Cinquenta anos após Golpe Militar, Escola de Teatro lembra peça que nunca foi encenada
Não há dúvidas de que a censura imposta pela ditadura militar impulsionou a criação na Música Popular Brasileira. Artistas como Chico Buarque, Milton Nascimento e mesmo roqueiros dos anos 80 viveram o seu auge criativo antes da redemocratização do país. Mas, e no teatro, até que ponto a falta de liberdade de expressão influenciou a qualidade da nossa dramaturgia?
Cinquenta anos depois do golpe militar, o evento “Abril pela memória, verdade e justiça reuniu na Escola de Teatro da Ufba, na sexta-feira, 25, um grupo de convidados para discutir, entre outras coisas, a dramaturgia nacional ao longo das últimas décadas. E deixou claro um certo desencanto, por parte de alguns presentes, com os rumos que a linguagem teatral tomou em tempos democráticos.
“Quando acabou a censura, o teatro brasileiro desceu a ladeira”, disse Raimundo Matos, professor do programa de Pós Graduação em Artes Cênicas da UFBA, para quem se criou a ideia de que é necessário ter sempre um inimigo para combater, o que, segundo ele, limita muito a criatividade, principalmente em regimes políticos onde se tem maior liberdade para produzir. “Fazer arte naquela época era uma forma de substituir a luta armada”, afirmou.
No início do encontro, os presentes puderam acompanhar o Grupo Ato interpretando um trecho da peça “Aventuras e desventuras de um estudante”, escrita pelo publicitário Carlos Sarno em 1966, quando ainda era aluno secundarista do Colégio Central. Na época, o espetáculo foi proibido de ser encenado por diversas vezes, tanto no próprio Colégio Central, como na Residência da UFBA e no Mosteiro São Bento, o que gerou grande mobilização dos estudantes curiosos pela apresentação. “Aventuras e desventuras de um estudante” foi sucesso de público mesmo com o espetáculo nunca acontecendo efetivamente.
O evento “Abril pela memória, verdade e justiça” foi organizado pelo Diretório Acadêmico do curso de Teatro e contou também com as participações de Dulce Aquino, pró-reitora de assistência estudantil, e Sônia Rangel, professora do programa de Pós Graduação em Artes Cênicas. As duas foram alunas da UFBA durante o Regime Militar e lembraram histórias vividas na época, como a efervescente produção cultural, a força do movimento estudantil, além dos encontros na Aldeia Hippie de Arembepe, praia 30 km ao norte de Salvador, onde em uma das reuniões, os estudantes dividiram o espaço com a cantora norte-americana Janis Joplin, a “rainha do Rock and Roll”.