Plumas e paetês fora da caixa
Bonecas fora da caixa colorem o vão livre do TCA em projeto do Labfoto
Por João Bertonie
Elas vieram com plumas, salto alto e muita maquiagem. Algumas tinham verdadeiras asas em seus vestidos chamativos, outras preferiam as fantasias com tons mais sóbrios, como as de policial ou de Mulher-Gato. Independente da quantidade de cores em suas roupas, todas tiveram seu momento diante das câmeras. Tratava-se do Boneca Sai da Caixa, projeto do Laboratório de Fotografia da Faculdade de Comunicação da Ufba (Labfoto/Facom), que recebeu os participantes mais fantasiados da avenida, na 13ª Parada Gay da cidade, para posarem como modelos no estúdio fotográfico móvel. A oitava edição do evento ocorreu em setembro, no dia 21, no vão livre do Teatro Castro Alves.
O critério para escolher as modelos era só um: aquelas que estivessem bem montadas e com fantasias elaboradas, por isso são chamadas de bonecas. Entre as fotografadas, havia quem se denominasse drag, crossdresser, ator transformista ou simplesmente travesti. Já Bia Mathieu, que desfilava como uma águia da Portela, com fitinhas azuis e brancas do Senhor do Bonfim, sobre um salto altíssimo, escolheu não ater-se à etiqueta nenhuma. Disse que isso a limitaria enquanto pessoa e artista. Bia preferia falar sobre os motivos que a levaram a maquiar-se e usar seus brincos prateados: “Eu queria ser cantora, mas minha voz é o ó. Descobri que eu poderia dublar as músicas e brilhar mesmo assim”.
Os responsáveis por descobrir as bonecas na multidão e trazê-las para o estúdio no vão do TCA eram a equipe da Produtora Júnior – empresa júnior de comunicação da Facom -, que desde 2009 faz essa parceria com o Labfoto. “Nós somos os caçadores e receptores das drags. Nós as encontramos, chamamos e fazemos uma ficha com as informações delas”, explica Krystal Baqueiro, diretora de relações comerciais da Produtora Júnior.
Faz sentido que o professor José Mamede, que criou o projeto em 2007 e hoje o coordena, receba essa ajuda dos meninos da Produtora: durante a Parada, o Campo Grande vira uma confusão quase intransitável de cores e pessoas. Mamede afirma que o objetivo do projeto é combater a intolerância a esta parte da sociedade, dando a estas pessoas algo que ele chama de “orgulho fotográfico”. “A luta contra o preconceito se dá muito mais no território da cultura do que nos gabinetes e escritórios dos políticos. A nossa arma é a fotografia e a fotografia dá orgulho a elas”, defende Mamede.
O Boneca Sai da Caixa é o único trabalho do Labfoto em que toda a equipe participa. É o projeto que Lucas Seixas, um dos fotógrafos, mais gosta de fazer parte. “É uma questão social muito forte. Toda a equipe trabalha junto e a gente tenta, principalmente, combater a homofobia.”
O projeto acontece todo ano na ocasião da Parada do Orgulho Gay de Salvador, sempre em setembro.
Confira o ensaio completo na página do facebook do Labfoto.