A Saladearte sobrevive?

Por Michelle Oliveira

Localizado no Pavilhão de Aulas do Canela (PAC), ao lado das faculdades de Educação e Administração, o café da Saladearte Cinema da Ufba funciona como local de descanso para os alunos da universidade. O fluxo de pessoas é tranquilo e não demonstra a crise pela qual o Circuito vem passando. No início deste ano, Marcelo Sá, gestor do projeto, anunciou o fim do patrocínio que era dado a sala do Shopping Paseo e declarou que se novos patrocinadores não surgirem em três meses, o circuito, que já teve oito salas, deve ser ainda mais reduzido, correndo o risco, inclusive, de ser extinto.

Sá destaca que o público da Saladearte é relevante, mas precisava ser maior para manter o projeto. “Precisávamos do dobro do que temos hoje. Dividimos o lucro dos ingressos com distribuidoras, custos de funcionamento e funcionários. Não nos mantemos com a bilheteria”, afirma. Desse modo, os esforços do gestor estão concentrados no encontro de patrocinadores. Ele contou que algumas marcas já demonstraram interesse em ajudar e estão principalmente interessadas na sala da Ufba.

Apesar de ser aberto ao público externo, o empresário Marcelo Sá garante que os frequentadores pertencentes à Ufba, entre alunos, professores e funcionários, também são muitos. Paulo Igor, 25, estudante de fisioterapia, afirma que foi à sala apenas duas vezes. Diego Perez, 37, colombiano e doutorando em ensino de ciências, é frequentador assíduo. “São exibidos vários filmes e o preço é acessível”, comenta.

Para a comunidade da universidade são cobrados quatro reais no primeiro horário de sessão e sete nas demais, mediante apresentação de documento que comprove o vínculo com a Ufba, como comprovante de matrícula ou carteira de trabalho.

MOBILIZAÇÃO

Um movimento chamado “S.O.S Sala de Arte” foi criado na internet por frequentadores a favor da manutenção do Circuito. “Como todas as pessoas interessadas em qualidade e acesso à cultura em Salvador, nos sensibilizamos e criamos um grupo de discussão no Facebook”, conta André Sant’Ana, um dos administradores da página na rede social, que reúne mais curtidores que a página oficial do Circuito Saladearte.

Cláudia Queirós, 46, é frequentadora assídua do circuito. “Gosto muito do ambiente e do público que frequenta a Saladearte porque a proposta do espaço é voltada para filmes que fogem ao circuito literalmente comercial, possibilitando a reflexão e algum aprendizado”, defende. Cláudia é umas das mais de 9 mil pessoas que curtiram a página do movimento, onde estão reunidos depoimentos de atores, diretores e cineastas, como Zéu Brito, Edgard Navarro e João Miguel.

DIVERSIDADE

A proposta do circuito foi, desde seu início, oferecer diversidade ao público, exibindo filmes de diversos países da América Latina e da Europa, mas sempre dando ênfase ao cinema nacional. Nos últimos quatro meses, entretanto, a programação da sala da Ufba esteve concentrada no cenário internacional. “Através de um prêmio da Ancine, que visa o incentivo à atualização dos circuitos de cinema, no ano passado, trocamos as cadeiras e compramos um projetor de última geração, DCP, que é fechado e aceita apenas filmes nesse formato, o que nos limita quanto ao cenário nacional”, explica Marcelo Sá. As outras salas, como a Sala do Museu, continuam a exibir filmes nacionais.

Para Adalberto Meirelles, crítico de cinema, o Circuito Saladearte é importante para que o público tenha acesso a filmes diversificados e que estejam fora do circuito comercial. Meirelles acredita que a produção audiovisual baiana, por exemplo, tem crescido, principalmente com o surgimento de diversos cursos universitários, como o da própria Ufba, mas a aceitação desses filmes ainda é dificultosa. “É preciso que haja uma ação conjunta entre produtores, cineastas e exibidores para impulsionar o cenário”, comenta. Segundo Sá, a Saladearte está de portas abertas para a produção local, mas é pouco procurada para exibir filmes baianos.

PROJETOS

A sala da Ufba não paga aluguel. O acordo proposto pelo então reitor, Naomar de Almeida Filho, era a troca do espaço por atividades da universidade no cinema. “Oferecemos a sala durante as manhãs para atividades acadêmicas, para que os professores usem a linguagem de cinema como ferramenta de educação”, declara Sá.

Na sala, é realizado mensalmente o Cinemas em Rede, projeto coordenado pela Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP) em parceria com os Ministérios da Cultura (MinC) e Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Também já foram realizados os projetos Cine Educar, Cine Social e Sala de Música. O espaço da sala ainda é utilizado para exposições e lançamentos de livros, no entanto, muitos eventos foram descontinuados por falta de captação de recursos.

O gestor do Circuito destaca que a Sala de Cinema é um espaço democrático, aberto para que a comunidade da Ufba o ocupe. “Espaços como teatros, cinemas, galerias de arte e museus oferecem possibilidade de fazer reflexão, ampliam os horizontes, ampliam a cultura de um povo. Assim, permitem que possamos nos entender melhor e entender melhor o futuro, para que possamos mudar o mundo, colaborar e somar”, afirma.

Fotos: Natácia Guimarães
Espaço do café da Saladearte da Ufba. Foto: Natácia Guimarães

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