Neim estimula pesquisas interdisciplinares sobre as relações de gênero

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Por Adriana Santana

 

Criado em 1983, o Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher (Neim) é o centro de estudos sobre gênero em funcionamento mais antigo do país. O núcleo, vinculado inicialmente ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da UFBA, ganhou autonomia, passando a contar com a participação de professores e alunos de diversas unidades da UFBA e outras universidades. Hoje, o grupo é formado por mais de 40 professores e estudantes, e sua atuação é reconhecida internacionalmente.

O Neim promove ações contínuas de ensino, pesquisa e extensão, tendo em vista a formação de uma consciência crítica sobre as relações de gênero hierárquicas predominantes em nossa sociedade. “Trabalhar a desigualdade entre homens e mulheres implica principalmente mexer na educação, porque é através da internalização dos estereótipos, de uma visão equivocada sobre a diferença, que estas relações se perpetuam”, explica a ex-coordenadora do núcleo, Marcia Macedo. Pensando nisso, o grupo atua predominantemente em escolas, realizando cursos de formação que defendem a educação igualitária. “A formação de professoras e professores do ensino fundamental é essencial, pois a escola é um agente muito importante na construção dessa nova visão e do enfrentamento, não só da questão de gênero, mas também da questão da raça”, indica.

Atualmente, o núcleo engloba o Programa de Pós-Graduação em Estudos Interdisciplinares sobre Mulheres, Gênero e Feminismo (PPGNEIM), o primeiro nessa temática na América Latina, oferecendo cursos de mestrado e doutorado. “Existem universidades americanas que desde os anos 70 tem um departamento de estudos de gênero. No Brasil, temos uma série de pós-graduações que tem áreas, linhas de pesquisa ou, dentro das linhas de pesquisa, grupos de pesquisas que trabalham com a questão de gênero, mas não havia um programa que tem como foco o gênero”, afirma Macedo, que atualmente assume a coordenação do PPGNEIM. O diferencial do núcleo é seu caráter interdisciplinar, unindo pesquisadores de áreas diversas, como Ciência Política, Antropologia, Sociologia, História, Letras, Enfermagem, Biologia, Educação, Música, Matemática, entre outros.

Histórico

Apesar de serem consideradas dentro da universidade como militantes pela defesa dos direitos das mulheres, o Neim é visto pela sociedade em geral como um “grupo de acadêmicas”, pois o trabalho é realizado dentro da UFBA. “É uma situação interessante porque a gente acha que esse é o papel da universidade, simultaneamente, estar conectada às questões da sociedade e fazer a partir do seu locus privilegiado, que é a academia. Mas isso gera uma necessidade de buscar legitimação junto à sociedade trabalhando com extensão, aí que surgem os cursos de formação”, afirma a ex-coordenadora.

Em 2000, o Neim ofereceu seu primeiro curso de especialização em Gênero e Desenvolvimento Regional, que abriu nova turma em 2005. Ainda neste ano, foi realizado o Curso de Especialização em Metodologia do Ensino de Gênero. Após os cursos, foi encaminhada à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) a proposta de criação de uma pós-graduação em Estudos de Gênero, que resultou no PPGNEIM e tornou a UFBA pioneira no Brasil na pesquisa sobre a temática.

Além dos cursos, o grupo já vinha realizando atividades de formação para agentes que atuam na segurança pública, envolvendo a Delegacia de Proteção à Mulher, Tribunal de Justiça da Bahia, Defensoria Pública, Secretaria de Segurança Pública (delegados, detetives e investigadores) e Polícia Militar. Entre 2004 e 2005, foram realizados também capacitação para jovens de escolas públicas, com ênfase nas questões raciais e de gênero. Em conjunto com a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (SECADI), o Neim realizará novos cursos sobre gênero e diversidade para professores, abrangendo diversos municípios da Bahia. Através da Universidade Aberta do Brasil (UAB), professores e estudantes de mestrado e doutorado da UFBA capacitarão os alunos em encontros presenciais e tutores farão acompanhamento à distância durante todo o processo.

Hoje, o núcleo participa de um comitê da Secretaria de Políticas para as Mulheres do Governo Federal, integrando o Programa Pró-equidade de Gênero que avalia empresas da administração pública que pleiteiam o “selo pró-equidade de gênero”. Através do programa, organizações como Petrobrás, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Ministério Público, Bahiagás e Chesf assinaram termo de compromisso para investir em ações que promovam a igualdade entre mulheres e homens.

Em 2008, as ações do Neim deram surgimento ao Bacharelado em Estudos de Gênero e Diversidade, curso de graduação com duração de quatro anos que iniciou primeira turma em 2009. O objetivo é formar pessoal qualificado para trabalhar em organizações não governamentais, prefeituras, secretarias de equidade racial, de combate à homofobia, de justiça e direitos humanos, empresas que investem na área de responsabilidade social, entre outros órgãos, exatamente dentro da oferta de políticas para a igualdade de gênero e diversidade. “Nesse programa Pró-equidade de Gênero, por exemplo, um dos grandes problemas é que as empresas assinam o compromisso que vão desenvolver programas com ênfase em equidade de gênero para seu corpo funcional, no entanto, essa equipe de trabalho não tem formação e capacitação para trabalhar com gênero”, avalia Macedo.

Desafios

O Neim já fez parte da estrutura da universidade como órgão suplementar, mas em 2009 deixou de ocupar este posto e passou a se configurar como um grupo de pesquisa, perdendo assim investimentos financeiros e estruturais. Outros órgãos da UFBA também passaram por esta mudança, como é o caso do Centro de Estudos Afro-Orientais (CEAO), que funciona há mais de 50 anos, e do Centro de Recursos Humanos (CRH), que possui 40 anos de atuação. “Hoje o Neim não tem funcionários, a pós-graduação tem apenas uma funcionária e nosso recurso é exíguo. Isso é paradoxal, porque o Neim representa a universidade em diversos fóruns, inclusive internacionalmente”, desabafa Macedo.

Por conta da falta de funcionários, a biblioteca do grupo foi desativada e o acervo doado para a Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (FFCH/UFBA). O intitulado Centro de Documentação, Informação e Memória Zahidê Machado é composto por documentos que narram a história dos estudos sobre mulheres e gênero desde o século XX, tornando-se fundamental para o desenvolvimento de pesquisas na área.

As condições atuais do núcleo levaram a equipe a propor a sua conversão em instituto, com a graduação, o PPGNEIM e todos os cursos que o Neim oferece. No entanto, o conselho universitário julga que a UFBA não possui estrutura financeira para suportar novas unidades, devido a sua expansão recente – com a criação do Instituto de Humanidades Artes e Ciências (IHAC) e de novos cursos. “A criação do instituto seria uma possibilidade de termos uma condição mínima de funcionamento. Nós teríamos funcionários, por exemplo. Hoje temos que desenvolver projetos, realizar cursos de capacitação e criar alternativas para conseguir recursos para a sustentação do Neim”, afirma Macedo.

Para conhecer outros grupos e instituições que trabalham com gênero e diversidade sexual, acessePortal Dia a Dia Educação ou o site do Neim.

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