Curta produzido por estudantes da UFBA é selecionado para o Festival de Cannes
O filme teve orçamento de R$ 1,2 mil captados através de uma plataforma de financiamento coletivo
Por Kelven Figueiredo*
Inteiramente gravado nas dependências da UFBA, o curta-metragem baiano “Um Dia é da Vida, o Outro da Morte” será exibido no Festival de Cannes, que acontece de 17 a 28 de maio, na França.A equipe da produção é composta pelos alunos Calebe Lopes, diretor; Hilda Lopes Pontes e Rodrigo Weber, assistentes de direção; Klaus Hastenreiter, na produção; Erdman Correia, na produção executiva; Rafael Beck assinando o som; Lana Scott, Rafael Beck e Thiago Duarte, no Boom; trilha sonora original de Pablo Contijo; direção de arte de Nicole Passos; direção de fotografia assinada por Alan Leonel e design gráfico de Henry Hingst. O filme foi selecionado para compor a mostra, na modalidade não competitiva, Short Film Corner.
“A gente já tinha feito uma campanha para conseguir gravar o filme. É um curta-metragem de baixo orçamento, então optamos pelo crowdfunding para ajudar nas coisas mais básicas”, declara Calebe, que revela ainda ter submetido a obra também para a Cinefondation, categoria competitiva, voltada para filmes realizados por estudantes de cinema. “É uma categoria significante e disputada, e infelizmente não conseguimos a seleção nela – apenas uma pessoa do Brasil conseguiu, um estudante da UFF”, lamenta o cineasta.
Para ele, a seleção para a categoria Short Film Corner representa uma vitrine para os novos cineastas. “Os aceitos no Corner permitem que os realizadores ou produtores do filme vão para Cannes e apresentem seu filme lá, conheçam outros realizadores, tenham workshops, masterclasses e o mais importante, vendam seus filmes. É um espaço onde vão cinéfilos, cineastas, distribuidores, curadorias de festivais, etc”, destaca Lopes, comemorando a aprovação de seu projeto, cujo orçamento foi de cerca de R$ 1,2 mil, captados através de uma plataforma de financiamento coletivo e resto veio de uma co-produtora de Brasília, a Sileo Filmes.
A sinopse do filme pode ser resumida rapidamente em “Um assassinato ocorreu na universidade nesta manhã. Só que ninguém liga”. A ideia surgiu de dois temas que o diretor sentia necessidade de abordar. “O primeiro é um comentário sobre o próprio espaço geográfico da Ufba. É uma universidade federal, um espaço público enorme, que se configura como um espaço dedicado ao conhecimento e à liberdade, tem livre acesso por parte da população, mas ao mesmo tempo é totalmente perigoso”, explica Calebe. “Como aluno da Ufba, você vai aprendendo que tem partes que não é bom andar sozinho, tem partes que de noite não rola. Até mesmo quando estávamos gravando, tinham partes que a ronda da segurança passou e não deixou a gente filmar, alegando que se ficássemos ali era certo que seríamos assaltados. Então inicialmente parte da ideia de comentar sobre a relação entre esse espaço público tomado de matos, construções inacabadas e lugares vazios e também sobre como os alunos se relacionam com esse espaço”, acrescenta o estudante.
A segunda motivação, segundo ele, veio de outra observação, sobre o quanto as redes sociais impulsionaram o que ele considera um comportamento curioso, um “ímpeto para registrar e compartilhar tragédias”. “A gente às vezes recebe fotos e vídeos horríveis no Whatsapp e no Facebook, por exemplo, de morte e violência. Coisas que fazem mal a alguns, enquanto outras pessoas estão totalmente acostumadas a isso. Se banalizou a morte, a violência, ela não apenas está ao nosso redor, como está nos nossos smartphones e achamos isso normal”, exemplifica, sobre a história que se passa em uma universidade sem nome. “Foi achado um corpo pela manhã, a polícia chega e tranca tudo, não deixa ninguém sair. Quem conseguiu sair antes, de boa, mas quem não conseguiu, fica preso lá dentro até as investigações terminarem. A partir daí, o filme acompanha alguns personagens dentro daquele espaço e como eles se relacionam com a morte, porque há enormes chances, não apenas de o assassino ainda estar na faculdade, como também de o assassino ser um deles.”
O diretor ainda pontua que se trata de personagens frios, egoístas, esquisitos, munidos de seus celulares, câmeras e filmadoras, andando como mortos-vivos digitais, mais preocupados com seus próprios problemas do que com a vida. O filme tem um clima muito de pesadelo, não é a nossa realidade, o nosso mundo, é uma representação exagerada e sombria disso, talvez o que possamos nos tornar. O trailer já está disponível no canal do Youtube do diretor.
O elenco do curta-metragem é composto por Elcian Gabriel, Maria Kamilly, Luan Gusmão, Klaus Hastenreiter, Gustavo Busson e Paulo Papel.O filme que é totalmente independente.
*com informações do Bahia Notícias