Debate: Perspectivas para formação em competências criativas

*Por Carol Oliveira

Entende-se por Economia Criativa todos os ciclos de criação, produção, circulação, consumo e fruição de bens e serviços oriundos dos setores criativos. Na atualidade, é notório o crescimento de empreendimentos que se tornam sustentáveis a partir de atividades resultantes da imaginação do indivíduo. Objetivando refletir acerca da formação desses profissionais que atuam em setores criativos, o I Seminário Cultura e Universidade realizou, no segundo dia de debates, 23 de abril, a mesa-redonda “Perspectivas para formação em competências criativas”.

A discussão contou com a presença da Diretora de Empreendedorismo, Gestão e Inovação da Secretaria de Economia Criativa do Ministério da Cultura (SEC/MinC) Luciana Guilherme, da professora titular da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e coordenadora do Centro Interdisciplinar em Desenvolvimento e Gestão Social (CIAGS) Tânia Fischer e do professor do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências Professor Milton Santos (IHAC) e  do Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade, além de pesquisador do Centro de Estudos Multidisciplinares em Cultura (CULT) da UFBA, Paulo Miguez. A mesa teve mediação da Pró-Reitora de Extensão da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Claudia Mara Escovar Boettche.

As competências criativas se tornaram um importante vetor de desenvolvimento econômico e social e nessas condições torna-se de extrema importância uma nova reestruturação na educação, a fim de preparar as novas gerações com novos conceitos e práticas. Segundo o professor Paulo Miguez, há uma série de desafios que precisam ser colocados e enfrentados com relação ao campo cultural e criativo, sobretudo dentro das universidades. Ele discorre sobre haver dentro da academia uma grande resistência em se compreender a questão da cultura para além das disciplinas. Miguez cita como exemplo a dificuldade que pesquisadores, das diversas áreas do conhecimento, como antropologia, sociologia ou comunicação, têm em registrar suas produções no currículo Lattes, quando estas abordam a cultura num lugar de destaque.

Luciana Gulherme aborda a preocupação da SEC com a formação de toda a cadeia produtiva envolvida nas atividades de empreendimentos criativos. “Quando falamos de economia criativa, falamos da junção de saberes, falamos de agrupamentos de profissionais de áreas diferentes”, explica a diretora de Empreendedorismo, Gestão e Inovação da SEC. De acordo com Luciana, na área da música, por exemplo, se tem uma cadeia de profissionais além dos músicos, como o técnico de som, gestores e outros, ou seja, a produção não depende apenas do músico ou do compositor.

Luciana afirma que a visão de economia criativa defendida pela SEC e que ainda não se vê é uma economia que tenha a ver com a arte, com administração, com economia e sistema de informação, ou seja, um espaço multidisciplinar que se alimenta da diversidade. Um dos projetos da Secretaria de Economia Criativa que está em processo de implantação é o Criative Bureau, chamado pelos idealizadores de “casa do empreendedor criativo”. É um espaço de oferta de serviço de informação, de assessoria técnica e consultoria, de acesso a linhas de financiamento de microcrédito para quem trabalha no campo criativo e no campo cultural.

Atualmente os jovens têm à disposição um leque de possibilidades, de aprendizados, de formas distintas de adquirir conhecimentos. Tânia Fischer fala sobre os novos espaços de formação profissional, chamando a atenção para a educação profissional em todos os níveis, uma vez que a ela não está restrita apenas àquelas derivadas dos institutos federais. Atualmente, lembra a professora, existem novos espaços. “Como a gente valida isso numa universidade conservadora e burocrática, que é a universidade brasileira, é a questão”, reflete a coordenadora do CIAGS.

O CIAGS é um espaço que visa promover o desenvolvimento de múltiplos territórios, ou seja, articular saberes teóricos e práticos em desenvolvimento e gestão social em prol do desenvolvimento sócio-territorial. Para Tânia, nos novos processos de desenvolvimento territorial, a cultura é um dos pilares. Essas expressões das culturas territoriais não refletem apenas a produção cultural no sentido tradicional, mas a produção das culturas do território. O grande desafio da extensão é saber como qualificar esse gestor social do território, para que ele, tendo como eixo transversal a sua reinvenção cultural, possa ser ao mesmo tempo um líder, um empreendedor, um gestor do seu próprio mundo. “Isso é um repensar a forma de aprender e de ensinar”, explica.

O I Seminário Cultura e Universidade reuniu, entre os dias 22 e 24 de abril de 2013, pesquisadores, pró-reitores de extensão, de pesquisa e de ensino, representantes dos estudantes e das rádios, de TVs e de editoras universitárias, além de diretores de instituições e centros de artes, gestores públicos e representantes da sociedade civil para dialogar sobre ações que promovam o desenvolvimento da cultura nas universidades.

 

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