Diretora Hyndra Lopes fala sobre o curta-metragem “Eugênia e Fausto”, obra que explora as relações entre o cinema e o teatro

A aguardada pré-estreia do curta-metragem “Eugênia e Fausto” está prevista para o dia 17 de julho de 2023 (segunda-feira), às 18h, na Sala de Cinema Walter da Silveira

Por: Gleisi Silva

Inspirando no cinema brasileiros dos anos 70 e 80, o filme “Eugênia e Fausto” é uma adaptação parcial do escrito teatral: “Um certo Nelson Rodrigues ou a soma das nossas obsessões”, de Núbia Bento Rodrigues. O curta, dirigido e roteirizado por Hyndra Lopes, narra a história de dois personagens que formam um casal: Eugênia, interpretada pela atriz Cecília Veras, e o Fausto, interpretado pelo ator João Marcos Guimarães. 

A aguardada pré-estreia do curta-metragem “Eugênia e Fausto” está prevista para o dia 17 de julho de 2023 (segunda-feira), às 18h, na Sala de Cinema Walter da Silveira, no bairro dos Barris, em Salvador. A ideia de adaptar um texto teatral para as telas de cinema surgiu a partir do interesse da diretora em explorar os pontos de convergência entre o cinema e o teatro. Após ter acesso ao escrito de Núbia, ela encontrou o cenário perfeito para sua nova empreitada. 

cartaz divulgação pré-estreia eugênia e fausto, sala walter
Divulgação.

A sessão, pública e gratuita, conta com apoio institucional da Diretoria de Audiovisual da Fundação Cultural do Estado da Bahia e Governo do Estado da Bahia. Após a exibição, haverá uma sessão de perguntas e respostas com a equipe de produção, uma ótima oportunidade para o público conhecer melhor o processo de construção do filme. 

Através de diálogos influenciados e uma atmosfera densa, o curta-metragem convida o público a refletir sobre a natureza humana e seus conflitos. O filme promete conquistar corações e despertar discussões sobre o legado duradouro de Nelson Rodrigues, que segue encantando e emocionando a todos que o admira.  Em entrevista para a Agenda Arte e Cultura, Hyndra conta como aconteceu o processo de montagem e criação do filme. 

Agenda Arte e Cultura: Como surgiu a ideia para o seu curta metragem?

Hyndra Lopes: A ideia do curta Eugênia e Fausto surgiu do meu interesse acerca dos interstícios entre o cinema e o teatro e como essas linguagens se aproximam e se distanciam. O texto de “Eugênia e Fausto” é uma adaptação parcial do escrito para teatro “Um certo Nelson Rodrigues ou a soma das nossas obsessões”, de Núbia Bento Rodrigues, publicado em formato de livro em 2018 pela Editora Kazuá. Nesse interesse entre o cinema e o teatro, pensei em adaptar um texto de teatro para o cinema. O escrito de Núbia chegou até mim e considerei interessante a possibilidade de experimentar essas linguagens.

A. A. C: Quais foram as principais inspirações para a narrativa e estética visual do curta?

H. L: As principais inspirações do filme estão relacionadas com o cinema brasileiro dos anos 70 e 80, principalmente os filmes baseados em obras de Nelson Rodrigues, que é um dos autores mais adaptados do nosso cinema.

Frame curta-metragem Eugênia e Fausto.
Frame curta-metragem Eugênia e Fausto.

A. A. C: Qual foi o maior desafio que enfrentou durante o processo de produção do filme?

H. L: O maior desafio do filme foi a falta de verba, fizemos o curta de forma coletiva e sem recursos, cada pessoa da equipe cedeu seu tempo, seu talento e contribuiu com os custos que tivemos.

A. A. C: Como foi o trabalho de seleção do elenco e como você abordou a direção dos atores?

H. L: O filme tem dois personagens: Cecília Veras que interpreta Eugênia e João Marcos Guimarães que encarna Fausto. Já conhecia o trabalho de Cecília, através de Vica Portela (ela dirigiu Carne Crua, Cecília atuava neste filme) e convidei Cecília para “fazer uma coisa meio Sônia Braga” (em referência a “A dama do lotação”, 1978). Ela topou interpretar Eugênia e está maravilhosa. Não conhecia um ator disposto a interpretar Fausto. Comentei com Nicolas Arize (diretor de fotografia e montador do filme) sobre a necessidade de um ator e ele me apresentou João Marcos Guimarães, que também concordou em desempenhar o papel de Fausto. Conversamos muito de cada personagem, o sentido de Nelson Rodrigues contemporaneamente, das obsessões e relações amorosas, e deixei os atores livres para experimentarem.

Frame curta-metragem Eugênia e Fausto.
Frame curta-metragem Eugênia e Fausto.

