Seminário aborda de que forma os índios aparecem na mídia brasileira
A fim de discutir de que forma os povos indígenas são retratados nos veículos de comunicação brasileiros o Grupo Etnomídia realizou seminário na Facom no dia 08 de março.
*Por Carol Oliveira
Com propósito de prestar contas à sociedade e apresentar o relatório sobre os indígenas na mídia brasileira e como conclusão de mais uma etapa da Pesquisa Faces do Brasil, o Etnomídia – Grupo de Pesquisa em Mídia e Etnicidades da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia realizou na manhã do dia 8 de março o seminário Indígenas na Mídia Brasileira: Um recorte. Participaram do evento os coordenadores da pesquisa Joaci Conceição e Marilúcia Leal e num segundo momento compuseram a mesa a professora do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências Professor Milton Santos Clélia N. Côrtes, o professor da Universidade Estadual da Bahia UUNEB) Francisco A. Guimarães, além do índio Taquari que é tembém representante do PET Indigena e da ilustre presença do Cacique Babau, da nação Tupinambá da região de Ilheus.
Dando início as apresentações, os estudantes Joaci e Marilúcia apresentaram ao público os resultados da pesquisa dando enfoque à população indígena. Em 19 meses de monitoramento diário de exatamente 23 veículos nacionais de comunicação, sendo 17 jornais e 6 revistas, foram encontradas um total de 3.155 publicações que retratam grupos minoritários, sendo que deste total, 1.411 se referem a população indígena brasileira. O que se percebe nestas publicações é que os assuntos mais recorrentes são os conflitos de terra, como é o caso do Belo Monte e o caso da Raposa Serra do Sol ou os indígenas como entrave para o desenvolvimento econômico. No decorrer da apresentação foram expostas algumas matérias como exemplo e nestas percebia-se que “Raramente os índios eram apontados como fonte de informação” observa Joaci Conceição. Os indígenas eram foco nas noticias, mas estes nunca tinham a sua versão divulgada pela mídia.
A representação do índio na mídia brasileira é semelhante ao que se vê nos livros didáticos de história “Os povos indígenas não são vistos como sujeitos sociais plenos e como tal, a fala destes povos não são levadas em conta”, afirma o professor Francisco Guimarães. Uma das questões mais graves relacionadas ao livro didático de história são as gravuras, de acordo com o professor da UNEB, os livros expõem gravuras sem trazer referências e contextualizações e o aluno ao ter contato com aquela ilustração a entende como real. Francisco Guimarães cita uma famosa ilustração nos livros didáticos como exemplo; é o caso do banquete antropofágico, em que índios aparecem comendo pessoas, o que resulta a disseminação de uma história totalmente deturpada. “Quando eu apresento ao aluno a questão indígena ou quando vou dar alguma palestra sobre, eles sempre perguntam se índio come gente”, observa o professor se referindo ao problema da forma errônea que os documentos históricos são retratados nos livros. Ainda segundo o professor, o livro didático, ao apresentar uma série de aspectos sobre uma possível história dos povos indígenas no Brasil, desconsidera a perspectiva de que essa sociedade já tem uma cultura, uma história própria e apresentam aos alunos apenas representações destes povos produzidas pelos colonizadores, “O aluno não tem a possibilidade de ver a história da cultura dos povos indígenas a partir das perspectivas dessas próprias sociedades”, conclui.
Dando continuação ao debate, o representante do PET Indígena, o índio Taquari abordou a importância de se debater e refletir sobre a posição que os índios estão sendo colocados diante da mídia, “Nós precisamos de uma mídia mais responsável que coloque e retrate o índio de forma séria” conclui. O que acontece majoritariamente é que os canais midiáticos difundem uma imagem errônea do índio, segundo Cacique Babau da Tribo dos Tupinambás “Tudo relacionado ao índio é folclorizado”, existe uma cultura forte deste povo, uma cultura plena, mas que a imprensa se recusa a divulgar de forma leal e honesta.
Quando os índios realizam algo relacionado à cultura e história do seu povo a imprensa brasileira não divulga e não se interessa, o foco dessa mídia, segundo o cacique, são as noticias ruins e deturpadas “Aqui em Salvador a mídia só fala do índio quando este ocupa espaços como e secretária de educação”. Ainda de acordo com o Cacique Babau, essa falta de interesse midiática em retratar a população indígena de forma leal não é ingênua e sim devido aos grandes meios de comunicação estarem submetidos aos interesses de grandes empresários e políticos. “Negando-se o reconhecimento cultural de um povo, nega-se todos os direitos subsequentes” explica. A liderança indígena conclui sua fala desejando que os futuros jornalistas presentes no seminário possam mudar o rumo dessa história e que enfim consigam “Provocar a democratização de fato da comunicação” finaliza.
O Etnomídia foi criado em 1987 e busca incentivar a reflexão, a pesquisa e ampliar os diálogos sobre os impactos dos discursos midiáticos que abordam as populações étnicas historicamente discriminadas, como é o caso dos ciganos, indígenas e negros.