Agenda na Saladearte: A Odisseia dos Tontos promete sonhadora jornada em uma Argentina abatida pela crise

Por Amanda Braga e Luciana Freire

O que significa a palavra ‘tonto’? Será que somos tontos? Quem são os espertos? A Odisseia dos Tontos é um nome curioso para um filme que, de cara, já promete uma jornada cheia de trapalhadas. Esse é o novo filme do diretor Sebastián Borensztein, e representante argentino na corrida ao Oscar 2020. O elenco reúne Darín pai e filho juntos pela primeira vez nas telas. O longa entrou em cartaz nessa quinta-feira (31) no circuito Saladearte.

Em uma pequena província de Buenos Aires, um grupo de amigos decide investir suas economias em um negócio que tinha grandes chances de vingar. Encorajados por Fermín Perlassi (Ricardo Darín) e por sua esposa Lídia (Verónica llinás), o grupo consegue boa parte da quantia necessária para reerguer uma antiga cooperativa agrícola da cidade. Ainda assim é necessário que um empréstimo no banco seja realizado para que a quantia total seja alcançada. 

É a partir desse ponto que as coisas começam a desandar. Essa é a primeira surpresa do filme, o que parecia ser somente um enredo lúdico tem como camada de fundo uma Argentina no começo dos anos 2000, que estava prestes a entrar em uma severa crise econômica e política. O “corralito” foi uma medida do governo argentino que limitou o acesso às contas bancárias, evento traumático para o país, que na trama adiou o sonho de Lídia e seu esposo.

Apesar de ser baseado em um momento histórico desanimador, o longa consegue nos fazer rir em diversas cenas, graças às boas atuações e também pelo enredo bem construído. O roteiro consegue trazer o contexto também como alívio cômico, evidenciando a animação e curiosidade com as tecnologias que estavam surgindo, como a popularização dos celulares. E é por meio dessas cenas divertidas que somos convidados a acompanhar a verdadeira odisseia que esse grupo enfrenta quando descobre uma chance de reaver o dinheiro que lhes foi roubado. 

A comédia dramática inspirada no livro “La noche de la usina” de Eduardo Sacheri cativa o espectador, nos faz prender a respiração em diversos momentos decisivos, além da torcida para que o grupo consiga executar da melhor maneira o plano que criaram. O plano é outro elemento bem construído, com a criatividade que só os tontos poderiam ter, inspirados pelos filmes da era de ouro de Hollywood, a engenhosidade e sua execução provocam tensão e divertimento.

Com um final nada clichê, cativante desde a apresentação dos personagens e sua progressão, o filme foi bem recebido pelo público internacional. A sua estreia em um contexto atual de crise na Argentina e de outros países da América Latina, momento de instabilidade que reacendeu os sentimentos do episódio representado no longa, pode ser vista como uma esperança. A justiça feita pelos sonhadores, tontos por continuarem sonhando e lutando por dias melhores é de fato uma odisseia pela qual se vale a pena superar.

Serviço
Filme: “A Odisseia dos Tontos” (“La Odisea de los Giles”) (Direção: Sebastián Borensztein. Argentina, 2019)
Quando e onde assistir: Diariamente 18:25 *Não haverá sessão terça e quarta – 18:25
Saladearte Cinema da UFBA (Av. Reitor Miguel Calmon, s/n – Vale do Canela – Ao lado das Faculdades de Educação e Administração

*Essa resenha faz parte de uma parceria entre a Agenda Arte e Cultura e o Circuito Saladearte. Mais detalhes sobre essa parceria podem ser conferidas aqui. 

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