O Absurdo em Fando e Lis
Por Milena Abreu
A peça Fando e Lis, dirigida por Romeran Ribeiro, é uma adaptação do texto de Fernando Arrabal, o dramaturgo vivo mais encenado no mundo. A obra se encaixa na corrente artística do teatro do absurdo, caracterizada pelo tratamento inusitado de aspectos inesperados da vida humana. O que se apresenta na história através de suas personagens, que lidam com conflitos humanos da vida adulta, assumindo atitudes infantis, refletidas em seus comportamentos imaturos e exagerados. Na peça, cujo texto foi escrito na década de 50, são abordadas diversas temáticas ainda muito comuns na sociedade atual.
Os personagens, assim como as crianças em geral, são temperamentais e oscilam constantemente seu humor. O casal principal da encenação é que dá mais destaque para esse aspecto. Variam sua postura de acordo com os problemas que vivenciam, os quais envolvem a violência contra a mulher e a falta de comunicação entre eles, que mudam rapidamente para juras de amor eterno.
A crença de que é preciso chegar em um determinado lugar para ser feliz, lugar este onde todos os problemas irão desaparecer, leva os personagens a uma busca interminável e que apenas traz, cada vez mais, à tona os conflitos que cercam suas relações. Por mais que andem em direção ao lugar da felicidade, o movimento é sempre em círculo, assim como os seus sentimentos, mostrando-os a fragilidade de suas emoções. Chegando sempre ao mesmo lugar, os conflitos que marcam a relação entre o casal tornam-se cada vez mais intensos e perigosos para o relacionamento.
Segundo Ribeiro, a grande questão da história de Fando e Lis está no questionamento: “Onde se encontra a felicidade? Ela está em algum lugar físico ou estaria dentro de você?”. Para o diretor, a crítica de Arrabal está justamente na questão da busca excessiva pela felicidade, ainda tão presente em nossa sociedade atual. “ Podemos fazer um paralelo com a nossa condição atual, onde somos postos a acreditar que, através do consumo desenfreado, alcançaremos a felicidade”, reflete o diretor.
A trilha sonora ao vivo e a iluminação, juntas, contribuem enormemente para o compartilhamento dos sentimentos dos personagens com a plateia, nos fazendo sentir as variações de humor das personagens. Além disso, a peça faz uma bela mistura do real e do imaginário, com um figurino que parece levar os espectadores para um mundo de fantasias e, também, com características infantis.
A temporada de Fando e Lis encerra na terça-feira, 21. O espetáculo está em cartaz desde o início do mês, no Teatro ICBA, no Corredor da Vitória, pelo preço único de 10 reais e com início às 20h.