Caio Fernando Abreu é tema de documentário poético exibido pelo Cinemas em Rede
Por João Bertonie
“Chovia sempre e eu custei para conseguir me levantar daquela poça de lama, chegava num ponto em que era necessário um esforço muito grande, um esforço tão terrível que precisei sorrir mais sozinho e inventar mais um pouco, aquecendo meu segredo”. Este trecho do conto “Além do ponto”, de Caio Fernando Abreu, foi um dos muitos textos do escritor e poeta gaúcho presentes no documentário “Sobre sete ondas verdes espumantes”, filme sobre o autor de livros como “Morangos mofados” e “Os dragões não conhecem o paraíso”. A exibição aconteceu em sessão única, como parte do projeto Cinemas em Rede, na SaladeArte da Ufba, na última terça-feira, 13.
Dirigido por Bruno Polídoro e Cacá Nazario, o filme é um roadmovie poético construído com base na vida e obra – ambas dolorosas, dramáticas e intensas – de Caio Fernando Abreu. Durante a maior parte do documentário, a câmera se comporta como um personagem, percorrendo pelas cidades nas quais o “fotógrafo da fragmentação contemporânea” morou, como São Paulo, Porto Alegre, Berlim, Londres e Amsterdã. O documentário, que, como a escrita de Caio, é bem pouco convencional e didático, exibe também depoimentos de amigos e estudiosos do escritor, como Maria Adelaide Amaral e Bernard Bretonnière. Coerente à obra do contista e romancista, “Sete ondas” divide-se em sete blocos, cada um abordando um aspecto da literatura de Caio – a onda da solidão, do espanto, do amor, da melancolia, do transbordamento, do irremediável e além dos muros.
A plateia, formada em maior parte por admiradores do escritor, recepcionou bem o filme, que terminou com Adriana Calcanhoto cantando em homenagem a CFA. “Caio é um poeta muito urbano e eu acho que o filme capturou bem isso, privilegiando e dando voz a ele”, afirmou o poeta, também gaúcho, Edson Migracielo. Assim como muitos, Migracielo tem uma relação íntima com os escritos de Caio, sempre muito pessoais e transgressores.
“Sobre sete ondas verdes espumantes” foi um filme oferecido pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) como parte do Cinemas em Rede, projeto que ocorre sempre às segundas e terças-feiras, em quatro salas universitárias do país. A iniciativa tem por objetivo a ampliação do acesso ao conteúdo audiovisual produzido no país, valorizando os filmes nacionais que perdem espaço em favor das grandes produções no circuito comercial. “A gente acaba perdendo espaço para os homens-aranhas”, brinca Ludmila Cavalcante, gerente da SaladeArte. A coordenadora do projeto, Elizabeth Barbosa, concorda: “A distribuição é um dos grandes gargalos do cinema nacional”.