A. A. C: Quais técnicas ou recursos específicos você utilizou para transmitir a mensagem ou sentimento que desejava com o curta?

H. L: O curta explora os interstícios entre o cinema e o teatro, utilizei de ambas as linguagens e suas possibilidades metalinguísticas, ao exemplo da câmera de teatro, planos gerais, em um jogo de experimentar na tela de cinema um palco de teatro.

A. A. C: Qual foi a sua abordagem para a composição da trilha sonora e como ela complementa a narrativa do filme?

H. L: A trilha sonora tem quatro músicas fundamentais para a construção da narrativa. No início da trama, a música além de remeter aos anos 1950, época em que a obra de Nelson Rodrigues começou a ser adaptada para o cinema, diz sobre as relações amorosas e suas manias. A trilha se complementa com pequenos fragmentos musicais e faço uma homenagem à divina, maravilhosa Gal Costa.

A. A. C: Quais foram os critérios utilizados para escolher os locais de filmagem e como isso contribui para a atmosfera do curta?

H. L: O curta foi gravado em um apartamento, em que a atmosfera deveria brincar com possibilidades do teatro e do cinema. A direção de arte foi fundamental para ambientar as manias e obsessões desse casal, Eugênia e Fausto. Vemos as estantes de cada um, aparentemente Eugênia é aficionada por Cinema e Fausto tem interesse no Teatro rodrigueano. Escolhi um lugar em que se poderia se apropriar do cenário e incrementar objetos cênicos e experimentar, através da arte e das escolhas cinematográficas, a ambientação de um palco.

O curta explora os interstícios entre o cinema e o teatro, utilizei de ambas as linguagens e suas possibilidades metalinguísticas, ao exemplo da câmera de teatro, planos gerais, em um jogo de experimentar na tela de cinema um palco de teatro.

A. A. C: Como foi o processo de edição do filme e como você decidiu a sequência final das cenas?

H. L: A edição e montagem do filme foi realizada por Nicolas Arize. Nicolas fez sugestões valiosas. Esses dias estávamos conversando e ele lembrou que durante a edição, por questões de incompatibilidade da transmissão online, Nicolas não só foi meus olhos, como meus ouvidos e o costureiro que uniu imagens e sons.

Passamos por momentos e perrengues na montagem, mas foi ótimo contar com ele. A montagem seguiu a decupagem e a medida que Nicolas editava, várias sugestões dele concederam ao filme outras possibilidades de interpretação.

Frame curta-metragem Eugênia e Fausto.
Frame curta-metragem Eugênia e Fausto.

A. A. C: Quais são seus planos para o futuro em relação ao curta metragem? Pretende inscrevê-lo em festivais de cinema ou buscar distribuição?

H. L: Desde abril de 2023, estou em busca de exibir o Eugênia e Fausto publicamente. Porém, apesar dos meus esforços, fico sem saber o que se fará com Eugênia e Fausto (coitados, estão à deriva!). Por questões diversas que não dependeram de mim, as sessões pública e gratuitas de Eugênia e Fausto, em locais de exibição propícios foram adiados, cancelados e sem previsão de novas datas. O que é extremamente frustrante para mim, como realizadora, que acredita que o cinema brasileiro deve ocupar as telas de cinema do país e ser visto. Além disso, depois das gravações do filme, não tive nenhuma oportunidade de reunir a equipe, todos nós ficamos na expectativa de que a finalização do Eugênia e Fausto aconteceria após uma exibição pública, em que iríamos comentar o filme, dizer nossas percepções, nos despedir deste trabalho, colocar uma vassoura atrás da porta, expulsá-lo de casa e jogá-lo no mundo. Não aconteceu, é um elo em aberto.  

Agora no dia 17 de julho, segunda-feira, às 18h, conseguimos uma pauta na Sala Walter da Silveira (Barris) e iremos fazer a primeira exibição pública e gratuita. Após a sessão de Eugênia e Fausto, terá um bate-papo com toda a equipe do filme. Convidamos vocês! Depois disso! Pensarei também na possibilidade de inscrever o filme em festivais.

Ficha Téncina de “Eugênia e Fausto” 

Sinopse: Eugênia e Fausto assistem a um filme baseado em Nelson Rodrigues.

Ficha técnica do filme

Duração: 16′

Direção, roteiro adaptado, arte e figurino: Hyndra

Roteiro original: Núbia Bento Rodrigues

Elenco: Cecília Veras (Eugênia) e João Marcos Guimarães (Fausto)

Direção de fotografia e montagem: Nicolas Arize

Produção executiva e assistência de fotografia: Julia Heberlé Neubern

Som: Pedro Botto

Maquiagem: Mariana Teixeira

Produção: Vica Portela

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