Espaço do negro na mídia é discutido em Seminário em Salvador

*Alexandro Mota e Guilherme Reis, colaboração para a Agenda Arte e Cultura

Os negros começam a sair das páginas policiais dos jornais e estão conquistando espaço em outras seções, como política e economia. A mídia brasileira silencia questões relacionadas aos ciganos. Geralmente, indígenas são pautados por questões relacionadas à posse de terras. Esses são alguns dos apontamentos da pesquisa Faces do Brasil, concluída no último mês e apresentada pela primeira vez na última terça-feira (28), durante o seminário O Negro na Mídia: um recorte.

Com o intuito de ser uma ferramenta para os veículos de comunicação na abordagem de questões relacionadas a estes grupos, o estudo, desenvolvido pelo Grupo de Pesquisa em Mídia e Etnicidades (Etnomídia) da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (Ufba), agora deve ganhar as redações. “Queremos apresentar aos ombudsmans – no Brasil só há três – e no geral aos ‘gatekeepers’ dos jornais brasileiros para influenciar na melhoria da cobertura”, afirma o jornalista e professor Fernando Conceição, que coordenou o levantamento.

A primeira profissional a conhecer os resultados da pesquisa foi a ombudsman do Jornal Folha de São Paulo, Suzana Singer, que compareceu ao seminário e conversou com o público sobre o seu trabalho. “Faltam estudos científicos de mídia, o que temos é muita opinião, muitas teses, mas esse é um estudo de longo prazo, de fôlego, e isso faz uma grande diferença para termos conclusões menos subjetivas”, analisa Singer.

PESQUISA Durante 21 meses, 17 jornais e 6 revistas impressos foram monitoradas através de leitura e compilação de dados. Para os pesquisadores, interessavam o que foi escrito nestes veículos sobre temas relacionados aos negros, índios e ciganos. As imagens não eram analisadas, apenas indicadas se estavam presentes ou não na publicação. Foi preenchido um formulário com 83 questões para cada uma das mais de três mil publicações (de diferentes gêneros jornalísticos) que fizeram parte da amostragem do estudo. A pesquisa custou US$ 350 mil – aproximadamente R$ 745 mil – patrocinada pela Ford Foundation.

DEBATE As questões da redução da maioridade penal e do “abate de dezenas de jovens negros em Salvador”, nas palavras da socióloga Vilma Reis, que estava na plateia, acalorou o debate durante o evento. Para os participantes, há uma defesa dos grandes veículos para a mudança na constituição. Suzana comentou sobre a posição da Folha em relação às cotas no ensino superior. “A Folha é a favor das cotas sociais e contra as cotas raciais”. Já o jornalista Fernando Conceição cobrou uma pluralidade de formas de pensar nas seções de opinião (colunas) do maior jornal brasileiro em tiragem e circulação. O evento, realizado no auditório Milton Santos do Centro de Estudos Afro-Orientais da UFBA (Ceao), contou também com a presença do diretor do Programa de Pós-graduação em Estudos Étnicos e Africanos da Ufba, Valdemir Zanporini. O historiador criticou a forma como a imprensa desumaniza o continente africano quando tenta homogeneizar uma cultura tão diversa.

 

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