Jean Wyllys: da Facom ao Congresso
A trajetória de um dos mais célebres egressos da Faculdade de Comunicação da UFBA. Jean participou da Semana de Comunicação e Cultura que celebrou os 30 anos da unidade
Por: Glenda Dantas
Nascido em Alagoinhas, interior da Bahia, Jean Wyllys de Matos Santos, 43 anos, vive há 12 anos no Rio de Janeiro, onde atua como deputado federal pelo PSOL. É escritor, com quatro livros publicados, apresentador e curador do programa Cinema em Outras Cores no Canal Brasil, programa de curtas metragens que propõem reflexões acerca da diversidade sexual ao revelar diferentes olhares sobre o tema. Também é professor do Programa de Pós-Graduação em Infecção HIV/Aids e Hepatites Virais da UNIRIO e colunista da Carta Capital e do iGay. Atuou também como professor universitário na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) e Universidade Veiga de Almeida (UVA).
Quando jovem, Jean sonhava em ser jornalista (mal sabia das reviravoltas que a vida daria e o conduziria ao Congresso Nacional). Ainda na juventude, enquanto trabalhava como programador de computadores, habilidade fruto da formação em análise de sistemas no ensino médio, o alagoinhense ingressou na UFBA, onde estudou Jornalismo. Frequentava as aulas pela manhã e trabalhava das 14h às 23h. Diferente de outros alunos que poderiam aproveitar as tardes para estudar na biblioteca ou participar de palestras, ele precisava garantir sua manutenção em Salvador, pois não contava com nenhum auxílio financeiro além do que recebia com o trabalho. “Era um desafio estudar num curso que, no período, era um curso de elite”, conta.
Mesmo com todas as adversidades, não restringiu seus interesses à formação técnica de jornalista, mas à ampla formação acadêmica. Wyllys foi voluntário do Programa de Educação Tutorial (PET); junto com outros colegas, criou o grupo de estudos Teorias de Quinta, que discutia teorias do jornalismo; e militava no movimento estudantil. Apesar de receber um bom salário como programador, no segundo semestre ele viu numa vaga de estágio no jornal Tribuna da Bahia, sua chance de atuação na área dos sonhos. No quinto semestre, já atuava como jornalista contratado pelo então Correio da Bahia.
A trajetória do jornalista começou a mudar quando, motivado pelas críticas dos colegas do caderno de Cultura do Correio da Bahia contra o reality show Big Brother Brasil (BBB), exibido pela Rede Globo, Wyllys se inscreveu no programa em 2005. O objetivo era fazer uma análise para sua tese de mestrado. “Minha intenção era entrar, participar do programa e sair na segunda ou terceira semana”, afirmou. Este teria sido tempo suficiente para analisar as relações dentro da casa e como se davam as interações dos participantes com as câmeras. O brother foi vencedor da 5ª edição do programa e se tornou o objeto daquilo que pretendia estudar, consequentemente, uma “celebridade instantânea”.
Em meados de 2009, após receber três convites de filiação a partidos, dentre eles PT e DEM, ele decidiu se filiar ao Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), aceitando um convite de Heloísa Helena, então presidente do partido. Ele conta que escolheu o PSOL, pois a ideologia partidária estaria mais próxima do que defende, principalmente a liberdade.
O ex-BBB foi eleito deputado federal pela primeira vez nas eleições de 2010 com segunda maior votação do partido, porém menor quantidade de votos pelo Rio de Janeiro, 13.018 (0,16%). Ele conseguiu a vaga graças ao desempenho de outro candidato a deputado federal do PSOL, Chico Alencar, que conquistou 240.724 (3%) dos votos na eleição. No terceiro mês de mandato, ele já tinha grande visibilidade. Era a primeira vez que chegava ao parlamento um “homossexual assumido, com orgulho da orientação sexual e vindo de movimento LGBT”, como enfatiza.
Na tentativa de falar de Direitos Humanos através de um debate orçamentário e democrático, o deputado atuou na comissão de Finanças e Tributação, principalmente para avaliar “onde estava sendo aplicado o dinheiro da união e que tipo de política estava sendo feita”. Os opositores ao deputado no congresso, no entanto, centravam suas críticas e acusações a generalização de que Wyllys seria “representante dos LGBT’s e deputado de uma pauta só”. Jean, em sua defesa, afirma: “Eu não sou deputado LGBT, eu sou também deputado LGBT. Mais que isso, eu sou ativista dos Direitos Humanos”.
Jean participou da Semana de Cultura e Comunicação, que aconteceu de 02 a 06 de outubro. O evento realizado pelo Centro Acadêmico Vladimir Herzog marcou os 30 anos da Facom, além de recepcionar os novos estudantes de Jornalismo e Produção Cultural. Sua participação foi encerrada com conselhos de quem notoriamente passou pela faculdade e aproveitou tudo de melhor que ela pode proporcionar. “Eu espero que vocês façam dessa passagem pela Facom, um ato verdadeiramente transformador”.
Ele enfatizou também a importância que a Facom teve na sua construção pessoal e intelectual, e fez um apelo para que os alunos não se comportem como “consumidores ou clientes, mas sim alunos, pessoas que estão abertas ao conhecimento”.
Bom texto! Jean é sensacional!!! E essa repórter também!!!