Encontro Regional da Abrapcorp na Facom traça panorama da área de Relações Públicas
Este foi o segundo encontro da Abrapcorp, que vai acontecer também em outras regiões
Por Lua Gama
Diversas áreas profissionais estão em crise e a comunicação social não fica de fora dessa estatística. Mas, com as novas demandas criadas pela expansão digital, o profissional da área de Relações Públicas pode se destacar no mercado mais do que os outros campos da comunicação.
Para debater essa e outras questões sobre a área, profissionais, professores, coordenadores e estudantes de Relações Públicas estiveram no Encontro Regional Nordeste da Abrapcorp e Conferp. O evento aconteceu no auditório da Faculdade de Comunicação (FACOM/UFBA) na tarde da última sexta-feira (22). O encontro foi o momento de compartilhar experiências e opiniões sobre o futuro da profissão. Coordenadores dos cursos de Relações Públicas de faculdades de Salvador e de fora da capital falaram um pouco sobre a formação desse profissional.
Na mesa de abertura do evento, estavam o professor da FACOM e o vice-coordenador do curso de pós-graduação em Comunicação Estratégica, Adriano Sampaio; a vice-presidente da Associação Brasileira de Pesquisadores em Comunicação Organizacional e Relações Públicas (Abrapcorp), Fábia Lima, e a secretária-geral do Conselho Federal de Profissionais de Relações Públicas (Conferp), Ana Clarissa Cavalcante. Também estava presente a representante do Conferp 3ª Região, Elisabeth Dantas.
Para Fábia, esses encontros funcionam como uma roda de diálogo entre acadêmicos e profissionais da área para melhorar o campo da comunicação organizacional e relações públicas no país, por meio do levantamento das dificuldades de cada região. “Mais do que falar, o objetivo é ouvir. É fundamental que vocês nos tragam os desafios da área, tanto do ponto de vista científico, quanto acadêmico e profissional. O nosso objetivo primordial é abrir uma escuta e, a partir dessa escuta, pensar juntos para melhorar a nossa prática”, argumentou.
A área do momento?
No evento, o coordenador responsável pelo curso de RP na Ucsal, Marcello Chamusca, defendeu a importância da área e ressaltou que, cada vez mais, os setores da sociedade recorrem aos profissionais da área para um bom resultado junto ao público-alvo.
“Não consigo enxergar nenhuma outra profissão que tenha mais valor no mundo contemporâneo do que a Relações Públicas, pelo contexto de mundo em que vivemos. O legado de ter uma boa imagem, e tudo aquilo que a área se relaciona, é exatamente o que há de mais importante para as organizações”, disse.
Para a coordenadora do curso na Unifacs, Danúbia Lima, a área não é reconhecida como deveria ser, principalmente em um momento em que novas demandas surgem pelas empresas por conta da expansão digital. “Precisam muito da gente. Ficar sempre nesse discurso de provar que RP é importante já não cabe mais. A gente precisa realmente mostrar que atendemos a essas demandas”, defendeu.
Compartilhando a mesma opinião, a coordenadora do curso na Unijorge, Patrícia Moraes, acredita que essa é a área do momento devido aos diversos tipos de relacionamento que surgiram dentro das empresas, principalmente no campo jurídico, governamental e consumidor. “Nunca se falou tanto em relacionamento e nunca foi tão importante falar sobre isso. Nunca na história a gente se bateu tanto por causa deles, principalmente em uma era digital. Precisamos estar preparados para esse momento”, ressalta.
A falta de pesquisas que indiquem onde os profissionais formados estão atuando – principalmente, com o crescimento do Microempreendedor Individual (MEI) – e qual é o mercado da área na Bahia foram questões citadas no evento pela coordenadora do curso de RP na Uneb, Zilda Paim. “Estamos discutindo uma parceria com o Conselho para buscar pesquisas que possam mapear onde estão os profissionais e que perspectiva de trabalho essa pessoa tem. São preocupações que nós estamos levantando e que acho importante debater”, pontua.
Formação
Para falar um pouco sobre a comunicação organizacional, um dos campos de atuação de RP, o professor Adriano Sampaio, lembrou um dos motivos para a criação do curso de especialização em Comunicação Estratégica na Facom: a necessidade de expandir a comunicação para outras áreas (na graduação existem apenas os cursos de Jornalismo e Produção em Comunicação e Cultura).
Ele citou alguns profissionais que não são da área de comunicação, como por exemplo um médico, e que se interessaram em participar do curso. O professor defendeu, ainda, que é preciso falar da comunicação para não-comunicadores.
“Temos que pensar de que maneira a gente pode dialogar com outras áreas fora da comunicação. É preciso pensar de que forma a comunicação organizacional e as Relações Públicas podem furar essa bolha”, ressaltou o professor Adriano Sampaio.
Além de ampliar das demandas do mercado, é preciso também adequar o currículo do curso para que o profissional tenha maior visibilidade, como pontuou a professora de RP da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) Sandra Leite. Ela contou como a mudança da grade curricular ajudou a visibilizar a área, e o curso hoje tem 400 alunos.
“O que a gente vê hoje são os alunos orgulhosos do curso. Antes, os alunos de RP cursavam jornalismo depois de formados, agora acontece o contrário. Com as novas diretrizes, o curso passou a ter visibilidade dentro e fora da UFAL”, disse.
RP e o cenário atual
Para os estudantes e recém-formados em RP, o conselho é estar de olho nas possibilidades que o mercado oferece mesmo em tempos de crise na área comunicacional. “A gente pode escolher esse lugar de crise ou pensar o seguinte: o modelo de negócio foi completamente reconfigurado, a crise está aí e o mercado está aberto para criar novos modelos de fazer relações públicas”, argumentou Patrícia.
Ana Clarissa também defendeu a criação de novos modelos de negócio para expandir o mercado da profissão no país. “Se está difícil, crie um mercado. Quando a gente cria um novo mercado, vem também a concorrência. É preciso entender qual o mercado que ainda é inexplorado para poder trilhar uma carreira de sucesso”, disse.
Já Ariana Magalhães, que atua na área há mais de 10 anos, disse que, além de entender o cenário atual da profissão, é preciso saber qual o campo de atuação que o profissional pode e deseja atuar para buscar as possibilidades oferecidas pelo mercado. “O mercado é uma pedreira! Você não vai encontrar facilmente o mercado se não souber onde está a nossa possibilidade de entrar. A gente tem muito lugar para explorar, basta ter vontade de encontrar esse lugar”, exclamou.
Mesmo em crise, é preciso ter cautela na hora de buscar uma vaga para não se acomodar em empregos que fogem da área de RP. Os especialistas recomendam que é necessário se aprimorar em outras técnicas que não são abordadas no curso, mas com o cuidado de não precarizar a profissão. Por isso, é preciso entender que cada área da comunicação tem um profissional específico.
“Sei que existem muitas dificuldades. A gente quer currículo, quer network, mas não adianta ficar estagnado em uma empresa que não vai ter dar efetivamente experiências e práticas na sua área. É importante você ter contato com a comunicação”, aconselhou Danúbia.
O primeiro encontro regional da Abrapcorp aconteceu no dia 15 de março, na Universidade Católica de Brasília (UCB). Os próximos acontecem no dia 29 de março, na Universidade Federal do Amazonas (Ufam); no dia 12 de abril, na Universidade de São Paulo (USP), e no dia 26 de abril, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS).