UFBA 70 anos: Marilena Chauí deixa seu alerta contra universidade operacional e servidão voluntária

A pesquisadora da USP, Marilena Chauí, participou da abertura do Congresso da UFBA, o maior realizado nos 70 anos da instituição

Por Kelven Figueiredo

Cerca de 1.500 pessoas participaram, ontem (14/07), da abertura do Congresso UFBA 70 anos. O evento em celebração ao aniversário da Universidade é o maior já organizado na história da instituição. Foram mais de 14 mil inscritos e 2,2 mil propostas de apresentações de trabalhos que acontecem até o próximo domingo (17/07). O objetivo é discutir a vida universitária, a história da UFBA e os seus desafios. A pesquisadora da Universidade de São Paulo, Marilena Chauí, foi o destaque da noite de abertura, com a mesa “Contra a Universidade Operacional e a Servidão Voluntária”.

“Esse texto é um alerta para os riscos que ameaçam a universidade pública”, destacou Chauí, durante sua participação. A professora explica que, ao longo dos anos, a universidade deixou de ser uma instituição social e passou a ser uma “organização social”. Este processo é caracterizado pela filósofa como uma universidade privatizada ou à beira disso, interessada em questões próprias, ignorando a sociedade ao seu redor. Segundo Marilena, tratam-se de interesses meramente capitalistas, regidos por ideologias vindas do campo da administração.

Marilena apontou, ainda, os desafios acadêmicos enfrentados numa universidade operacional que deixa de formar cidadãos para adestrá-los e moldá-los num padrão de profissionais encomendados pelo mercado. Neste modelo, a formação é massificada, produzindo profissionais cada vez mais despreparados, que estarão obsoletos alguns anos mais tarde. Marilena questiona, ainda, o papel do docente atual e faz um alerta sobre a incompatibilidade da prática da pesquisa com o modelo de universidade que privilegia a produção massificada. “A pesquisa não é uma coisa que apenas serve para colocar no Lattes, tampouco um fragmento de ideias sem continuidade”, argumentou.

A abertura foi transmitida em tempo real pela TV UFBA, com transmissão simultânea no Salão Nobre da Reitoria através de telão. A abertura que aconteceu ontem no Teatro Castro Alves contou, ainda, com a apresentação dos 70 alabês — percussionistas ligados a rituais de matrizes africanas — coordenados pelo músico e professor Jorge Sacramento. A Orquestra Sinfônica e Madrigal da UFBA e o Coral da Escola de Música também participaram da cerimônia. A programação também reuniu 15 convidados, em debate sobre a trajetória da UFBA, com a presença da vice-prefeita Célia Sacramento, da senadora Lídice da Mata, da ex-reitora Dora Leal Rosa, e do atual reitor João Salles.

O Congresso UFBA 70 anos acontece até o próximo domingo (17/07), com uma programação extensa de mesas, fóruns, intervenções artísticas e práticas integrativas de saúde. Ao longo dos três dias de evento, serão realizadas intervenções artísticas de grupos da própria instituição.

 

Confira como foi a abertura:

 

Foto: Ascom/UFBA

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