O yoga fora do tapete: conheça os coletivos que aproximam a prática da sociedade

Coletivos promovem ações para socializar prática do yoga 

Geovana Oliveira*

Em tempos de isolamento, nos guias para superar a quarentena e dicas para manter a saúde mental, o yoga é aconselhado por psicólogos e especialistas. A prática está disponível em lives do Instagram, vídeos no Youtube e aplicativos gratuitos, além dos diversos serviços pagos que liberaram cursos para ajudar a população nesse momento. Mas em Salvador, quando não há perigos em sair de casa e receber o auxílio mais atento de um profissional, tem gente facilitando o acesso à essa ciência secular nas ruas e nos museus.

Martha Fabiana, instrutora da prática, começou a ter um contato mais direto com o yoga nas aulas gratuitas que acontecem no Palacete das Artes, na Graça. Ela faz parte dos alunos que, em 7 anos, passaram alguma manhã do domingo com a professora Carla Dantas, no projeto Amanhecer com Yoga no Palacete. Quinzenalmente, o projeto leva ao museu pessoas de diversas áreas de Salvador.

Segundo Carla, além de quem mora no entorno, recebe alunos que saem do Rio Vermelho, Fazenda Coutos e até de Lauro de Freitas. Martha estava entre esses alunos que se deslocam de bairros mais afastados para ter acesso às aulas. De Castelo Branco, acordava bem cedo e pegava dois ônibus para chegar na Graça. O percurso costumava durar mais de uma hora, sem contar a espera do ônibus, que nos domingos demora a passar. “Mas estar lá praticando compensava tudo”, conta.

Foto: Martha Fabiana/Divulgação
Foto: Martha Fabiana/Divulgação

Desde então, se aprofundou no yoga e buscou uma formação. Agora ela dá aulas grátis na praça de Cajazeiras V com o coletivo Perifa Yoga, idealizado por ela. Licenciada em Teatro, já procurava alguma forma de contribuir com a comunidade. Mas foi durante as aulas de formação no yoga que percebeu como faria. Queria possibilitar o contato das pessoas com essa técnica para o corpo-mente.

“O yoga, apesar de já ser conhecido em algumas áreas da cidade, ou é totalmente desconhecido para outros ou é visto como algo distante, por muitas vezes estar atrelado a um custo que não possibilitaria o acesso para todos”, afirma.

Os projetos facilitam o preço das aulas, que custam entre R$90 a R$200 por hora, mas se concentram em áreas centrais da cidade. Além do Amanhecer com Yoga, na Graça, há o Coletivo Ser Yoga que oferta aulas no Museu de Arte Moderna, no Solar do Unhão, e o Meia Lua Yoga, que oferece aulas no Porto da Barra. Por isso, o projeto Perifa Yoga fez a felicidade de Paloma Soares, 22, moradora de Cajazeiras V. “Quando faço yoga fico mas calma. Já tinha vontade de fazer, mas não tenho condições”, conta.

Durante sessões de terapia, uma psicóloga havia sugerido a prática para auxiliar seu tratamento. Mas foi por meio de um post no Instagram que conheceu o projeto, fez a primeira aula e não parou mais. Segundo Martha, muitos dos alunos do Perifa sentem vontade de aprofundar as aulas semanais com uma prática regular para ampliar os benefícios sentidos, mas não encontram ofertas na área. No momento, ela está combinando uma parceria com uma academia de Cajazeiras para dar aulas a preços acessíveis.

No tapete
Em 2017, O SUS passou a reconhecer o Yoga como uma Prática Integrativa e Complementar em saúde (PICS). Segundo o Ministério de Saúde, a procura por essa e outras práticas aumentou de 216 mil para 315 mil entre 2017 e 2018. As PICS são definidas pela instituição como tratamentos que utilizam recursos terapêuticos baseados em conhecimentos tradicionais. Previnem doenças como depressão e hipertensão e, em alguns casos, podem ser usadas como tratamentos paliativos em doenças crônicas.

A diferença das PICS para o tratamento médico convencional é a visão integral do indivíduo como corpo e mente, no qual um afeta o estado do outro. Na página do MS, o yoga aparece como uma técnica que “trabalha os aspectos físico, mental, emocional, energético e espiritual do praticante com vistas à unificação do ser humano em si e por si mesmo”.

A instrutora Carla Dantas começou sua conexão com o yoga para cuidar de um processo alérgico. Em consulta com o naturopata, recebeu a indicação da prática para ajustar seu corpo a partir da mente e tratar a alergia. “Como ele era um naturopata, via o corpo de uma forma bastante integral”, conta. Depois de um mês, Carla já conseguia perceber a diferença.

“No início bastante sutis, bem processuais, mas eu já percebia várias mudanças. No meu corpo, de como eu me observava e como ficava mais tranquila”, completa.

Ela procurou a formação quando percebeu a quantidade de benefícios da técnica na sua vida. “Tinha a ver com dizer para as pessoas o quanto o yoga é uma prática com a qual você pode mudar a forma de ver o mundo, lidar com as pessoas e consigo mesmo”.

O yoga se tornou uma ferramenta tão grande para Carla que ela precisava disseminá-la o máximo possível. Em contato com um amigo de Petrópolis, que dava aulas grátis no Museu Imperial, resolveu ofertar aulas livres. Começou no Dique de Tororó, onde já deu aula para apenas um aluno e levava sua própria vassoura para varrer o local onde ocorreria a prática.

“Na minha primeira aula no Dique, eu cheguei com uma amiga e tinha algumas pessoas dormindo no lugar que eu ia dar aula. Eles estavam acordando, eu me aproximei, me apresentei e disse que ia dar aula naquele espaço. Porque na verdade eu estava no espaço daquelas pessoas que estavam ali dormindo. E ao longo do tempo em que eu estava no dique, mais ou menos uns 8 meses, eu recebi muito o olhar cuidadoso daquelas pessoas que moravam ali. ”, conta a professora.

Do Dique passou para o Palacete, onde continua com a proposta de yoga para todos desde os detalhes. “Um olhar que eu tenho são posturas que você vai colocar o joelho no chão. Geralmente eu não faço essas posturas porque muita gente não tem o tapete. Algumas pessoas têm toalha e canga”, conta.

Em sete anos no museu, Carla recebeu muitas respostas de como as aulas estavam afetando a vida dos alunos. Percebe como as pessoas passam a se auto-observar e cuidar do corpo. Pedagoga, entende o yoga como uma forma de educação. Por isso, durante as aulas, suas falas para guiar a prática estão sempre relacionadas ao dia-a-dia. Para ela, o tapete de yoga é como o início de uma preparação que vai ser levada para o resto da vida. “Nós sempre falamos, como professores de hatha-yoga, que a prática começa realmente quando você enrola o seu tapete e vai para casa”.

Durante essa quarentena, as práticas do Perifa Yoga e do Amanhecer com Yoga no Palacete não pararam, apenas mudaram de lugar. Agora nas lives do Instagram, todo domingo tem aula do Perifa no perfil @perifayoga. Enquanto as aulas quinzenais da Carla Dantas continuam, também aos domingos, em seu perfil pessoal @carladantas_yoga.

*voluntária da Agenda Arte e Cultura

Um comentário em “O yoga fora do tapete: conheça os coletivos que aproximam a prática da sociedade

  • 19 de setembro de 2020 a 13:10
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    Gostaria de fazer parte do coletivo

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