Elza no Panorama
Por João Bertonie
Documentário sobre Elza Soares abre X Panorama Coisa de Cinema, no Espaço Itaú de Cinema
Durante o documentário “My Name is Now, Elza Soares” (2014), o termo “mulher negra” é ouvido, ao menos, cinco vezes. Nada melhor para definir esta cantora carioca, que ao longo dos anos tornou-se um símbolo contra o racismo e a situação aterradora na qual grande parte da população negra viveu no Brasil. A exibição do filme marcou a abertura do X Panorama Coisa de Cinema, no Espaço Itaú de Cinema Glauber Rocha, na última quarta-feira, 29. O festival de audiovisual conta com o apoio da Universidade Federal da Bahia. Dentre os presentes, estava a diretora da produção do longa, Elizabete Martins Campos, e a própria Elza Soares.
O filme de Elizabete apresenta uma experiência fortemente sensorial, não se preocupando em contar detalhes sobre a turbulenta vida de Elza, mas em fazer uma espécie de investigação intimista sobre os desejos e os pensamentos da cantora e sambista. Conduzido por significativos números musicais, como suas versões para “Dura na Queda”, de Chico Buarque, e “Volta por Cima”, de Paulo Vanzolini, “My Name is Now” é marcado pela onipresença de Elza Soares. A todo momento, ela é referenciada de forma simbólica ou objetiva, quando o seu rosto não invade a tela, a contar confidências ou dizer frases enigmáticas: “Eu tô vendo tudo, tô sabendo tudo e eu tenho pena de vocês.”
Após a exibição do documentário, foi iniciada uma conversa na qual a diretora e Elza Soares puderam falar um pouco sobre os seis anos que levaram para a realização de “My Name is Now”. “O filme sai dos poros da Elza, sai do estômago dela”, metaforizou Elizabete Martins. A protagonista do documentário comentou sobre as dificuldades pelas quais ela passava na época da produção. Quando a produção rodava o filme, Elza se recuperava de uma cirurgia na coluna, resultado de uma queda violenta, que aconteceu em uma tradicional casa de shows, no Rio de Janeiro, onde a cantora caiu de uma altura aproximada de três metros. “O filme foi feito assim, na raça”, frisou, com sua voz rouca, a cantora.
O público, que lotava a sala 1 do Glauber Rocha, também teve a oportunidade de se manifestar. Emocionadas, muitas pessoas aproveitaram o momento para declarar à Elza sua admiração pela artista. Mais de uma vez, foi comentado sobre sua importância na luta contra o racismo e “outras formas de opressão”. “O filme, para mim, poderia se chamar ‘Dor’”, disse uma espectadora, que não falou seu nome, sobre a intensidade do sofrimento pelo qual passou a cantora, expresso em vários momentos ao longo do documentário.
A exibição do filme marcou a abertura do X Panorama Coisa de Cinema, festival que conta com o apoio do Governo da Bahia e da Petrobras e que acontece no Espaço Itaú de Cinema, no Espaço Xisto e no Centro de Artes, Humanidades e Letras, na Universidade Federal do Recôncavo Baiano (Cahl/UFRB). O Panorama vai até a próxima quarta-feira, 5.