O que fazer antes de aceitar os termos de uso? Entenda como garantir sua segurança digital
Saiba como lidar com a coleta de seus dados pelas plataformas online
Por Luana Lisboa*
Por todo o Instagram, Twitter e Facebook, têm circulado selfies das pessoas em seus gêneros opostos. É que o aplicativo FaceApp, que permite fazer brincadeiras com seus dados de reconhecimento facial, voltou a viralizar, após ter sido “cancelado” no ano passado. Alvo de controvérsias pelas brechas em sua política de privacidade, a plataforma não é a única a coletar dados do usuário e os compartilhar com outras empresas. Assuntos como proteção de dados e ciberespionagem, então, voltaram a ser discutidos pelos internautas.
A Agenda conversou com especialistas do meio digital para entender quais riscos corremos e qual a melhor forma de proteger nossos dados na Internet.
Não existe serviço de graça
A primeira ideia a ser entendida é uma máxima do comportamento social, que também deve ser pensada no mundo digital: não existe serviço gratuito. É o que conta o projeto Blogueiras Negras, comunidade online com mais de 1300 mulheres que escrevem a partir de suas vivências como mulheres negras. “Se alguma empresa te oferece um serviço em troca de ‘apenas’ seus dados, isso significa que os seus dados são a moeda de troca”. Dito isso, até redes sociais como o Facebook devem ser motivo de um “pé atrás”.
Só os botões de “curtir” e “compartilhar” já são ferramentas de coleta de dados. Com eles, o Facebook pode coletar “endereço IP, informações do seu sistema operacional e navegador, e endereço do site ou aplicativo que você está usando”. As mesmas informações são obtidas ao fazer login em outro serviço (como o Spotify) através do seu Facebook. Apesar de a empresa ter sido alvo de denúncias relacionadas à privacidade do usuário em 2018, segundo seu relatório financeiro de 2019, sua quantidade de usuários mensais e diários ainda chegou a aumentar para 8%, no mesmo ano.
Isso talvez se explique pelo fato de muitas pessoas pensarem: “Mas se todos os dados já estão nas redes e todas elas estão interligadas, de que adianta se privar agora?”. E tem sentido. Sobre isso, o grupo Blogueiras Negras comenta: “Quanto mais informação a gente vai dando e espalhando, mais nossa liberdade, privacidade e possibilidade de escolha vai sendo moldada – ou a gente acha mesmo que as publicidades direcionadas e as sugestões do que comer são mero reflexo do nosso puro e simples desejo?”.
Questione-se sobre a finalidade de dar aquela informação
“Costumamos dizer que o mundo é virtual, mas as consequências são reais, e não poderia ser menos verídico”. É o que dizem Adriana Silva e Amy Guerra, estudantes da UFBA do curso de Sistemas de Informação e Bacharelado Interdisciplinar em Ciência e Tecnologia, respectivamente. Ambas fazem parte do projeto Meninas Digitais, composto por mulheres de diversas áreas do conhecimento das universidades de Salvador e vinculadas ao Programa Onda Digital, do Departamento de Ciência da Computação da UFBA. Elas acreditam que uma das melhores formas de nos cuidarmos no meio online é mantermos sempre o estado de alerta, a começar pelos sites que pedem um login para acessar informações. Se você realmente precisa fazer esses cadastros, elas indicam a criação de um e-mail apenas para isso, ao invés de fornecermos o e-mail que mais utilizamos, normalmente vinculado ao nosso celular e, por isso, o que mais contém informações nossas.
“Para quê fornecer o CPF para fazer o cadastro em um site de sorteio online? São coisas nesse sentido. Todos nós possuímos rastros digitais e é importante rever o máximo de informações que estamos fornecendo, de forma ativa ou passiva”. Em suas palestras, elas costumam indicar o site https://datadetoxkit.org, que possui dicas para fazermos um “detox” em nossos dados.
“Em geral, temos nos preocupado muito pouco”. Cuidado ao ceder documentos pessoais em aplicativos de banco e auxílios do governo durante a pandemia, pesquisar e ler críticas sobre os aplicativos que fazem compras online e entrega delivery são essenciais na prevenção do usuário. “E se você possui essas precauções, mas os seus familiares não, ajude-os. Dispositivos manuseados por crianças e idosos devem estar ainda mais protegidos”, lembram.
Não conte com a legislação, leia os termos de uso
É preciso também ter em mente que a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) ainda não vigora no Brasil. Embora já sancionada por Michel Temer em 2018, foi prorrogada pelo atual governo para entrar em vigor em 3 de maio de 2021. Na prática, isso significa que ainda estamos vulneráveis a ações de empresas que controlam nossos dados até 2021 e que a forma de prevenção é entender o que você está consentindo na Internet.
“Na verdade, os termos de uso são termos de adesão ou não, porque você não está convidado a debatê-los. Se não concordar, não pode utilizar o aplicativo. Por outro lado, ninguém os lê porque são muito longos e muito técnicos. O debate na verdade é sobre consentimento na Internet”, conta Graciela Natanhson, coordenadora do grupo de pesquisa da UFBA, Gênero, Tecnologias e Cultura. Ela também aponta que além de ainda não termos a Lei que nos protegeria, a maioria das redes sociais que usamos, tem a sede da empresa fora do país. Isso significa que também não chegam a se adaptar à nossa legislação.
As Blogueiras Negras ainda apontam que a importância em ler os termos de uso está em entendermos o quê e a quem estamos entregando nossos dados. “Geralmente as empresas dizem ali que podem compartilhar com terceiros, e aí é que entra o ‘x’ da questão: podem ser outras empresas, mas podem ser também governos e órgãos de vigilância. E o que vier depois é com consentimento nosso. Então, é bom sim ler e ficar de olho no que acontece depois de dizer ‘sim, li e aceito’, afirmam.
*voluntária da Agenda Arte e Cultura
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