Sessão dupla de documentários estreia o projeto Cine-Teatro na Escola
Por João Bertonie
A exibição de dois documentários sobre a vida e a obra do ator Mário Gusmão (1928 – 1996), “Odu” (2013) e “Mário Gusmão: O anjo negro da Bahia” (2005), marcaram o início do Cine-Teatro na Escola, projeto de extensão do Programa de Pós Graduação de Artes Cênicas da Ufba (PPGAC/Ufba), na última segunda-feira, 08. O evento, que ocorreu na sala do Teatro Martim Gonçalves, da Escola de Teatro da Ufba, foi finalizado com um bate-papo sobre o ator baiano e sua importância para as artes dramáticas e para o movimento negro na Bahia.
Natural de Cachoeira, Gusmão é considerado precursor do movimento negro em Ilhéus e Itabuna, ainda na década de 1980, tendo sido o primeiro formando negro da Escola de Teatro da Ufba, fato explorado nos dois documentários sobre o artista. Em seu ápice, participou da “era de ouro” do teatro baiano e passou pelos palcos do Teatro Vila Velha e do próprio Martim Gonçalves. O ator foi relevante não só no teatro, mas também no cinema nacional, quando trabalhou com nomes como Glauber Rocha e Sônia Braga e participou de filmes como “O dragão da maldade contra o Santo Guerreiro”, épico western de Glauber, de 1969, e “Dona Flor e seus dois maridos” (1976).
Após a exibição dos dois documentários foi aberta uma mesa de discussão com quatro pesquisadores do campo das artes cênicas. Elson Rosário, realizador de “Mário Gusmão: O anjo negro da Bahia”, iniciou o debate, falando sobre sua experiência na produção do longa-metragem. “Tenho uma admiração pessoal muito forte por Mário, que foi uma figura tão importante para o pertencimento do negro na Bahia”, afirmou o diretor e roteirista.
Raimundo Matos de Leão, ator e docente da Escola de Teatro, também participou do debate. Ele, que foi um dos organizadores do livro “Tempo de dramaturgia” (Edufba, 2014), falou sobre a falta de ensino da cultura de tradição negra nas escolas do país, problema que há anos vem sendo debatido também na esfera política, com a PL 10.639, de 2003 – projeto de lei que visa fomentar o aprendizado da cultura e história afrobrasileira nos ensinos fundamental e médio. “Se o ensino da arte no país é deficitário, o ensino da cultura negra também é deficiente”, concluiu o ator.
Maria Anunciação, coordenadora do projeto “Mário Gusmão vai à escola”, no qual procura apresentar aos alunos da rede pública do estado parte do legado artístico e cultural do ator baiano, também compunha a mesa. Ela, junto com a coordenadora do Cine-Teatro na Escola, Célida Salume, dedicou-se a falar sobre a importância de Gusmão para a memória afrobrasileira.
Conheça o projeto
O Cine-Teatro na Escola conta com exibições de 16 filmes selecionados por uma curadoria de um grupo de alunos da Escola de Teatro da universidade com a assistência de professores. As sessões estão agendadas semanalmente até dezembro. “O objetivo é agregar conhecimento à graduação de estudantes de Artes Cênicas, com filmes que dialogam com a comunidade em geral”, explica a professora Célida Salume, que idealizou o projeto junto com a atriz e diretora Lilih Curi. Segundo elas, todas as sessões serão finalizadas com uma mesa-redonda composta por artistas e pesquisadores convidados.
O projeto acontece todas as segundas-feiras, às 18h30, no Teatro Martim Gonçalves, até dezembro.
Serviço
O quê: Cine-Teatro na Escola
Quando: todas as segundas-feiras, às 18h30
Onde: Teatro Martim Gonçalves (Rua Araújo Pinho, 292, Canela)
Quanto: gratuito