“É preciso amarelar o ano inteiro”, afirmou ouvidora da UFBA em evento sobre depressão
Em comemoração ao setembro amarelo, mesa redonda organizada por alunos da FACOM abordou a ansiedade e a depressão em estudantes
Por Rafaela Fleur e Kelven Figueiredo
Provas, seminários, correria acadêmica. Devido a esses e muitos outros fatores, a ansiedade e a depressão têm se manifestado cada vez mais nos universitários. Pensando nisso, a turma da disciplina Comunicação e Atualidade I, orientada pela professora Dra. Graciela Natansohn, lotou o auditório da Facom na manhã da última sexta-feira (21) com o evento “Mal-estar na Universidade: ansiedade e depressão em estudantes da UFBA”. A temática surgiu à partir de discussões em sala de aula sobre o tema e a necessidade que muitos estudantes tinham em falar sobre o assunto.
Mediado pela estudante Camila Fiúza, o debate contou com a presença da ouvidora da UFBA, Denise Vieira; a coordenadora do grupo NEGRAS (Núcleo de Estudos em Gênero, Raça e Saúde /UFRB), Denize Ribeiro; a psicóloga da ouvidoria, Luciana Diz; a médica do SMURB (Serviço Médico Universitário Rubens Brasil/UFBA), Rita Franca; e Ester Pires, do grupo de ajuda mútua no Facebook Tamo Junto.
Rita traçou um panorama da situação atual dos estudantes da UFBA. Segundo ela, o maior problema é a ansiedade, que atinge 46% dos alunos atendidos por ela no SMURB. “É preciso que música, dança e teatro se integrem à rotina acadêmica, tudo isso aumenta a serotonina e ela é uma substância essencial para combater a ansiedade”, afirma a médica. Rita acrescenta que a união de alunos e funcionários é outro fator importante para que todos permaneçam satisfeitos na instituição.
A situação é ainda mais difícil e evidente para os estudantes negros. “O racismo institucional me chama para essa discussão”, afirmou Denize Ribeiro, professora da UFRB e coordenadora do grupo NEGRAS. Ela pautou principalmente o racismo velado presente em diversos âmbitos acadêmicos. “Nas relações interpessoais, a gente pode identificar essa discriminação racial e como ela impacta no bem estar das pessoas”, ressaltou. Ao falar sobre as cotas raciais, a professora afirmou que, enquanto o número de alunos negros cresce, o racismo aumenta proporcionalmente. “A universidade vai enegrecendo e vamos nos dando conta do pouquíssimo espaço que temos para realizar essa desconstrução”, lamenta.
A universidade pode ser um ambiente hostil e perigoso. De acordo com a professora e ouvidora da UFBA, Denise Vieira, o grande vilão da vez é o incentivo à competição dentro desta instituição, o que ela chama de “capitalismo acadêmico”. Este tem sido um dos principais fatores para esse sentimento de impotência no estudante que é sempre estimulado a produzir num tempo mais curto que o usual, causando stress, ansiedade e em casos extremos a depressão. Ainda segundo Denise,a depressão é o maior contingente epidemiológico do planeta. Por conta disso,Ouvidoria da Universidade tem investido em métodos de auxílio e prevenção à doença na instituição. A ouvidora compartilha do pensamento de que, para superar este mal no ambiente universitário, é preciso a união e a criação de espaços para a discussão do assunto e tratamento quando necessário.
Complementando a fala de Denise, a psicóloga da Ouvidoria, Luciana Diz, afirmou que a escuta e o acolhimento são essenciais para a recuperação do estudante que sofre de ansiedade e/ou depressão. E é exatamente essa escuta seguida de acolhimento que serve de base para a construção de um diagnóstico institucional. Segundo ela, a Ouvidoria não busca só sanar um problema isolado, mas acolher e promover uma mudança de paradigma no espaço universitário, buscando parcerias dentro da UFBA, promovendo debates sobre o assunto e tornando a luta mais coletiva possível.
Se as discussões das palestrantes foram intensas e esclarecedoras, foi na hora do debate que o evento justificou ainda mais a sua importância. O que era pra ser um bloco de perguntas, tornou-se um desabafo coletivo. Um dos relatos mais fortes foi o da estudante de psicologia da Faculdade Bahiana de Medicina Mariceli Mendes. “Fiquei grávida e não tive direito a licença maternidade. Meu filho nasceu de 7 meses, ficou na UTI e eu não pude visitá-lo. Tive o meu filho em uma segunda-feira, e, na semana seguinte, estava sentada no chão da faculdade, cheia de pontos”. Mariceli relata que não teve nenhum apoio da direção e que o MEC (Ministério da Educação) chegou a enviar um documento reafirmando que ela não poderia ser dispensada. “Perguntaram porque eu não usei camisinha”, completou.
O evento contou com transmissão ao vivo em nossa página do Facebook e todo material continua disponível.