Hiroshima Mon Amour, de Alain Resnais, fecha ciclo do Cineclube Glauber Rocha antes da Copa
Por Rayssa Guedes
“Como tu, também eu sou dotada de memória. Tentei lutar com todas as minhas forças contra o horror de já não compreender o porquê dessa recordação. Como tu, também eu esqueci; porque negar a evidente necessidade da memória?”. Memória. Uma característica presente em Hiroshima Mon Amour ( Hiroshima, Meu Amor), de Alain Resnais, exibido na última terça(3), no Cinema Glauber Rocha através do projeto Cineclube.
A memória trazida de forma extremamente poética em Hiroshima Mon Amour revela a beleza dos personagens, seja no amor ou na dor. Esquecer ou relembrar, a memória possui o poder de mexer com as sensações, atitudes e com o destino das pessoas. O diretor Alain Resnais trabalha com a interpenetração do amor e da morte, tendo como ambiente ativo o peso da lembrança. É como se todo o sofrimento do mundo se confrontasse com a efemeridade do sentimento, e com o traumatismo da memória.
Hiroshima mon amour é um drama franco-japonês de 1959, dirigido pelo cineasta Alain Resnais, com roteiro de Marguerite Duras. O filme narra o encontro amoroso entre uma francesa e um arquiteto japonês em Hiroshima, quatorze anos após o final da Segunda Guerra Mundial. A mulher é atriz e está de passagem pela cidade, onde participa de um filme anti-guerra. Em breve retornará a Paris. A certeza da separação paira sobre eles. Além de amantes, tornam-se confidentes. Evocam histórias do passado, traumas vividos em tempos de guerra.
Após a sessão, o crítico de cinema e professor da Faculdade de Comunicação da UFBA, André Setaro, conversou com o público presente sobre o filme e o cinema em geral. Num bate-papo leve, descontraído e inteligente, Setaro pontuou algumas características importantes do cinema de Resnais. “A constante de Resnais é a memória, ele usa o tempo. Tempo e memória, nada mais coerente. Você é sua memória, seu passado”, comenta. O fio da memória é sempre presente em Hiroshima, Meu amor, e pode ser identificado no uso dos flashbacks, recurso inovador para época já que o filme é do final da década de 50, para representar a memória afetiva da personagem feminina. Um recurso para “presentificar o pretérito”, segundo André Setaro.
O professor ainda comentou sobre “a importância da reativação de uma velha prática, a dos cineclubes, em um momento tão apático da arte”, afirma. Setaro também declarou que quando mais jovem participou assiduamente do Cineclube da Bahia, sediado no antigo Cinema Guarani (atual Cinema Glauber Rocha) nas décadas 50 e 60, um dos mais expoentes cineclubes nacionais, encabeçado por Walter da Silveira, e que formou toda uma geração, com nomes como Orlando Sena, Roberto Pires, Glauber Rocha e Caetano Veloso.
O projeto Cineclube Glauber Rocha volta após a Copa do Mundo com sessões já definidas até o final deste ano. Conforme a proximidade das sessões o projeto divulgará os filmes a serem exibidos. Sempre acessível, as sessões possuem um preço simbólico: R$ 1,00 a inteira, R$ 0,50 a meia. Com periodismo quinzenal, sempre às terças-feiras, às 20h.