Exibição de filme estimula debate sobre documentários de criação na FACOM
O documentário baiano “Jonas e o Circo sem Lona” foi exibido por meio do projeto Roteiros de Recepção III
Por: Lucas Arraz
Depois de passar por países como Holanda, Canadá e França, o documentário baiano Jonas e o Circo sem Lona voltou para Salvador e foi exibido na última semana para o público que esteve no auditório da FACOM. A exibição fez parte do projeto Roteiros de Recepção III, do Grupo de Pesquisa Recepção e Crítica da Imagem (GRIM). Foram convidados os críticos de cinema Bruno Saphira e Amanda Aouad, além da diretora Paula Gomes para debater a obra e a linha que separa documentários de filmes ficcionais.
O documentário acompanha o menino Jonas, que aos treze anos resolveu seguir os passos dos avós e monta um circo no quintal da sua casa em Dias D’ávila. Com a ajuda de alguns amigos, a atração se torna popular na cidade durante as férias de verão. O longa discute o papel do circo no crescimento do adolescente, além da problemática de educar alguém através da arte. Entre as preocupações de Jonas com o seu circo, o menino questiona a importância da escola e do estudo de faraós para a sua vida.
Na mesa que sucedeu a exibição do filme, a diretora Paula Gomes contou que o documentário foi ideia do próprio Jonas. ‘’Ele me ligou dizendo que estava montando um circo em casa e perguntando se eu não iria querer gravar’’, contou. Paula e sua equipe aceitam o convite e, após dois anos de filmagens, o filme estaria pronto e rodando o Brasil através do projeto Vitrine Filmes da Petrobras. A produção garantiu o prêmio de melhor documentário no International Documentary Film Festival de Amsterdam e outros 17 prêmios.
O sucesso do longa deve-se, segundo a crítica Amanda Aouad, pela mistura sutil entre documentário e ficção. Tema do debate após a exibição de “o Circo sem Lona”, o uso de ficção e cenas roteirizadas em documentários foi defendido por Paula Gomes. “Não podemos esperar até que uma folha caia da árvore se precisamos de uma cena de folha caindo”, disse. Bruno Saphira também destacou o trabalho progressista de “Jonas” em se assumir como um documentário de criação, gênero ainda pouco explorado no Brasil, que permite roteirização de cenas e intervenção dos diretores na realidade que está sendo retratada.
Engana-se quem pensa que o filme “Jonas e o Circo sem Lona” é sobre circos. É Através do circo de Jonas que o documentário fala sobre sonhos, principalmente aqueles que deixamos na infância. Com uma estrutura pouco comum, o filme abre feliz, com Jonas realizando o sonho de ter seu próprio circo de sucesso e tentando convencer a mãe a deixá-lo largar a escola e acompanhar o circo do tio, mas acaba triste. Ao longo da trama, o circo que Jonas tinha com os amigos se desmantela e fecha, o que faz o jovem indagar em umas das cenas finais se o seu filme terminaria triste daquele jeito. “Esse é o final desse filme e não do seu filme, Jonas”, acalentou a diretora Paula Gomes enquanto, sem perceber, participava da cena.
Também presente no debate, a mãe de Jonas, Wilma Macedo tratou de atualizar a platéia, que ao longo dos 81 minutos de filme se apegou a história do garoto que sozinho montou um circo. “Ele terminou a escola e logo depois foi para o circo do tio. Não passou três meses lá”, contou. Hoje o menino virou o ator Jonas Laborda que participa de outros filmes da diretora Paula Gomes, como “Filho de Boi”, nova ficção que deve estrear no próximo ano. O jovem, que hoje tem 17 anos, investe no sonho de cursar a faculdade de cinema, mas não abandonou completamente seus sonhos de infância. Atualmente Jonas faz curta temporada no circo do tio como trapezista.
O longa fez grande sucesso entre o público infantil que estava presente no auditório da FACOM. Segundo a diretora, isso não é raridade nas exibições de Jonas. A magia do circo e dos sonhos de Jonas são os fatores destacados por Paula Gomes para que o longa capte a atenção dos pequenos. Diogo Fontes levou seus dois filhos para assistirem a exibição. “É impressionante como meus filhos ficaram vidrados durante o filme”, disse o pai durante o debate. Mais velha que as crianças que corriam no corredor do auditório, a estudante do Bacharelado Interdisciplinar Jéssica Moreira também revelou gostar do filme por conta do assunto pouco trabalhado no cinema baiano. “É muito bom ver histórias que não tem nada a ver com o que esperam de um documentário daqui. Esse filme contempla a diversidade”, disse.
“Jonas e o Circo sem Lona” e seu protagonista hoje rodam o mundo apresentando o longa que ganhou o título internacional de “Jonas and the backyard circus”. Em um dos 20 países por onde passou, depois da exibição, um diretor egípcio se aproximou de Jonas e falou com o menino sobre a importância que os faraós tinham. O menino, envergonhado, como contou aos risos a diretora Paula Gomes durante a mesa, concordou que estudar faraós realmente pode ser importante. Como seus sonhos, Jonas Laborda também cresceu.