“Prazer, meu nome é Marcelo Lordelo”

 Marcelinho é um falante garoto de 10 anos que passa boa parte do seu dia na UFBA                       

Por Rafaela Fleur

Camiseta branca e bermuda marrom com estampa quadriculada. Cabelos longos, na altura dos ombros, e uma garrafa de água nas mãos. Charme inigualável. Seria mais um estudante da UFBA caminhando pelo campus e sentando no morrinho para relaxar. Seria. A baixa estatura – sem falar do chinelinho dos X-men – entregam sua verdadeira identidade. Marcelo Lordelo, mais conhecido como Marcelinho, aproveita o auge dos seus 10 anos de idade cumprimentando cada pessoa que passa por ele e se apresentando mesmo sem ninguém lhe perguntar nada.

Apesar do jeito independente e super espontâneo do garoto, tem algo que ele não consegue viver sem (nem por um segundo sequer): o seu palhaço – que curiosamente também atende pelo nome de pai. Além de dividir a vida, os Marcelos também dividem o nome. “Ele é a minha pessoa preferida do mundo, sempre tira dez na prova e me cuida muito bem”. O seu parceiro alguns anos mais velho foi o responsável por tornar a UFBA uma espécie de segunda casa para Marcelinho. Devido a alguns problemas de saúde, o garoto não pode frequentar a escola e nem ficar sozinho, sendo assim, a melhor solução encontrada foi mostrar pra ele como a universidade pode ser um lugar legal. E deu certo. O garoto acompanha o pai, que é estudante da Universidade, todos os dias de aula.

Atualmente, além de participar de aulas de dança e fazer comentários enriquecedores nas aulas de Marcelão, o pequeno cuida de abelhas, mas não gosta quando chamam a prática pelo nome errado. “É me-li-po-ni-cul-tu-ra”, soletra ele, com ar de repreensão. A atividade consiste em cuidar de abelhas que não possuem ferrão –  segundo ele, as que podem picar são as ‘abelhas ruins’ –  e o criadouro fica ao lado do PAF V, no campus de Ondina. Se engana quem pensa que o trabalho é fácil e que ele parou por aí. Após aprender a identificar grande parte das 400 (isso mesmo: quatrocentas) espécies diferentes do inseto, aperfeiçoou seus talentos e hoje ministra aulas para os novatos.

Apaixonado pelo seu trabalho, que é remunerado em forma de alegria, o garoto conta que também frequenta aulas de dança na UFBA e reclama que deveriam ter mais coisas direcionadas para as crianças. Frequentador quase diário da Universidade, a pouca idade não o impede de perceber os problemas da Instituição. “As fichas do RU acabam muito rápido e muitas pessoas ficam com fome. A comida é gostosa, mas às vezes fica meio ruim”. Além disso, reclama do barulho próximo à biblioteca e diz que faltam bons espaços para estudar.

Se atualmente Marcelinho gosta mesmo é de atividades ligadas ao meio ambiente, no futuro, é atrás das câmeras que ele deseja estar. Fotógrafo? Que nada! Hollywood que o aguarde com muitos holofotes. “Quero ser diretor de cinema, fazer um filme e ficar bem famoso”, confessa ele, enquanto os olhos brilham tanto quanto os flashes que o iluminarão amanhã. Embora ele se encante tanto com os telões, é falando da família que o me-li-po-ni-cul-tor mais se derrete.

Além do pai, ele é muito apegado à avó, à irmã Marina e à importantíssima gatinha Meleca – cujo nome tem uma origem tão secreta que ele preferiu não revelar. A avó de Marcelinho é a responsável pelo melhor bolo de brigadeiro do universo – ou quase.  “Ela não faz o bolo não, só vai no mercado e compra”, entrega ele, aos risos. Como todos bons irmãos, ele e a garota de 12 anos brigam com certa frequência, e é falando sobre isso que ele diz o que mais ama na relação dos dois. “Ela diz centenas de vezes que vamos parar de brincar juntos e no dia seguinte já está me chamando. Não conseguimos nos separar”, declara feliz.

Para o Dia das Crianças, deseja que todas  tenham o que mais  desejarem no mundo. Ah, e comida também!  “Você sabe, tem crianças que não têm o que comer”, afirma ele, com a convicção de quem pode resolver o problema. E pode mesmo. Desde o jeito tagarela até o gosto musical peculiar (é apaixonado por Beethoven), Marcelinho parece ter, como todas as outras crianças, a essência necessária para melhorar o mundo – que nesse caso, tem o cheiro do mel das abelhas que ele tanto gosta de cuidar.