e desfiles de moda. Em uma das salas à esquerda da portaria do museu, e com acesso ao pátio interno do casarão, a exposição “Monstros Libertos” convida o público a compartilhar suas fobias e tensões representadas nos dez painéis da mostra de Carlos Reis.
O texto de apresentação da mostra, assinado por João Dannemann, professor da Escola de Belas Artes da UFBA, ressalta a oposição céu-inferno, o contraste ente o sagrado e o profano. Essa oposição é verificada na relação estabelecida entre o tema da exposição de Carlos Reis e o espaço no qual ela é realizada. Os painéis sinistros foram recebidos em um espaço expositivo inserido em um contexto religioso da Igreja Católica. Questionado sobre as possíveis dificuldades encontradas para a realização da mostra no MAS, espaço marcado pela ligação com a arte sagrada, Reis simplesmente respondeu que estava “surpreso por terem aceitado”.
Caminhar sobre o piso de assoalho antigo da sala de exposição e ouvir o ranger das tábuas ajuda a construir a atmosfera mística da mostra. Sonoplastia que parece dar voz aos medos representados nos painéis. “Nas obras há uma autoexpressividade do artista, que desenha, ao pé da letra, a questão dos monstros”, avalia Adriel Figueiredo, 25 anos, artista plástico e também graduado pela Escola de Belas Artes da UFBA. “Impossível não ficar horrorizado”, ressalta.
Não tão longe dali, ladeira acima, no circuito turístico de museus e espaços culturais, outra exposição é realizada. Na Galeria Caixa Cultural, a exposição “Dalí: A Divina Comédia” vem sendo um sucesso de público desde 17 de dezembro de 2013, quando foi inaugurada.
A equipe da Agenda também visitou a exposição de Dalí, que traz 100 gravuras encomendadas ao pintor pelo Governo Italiano para ilustrar a obra A Divina Comédia, de Dante Alighieri, e percebeu uma conexão entre a temática das duas mostras. As duas exposições – A Divina Comédia e Monstros Libertos – trazem no acervo imagens que sensibilizam o imaginário coletivo, acerca das concepções ocidentais de pavor e medo. São imagens que brincam com os medos velados da sociedade moderna.