A trajetória vitoriosa do esporte feminino na UFBA

 Apesar do pouco tempo de existência, das dificuldades financeiras e estruturais, as equipes de esporte feminino da UFBA apresentam resultados expressivos. 

Por Ana Paula Trindade

Atualmente, a Universidade Federal da Bahia (UFBA) conta com equipes de futsal, basquete, handebol, voleibol, vôlei de praia, natação, tênis, judô, xadrez, atletismo e, a mais recente, rugby. Nos Jogos Universitários Brasileiros de 2015, em Uberlândia, a UFBA ganhou três medalhas, duas de bronze e uma de ouro. Destaque para os times femininos de futsal e basquete que ganharam bronze e ouro, respectivamente.

As equipes esportivas da UFBA surgem por iniciativa dos próprios alunos-atletas. Não é necessário vínculo com nenhum curso específico: basta estar regularmente matriculado na instituição para poder participar das atividades. Os times são de competição e representam a universidade em campeonatos locais, estaduais e nacionais.

A seleção feminina de futsal é a mais antiga. Foi criada, em 2008, por um grupo de meninas que jogavam e organizavam campeonatos internos. “Um dia nos reunimos e nos perguntamos, porque não existe um time de futsal feminino na universidade?”, relata Caroline Almeida (27 anos), estudante de Gestão Pública, ex-capitã e uma das fundadoras do time. Hoje, com 8 anos de existência, o time coleciona títulos como o bicampeonato nos Jogos Universitários da Bahia – JUBA (2014-2015), classificatória para os Jogos Universitários Brasileiros – JUBS, no qual conquistaram o terceiro lugar (3ª divisão) no ano passado.

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Seleção Feminina Futsal UFBA

Outras conquistas 

A equipe de handebol foi criada em 2012. Foi campeão do JUBA no mesmo ano e repetiu o feito em 2013, se consagrando Vice Campeã do JUBS (3ª divisão). Em 2014, a estudante Susana Soares ganhou o título de Melhor Atleta de Handebol Feminino da Bahia, promovido pela Superintendência dos Desportos do Estado da Bahia – SUDESB.

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Handebol feminino da UFBA

As equipes de voleibol e basquete são mais recentes, surgiram em 2014. Amanda De Moraes Matos (24 anos) estudante do 4º semestre de Gastronomia, e capitã do time de basquete tomou a iniciativa de criar a equipe. “Fiquei sabendo do esporte na UFBA através de colegas que são atletas de handebol e futsal e que já jogavam pela universidade. Ao procurar saber do time de basquete feminino, descobri que não existia. Aí decidi falar com o responsável pelo esporte na universidade para a implementação dessa modalidade. O que foi muito bem recebido por eles”, conta.

A treinadora do basquete Juliana Dias Santana (28 anos), uma das poucas treinadoras dos times da universidade, depois de uma carreira vitoriosa dentro das quadras, aceitou o desafio de comandar a equipe. “Nunca treinei outra equipe, aceitei o desafio de liderar a equipe da UFBA em agosto de 2014”, destacou. Em 2015, o time foi destaque do esporte baiano, no troféu Melhores do Esporte da Bahia, promovido pela Superintendência de Desportos do Estado da Bahia (SUDESB). Por conta da excelente campanha, as meninas levaram os prêmios de Melhor Técnica Universitária e Melhor Atleta Universitária, para a capitã Amanda De Moraes Matos, e Melhor Atleta da Liga de Basquete de Cajazeiras recebido por Laís Peixoto.

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Equipe feminina de basquete

Gabriella Nascimento de Menezes (25 anos), estudante do último ano de Fisioterapia, destacou as conquistas da equipe que conta, atualmente, com 14 atletas. “Desde a formação, participamos de dois JUBS e fomos campeãs em 2015, garantindo o acesso pra segunda divisão do campeonato em 2016”, destacou. A equipe representou a Bahia nos Jogos das Universidades Federais – JUFs, alcançando o primeiro lugar. Participou, ainda, de três edições da Copa Alagoas, conquistando o terceiro lugar em uma delas, e da Copa da Independência, em Sergipe, ocupando a segunda colocação.

A dupla do vôlei de praia, Bárbara Pimenta e Bruna Milena, também foi campeã do JUBA e conquistou vaga para os Jogos Universitários Brasileiros de 2015.

Desafios

Todas as atletas entrevistadas apontam a falta de apoio e incentivo financeiro, familiar, midiático e institucional como um dos principais fatores para que o esporte feminino continue sendo menos popular que o masculino: “O preconceito ainda existe e ainda ouvimos pessoas dizendo que isso não é pra menina, que o lugar da mulher não é ali. Não é fácil ser mulher e querer estar em alto rendimento. Vemos jogadores de futebol ganhando milhões e jogadoras tendo que ter outro trabalho, sem condições de treino, sem poder se dedicar exclusivamente ao esporte e ganhando quase nada”, lamenta Gabriella Menezes.

As mulheres têm se destacado nos esportes coletivos e individuais, deixando seus nomes estampados no rol de melhores atletas, a exemplo de Hortência (basquete), Fabiana Murer (salto com vara), Maurren Maggi (atletismo), Daiane dos Santos (ginástica artística), Marta (futebol), Fabi, Sheila, Jaqueline, Paula Pequeno (voleibol) e muitas outras campeãs mundiais, olímpicas, sul e pan-americanas. “Para mim, o importante é que a mulher continue com sua autonomia, fazendo o que quer, praticando o que quiser e sendo levada a sério. O importante, nesta perspectiva, é ter o respeito quando entramos em quadra, assim como é dado a qualquer ser humano que pratica esporte, homens, paratletas, criança, etc.”, defende Amanda Matos.

De agosto de 2014 a dezembro de 2015, o esporte teve o apoio financeiro da universidade, mas em função dos cortes federais na educação o benefício foi suspenso por tempo indeterminado. Fernanda Santos Uzêda (24 anos) estudante de Educação Física do último semestre afirma que o compromisso com as companheiras e o prazer de treinar, competir e a perceptível evolução no esporte é o que a faz permanecer na equipe. “O convívio social também pesa bastante, fiz amizades no time, e abrir mão dele envolve todos esses fatores”, afirmou.

Apesar das dificuldades dentro e fora das quadras, as atletas encontram no esporte uma grande motivação. Doutora em Educação pela UFBA e atleta de futsal, Marcia Morschbacher (30 anos) conta que pratica o esporte há dezoito anos. “A motivação vem do aprendizado, da disciplina, das experiências, além de ser uma forma de aliviar a tensão do dia-a-dia”, afirmou.

Mariana Farias (22 anos), atleta do time de handebol e estudante de Jornalismo do 5º semestre, também considera a prática esportiva como essencial. “A contribuição do esporte em minha vida é infinita, não me vejo nunca, nunca, nunca sem esporte… É como se fosse meu oxigênio”.

Para Amanda Matos o amor ao basquete fala mais alto que as dificuldades enfrentadas. “A maior motivação é o amor a esse esporte que tanto criei afinidade. O basquete faz parte da minha identidade. Motiva também saber que representamos a nossa universidade, que não estamos sozinhas e devemos honrar e dar o nosso melhor sempre”.

Fotos: Arquivo das equipes

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