Acervo artístico da UFBA é registrado no Repositório Institucional pela primeira vez
A catalogação do acervo acontece em meio à falta de verba para manutenção e conservação das obras de arte da universidade
Por Kelven Figueiredo
Há obras de arte espalhadas por todos os campi da UFBA. Esse volume gigantesco de obras passou décadas sem ser catalogado e, com o passar do tempo, foi se dividindo entre as instituições sem que a universidade tivesse ciência de seu patrimônio por completo. Foi só quando a presidente da Comissão Permanente de Arquivo, Lídia Toutain, junto com o professor da Escola de Belas Artes (EBA) João Dannemann e artista formada pela EBA Ana Lima, artista formada na escola se uniram num projeto de catalogação dessas obras que o registrado começou a ser feito.
O projeto ainda não foi finalizado, mas já conta com mais de 400 peças registradas no Repositório institucional da UFBA. O trabalho realizado se torna mais que importante uma vez que deixa claro todos os bens materiais e imateriais da UFBA como explica Lídia. “Ninguém sabia que nós tínhamos obras de Carybé no Instituto de Informação, só sabia quem ia lá”, conta.
Todo esse material alocado na UFBA, segundo a diretora da EBA, Nanci Novais, mantém viva a história das artes na Bahia e, principalmente, na EBA que foi a primeira escola de belas artes do estado e segunda no Brasil. “Esse material preserva a memória e ressalta a importância da escola que ao longo dos anos tem um histórico de doar obras de arte para a Universidade”, afirma. A própria diretora da EBA já doou sua obra “Pilar da sabedoria”, localizada na frente de Letras. O trabalho é fruto de sua tese de doutorado e é uma homenagem às letras, pois segundo a artista, as letras são como a coluna do conhecimento, que para ter acesso a outras informações é preciso conhecê-las.
O acervo da UFBA é rico em esculturas, pinturas, mosaicos entre outros materiais artísticos de grande valor. Muitas dessas peças foram cedidas pelos próprios artista e estão entre estes Carybé, Bel Borba e alunos e professores da EBA. Uma das peças mais valiosas no acervo, segundo Nanci, é a réplica em gesso da Vênus de Milo.A professora garante que a estátua é a última réplica retirada do Museu do Louvre e é uma das poucas peças que sobreviveram à última mudança da escola.
Muitas vezes por não conseguir abrigar tantas obras na universidade, as produções são submetidas a uma seleção de especialistas em arte.Se a obra tiver boas referências e for considerada importante pela comissão, fica em exposição. Nanci queixa-se o fato de muitas vezes não conseguir receber tantas obras quanto gostaria. “Por não termos ar-condicionados suficientes já tivemos que recusar algumas obras para preservá-las”, lamenta.
Patrimônio ameaçado – No entanto, tamanha riqueza vem sendo ameaçada. O tempo, a erosão causada pela chuva e pelo sol e a intervenção das pessoas vem aos poucos deteriorando o patrimônio da Universidade. Isso tudo acontece em meio à falta de verba destinada a manutenção das mesmas. “Já foi solicitado várias vezes essa verba para manutenção, mas nunca obtivemos êxito”, afirma a diretora da EBA, Naci Novais. Segundo ela, toda restauração feita na Escola se dá através de dois métodos: uma matéria em que o professor utiliza o espaço para ensinar os alunos enquanto repara os bens artísticos da escola e o projeto de extensão “A Memória da EBA”, que possui um professor tutor e alunos bolsistas que trabalham apenas para no restauro e reparo das obras.No entanto, esse trabalho não inclui todo o acervo da universidade, apenas o da EBA.
Quanto ao acervo da UFBA, a superintendente de bibliotecas da UFBA e responsável pelo projeto de catalogação das obras, Lídia Toutain, afirma que a SUMAI (Superintendência de Meio Ambiente e Infraestrutura) seria o órgão responsável pela manutenção do monumentos artísticos. No entanto entramos o coordenador da Superintendência, Antônio Lobo, informou à reportagem que não são responsáveis por essa pelo trabalho.
Como se a falta de verba não fosse suficiente, ainda é preciso enfrentar a dificuldade que é achar os materiais para o reparo. “Em salvador não tem material bom para restaurar uma obra e apesar de termos um contato próximo com a Casa dos Artistas, que fica em São Paulo, não sai barato”, declara Nanci, que completa: “nós damos sorte quando um professor viaja para a Europa e traz algum dos materiais necessários de presente”. E, muito embora a UFBA disponha de uma equipe de restauração que atua no Museu de Arte Sacra, não é suficiente para a demanda da universidade.
Além disso, segundo a diretora da EBA, uma parte do acervo também foi perdido quando algumas pessoas o levaram peças para suas casas sem a devida permissão. “Com a mudança, nós perdemos muitas obras, as pessoas olhavam e diziam ‘Ah que linda essa obra! Vou levar para minha casa’ ou ‘Ah eu adorei essa! Vou levar para mim’”.
Sobre o valor do que restou do acervo, sabe-se que é valioso mas não se sabe exatamente em quanto é estimado. A superintendente de bibliotecas da UFBA, Lídia Toutain, garante que a Proplan (Pró-Reitoria de Planejamento e Orçamento)“ tem um projeto de contratar pessoas para avaliar cada uma das obras. “Essa medida foi tomada porque existe uma demanda do Ministério do Planejamento para que a UFBA informe o valor de seu acervo artístico no portal da transparência”, revela.
Para a solução desse dilema, Lídia defende que a restauração se dê por meio de editais. “Eu acho que todo programa de restauração deveria ser feito através de editais como o do BNDES, por exemplo”. Sua argumentação é feita com respaldo na experiência obtida ao ser contemplada com editais nos quais ela e sua equipe se inscreveram em prol da conservação do acervo documental. “Eu acredito que a própria universidade poderia buscar esses editais, ou mesmo buscar fazer um contrato de manutenção das obras de arte e monumentos”, conclui Lídia.