“Boom” do Among Us: o que está por trás do sucesso do jogo?

A Agenda conversou com especialistas e jogadores para entendermos o fenômeno por trás do jogo

Luana Lisboa

9 tripulantes. 1 impostor. O objetivo do impostor é matar os tripulantes, um a um, sem que seja descoberto. O do tripulante é ficar vivo por tempo suficiente para fazer missões e, em conjunto com os outros, descobrir quem é o assassino da partida. Among Us é um jogo que existe desde 2018, quando contou com um mínimo de 25 usuários, mas que, em setembro de 2020, alcançou a marca de 100 milhões de downloads. 

“Foi a saudade dos amigos que fizeram as pessoas buscarem formas alternativas de socialização”, opina o jogador e estudante de Jornalismo, Pedro Gomes, sobre o motivo da popularização. “É um jogo com uma mecânica muito simples e acessível, dá pra todas as idades”, discorre Isabel Lima, jogadora que cursa Medicina. “Além de ser muito divertido de jogar principalmente por chamada de voz, ele tem um fácil acesso, praticamente de qualquer computador ou celular consegue jogar. E claro, sempre bom causar a discórdia na nave”, diz Breno Rosas, aluno de Ciências da Computação.

Among us: juntos pelo mesmo objetivo
Among us: juntos pelo mesmo objetivo

Depois de ouvirmos alguns jogadores da comunidade UFBA, a Agenda resolveu checar com especialistas quem estava certo e o que está por trás do sucesso do jogo, tão popular entre os jovens durante a pandemia.

Boca a boca e a interação social na pandemia
“A necessidade de se unir para superar os obstáculos mobiliza as pessoas em qualquer época, mas especialmente agora no período de pandemia, isso intensifica. O que eu acredito que aconteceu [para que a popularização do jogo acontecesse] foi a possibilidade de poder interagir com outras pessoas para solucionar os desafios do jogo e de fora dele”, explica Lynn Alves, doutora em Educação pela UFBA e pós-doutora em Jogos eletrônicos e aprendizagem pela Università degli Studi di Torino, na Itália.

Pandemia ressaltou importância dos jogos na interação social, diz Lynn Alves (foto: Acervo pessoal)
Pandemia ressaltou importância dos jogos na interação social, diz Lynn Alves (foto: Acervo pessoal)

Essa também é a opinião do psicólogo Matheus Cerqueira, que pesquisa jogos eletrônicos. “Os jogos eletrônicos se tornaram uma das fundamentais formas de interação, de reunir amigos, familiares e aproveitar um momento prazeroso”. Para ele, um dos principais fatores que explica o sucesso do jogo e similares é a acessibilidade fácil e a incorporação de papéis, que permitem que o objetivo seja cumprido. “Se pensarmos nos jogos mais populares atualmente no mobile, podemos trazer como exemplo: Free Fire, Pokemon Go, Clash of Clans e etc. Apesar de não termos como proposta principal a investigação, temos ali a incorporação de papéis de forma lúdica”.

Psicólogo ressalta que os jogos são uma forma de interação
Psicólogo ressalta que os jogos são uma forma de interação e de prazer entre os participantes (foto: acervo pessoal)

Também relembra que os jogos eletrônicos combinam cores, imagens, sons e uma comunicação única. “Se juntarmos isso, com um tempo estipulado e um conjunto de regras consentidas, conseguimos despertar a curiosidade, a alegria, a tensão e outros diversos conjuntos de sentimentos, sensações e comportamentos que fogem um pouco do cotidiano, gerando aquele momento único”. 

Também vale lembrar da importância do boca a boca, principalmente para jogos independentes que pouco investem em marketing, como o doutor pelo Lab404 e pesquisador de jogos, Thiago Falcão, explica: “Existe uma cadeia de circulação de conteúdos sobre jogos que é muito forte e essa cadeia é responsável por fazer com que esses jogos sejam conhecidos, como os sites Metacritic, Kotako, Gamasutra”. 

(foto: acervo pessoal)
(foto: acervo pessoal)

E o próprio desenvolvedor do Among Us, Forest Willard, já creditou o “boom” do jogo a essa cadeia, citando a rede social de lives, Twitch, como a responsável pelo sucesso. Foi assim que Breno Rosas conheceu também. “Descobri quando todos os streamers que eu acompanho começaram a jogar, daí eu já achava muito bom de assistir, uns grupos de amigos começaram a jogar e eu comecei também”. O estudante de Psicologia da UFBA, Felipe Meireles, concorda: “Conheci o jogo através da indicação de uma amiga minha e jogamos todos juntos pré-pandemia, o que me impulsionou a jogar foi esse boca a boca”.

 A dinâmica simples e a fórmula antiga
Outro fator a ser destacado é a mecânica simples do jogo, acompanhado a uma fórmula que já funcionou outras vezes em “Lobisomem”, “É o Assassino” e “Cidade Dorme”. A professora Lynn explica que além de ser um jogo envolvente que mobiliza, a curva de aprendizagem é fácil e vai se tornando difícil na medida que interagimos com o universo do jogo. 

Prova disso é a estudante de Física da UFBA, Amanda Bispo, que descobriu o Among Us através do irmão. Quando o viu jogar algo com dinâmica investigativa, logo se interessou. “Já joguei Detetive, Lobisomem, Dark stories… o comum deles é que vc põe a cabeça pra funcionar e tem que pensar na dinâmica”.

O pesquisador Thiago complementa: “Um jogo como esse certamente oferece um componente de diversão bacana porque se assemelha a dinâmica de jogos que os mais velhos estavam acostumados a jogar na infância então eu diria que a pandemia foi também variável significativa na adesão e popularização desses jogos”.

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