“Fotógrafo precisa ser cara de pau”, afirma repórter fotográfica
“O fotógrafo tem a possibilidade de se reinventar e atuar em várias áreas”
Por Kelven Figueiredo
Carol Garcia se formou em comunicação social com habilitação em jornalismo na FACOM em 2006 e já no final do curso, quando fazia seu trabalho de conclusão, o temido TCC, decidiu que queria seguir como fotógrafa. Conseguiu seu primeiro emprego na área da fotografia na prefeitura de Camaçari. Obteve experiências como educadora e atualmente dá um curso de fotografia para iniciantes no Salvador Shopping. Lançou seu primeiro livro de fotografias em parceria com sua amiga antropóloga Bárbara Falcão em 2014, fruto do seu trabalho sobre grafite em Salvador iniciado em 2006. Carol parece encantada ao falar de sua obra e planeja tocar o projeto futuramente, embora admita ainda não ter nada em vista. Em entrevista à Agenda, ela critica a falta de valorização do repórter fotográfico nas redações. Segundo ela, este profissional recebe menos nas redações e é o único que tem a obrigação de ir in loco buscar imagens do acontecimento.
Agenda Arte e Cultura – Como o jornalismo fotográfico chegou até você? Sempre foi seu desejo trabalhar nessa área?
Carol Garcia – É uma longa história. Eu fiz jornalismo e em boa parte do curso eu atuei numa ONG chamada Cipó Comunicação Interativa. Trabalhei lá e participei de vários projetos como educadora, não ainda de fotografia, mas de comunicação e em várias linguagens. Como eu sempre tive essa identificação com as temáticas da cultura e do movimento social, me interessei em pesquisar mais a fundo a cultura Hip-hop. Foi a partir daí que descobri a fotografia, em meu TCC sobre grafite. Inicialmente seria um trabalho escrito, mas durante o processo eu fui estimulada por amigos a fazer o trabalho com fotografia. Eu conversei com o professor Mamede, na época ele estava voltando de viagem, e ele aceitou me orientar. Foi aí que eu comecei a fotografar de verdade. Com esse trabalho fiz uma exposição sobre os grafiteiros de Salvador e decidi que seria fotógrafa profissional. Com o tempo eu fui fazendo alguns trabalhos, muitos gratuitamente para conseguir montar um portfólio, até que eu consegui um emprego na prefeitura de Camaçari, meu primeiro emprego como fotógrafa.
AAC- Como a universidade te ajudou na sua caminhada?
CG – Começou na primeira semana de aula, na recepção aos calouros, onde ocorreram algumas atividades. Dentre estas atividades, uma oficina de fotografia com Cláudio Davi, ex- aluno da FACOM de Produção Cultural, que hoje é meu amigo. Foi a primeira vez que tive esse despertar para a fotografia. Depois disso, dentro da UFBA, o segundo momento em que a fotografia me tomou, foi quando Mamede criou o LABFOTO como ele é hoje. Foi em 2006, quando eu fazia meu trabalho de graduação, que Mamede implantou essa metodologia do LABFOTO. Participar do surgimento disso, para mim, foi muito especial. Eu considero uma das experiências mais ricas que eu tive dentro da universidade.
AAC – Seu trabalho é bem diverso. Há algum segmento da fotografia que lhe agrade mais?
CG – Sim. Eu gosto muito de trabalhar como fotojornalista, essa coisa de lidar com o instante, o imprevisto. Estar na rua me agrada muito. Pessoas me interessam, então eu me identifico muito com a linguagem documental.
AAC – Qual a melhor parte de ser um repórter fotográfico?
CG – É poder sair de carona num carro, com a câmera fotográfica profissional e estar nessa função de observar e fotografar. A experiência de estar na rua com essa estrutura para fotografar é para mim o mais especial de ser fotojornalista. Fora isso nós temos o prazer de estar presentes em momentos importantes sejam para nossa história, cultura, política. Enfim […] A gente se sente participando um pouquinho desses acontecimentos jornalísticos que têm sua relevância e isso também é bacana da profissão.
AAC – E a pior?
CG – É a desvalorização do profissional de fotojornalismo. O próprio mercado do jornalismo já está extremamente precarizado e o fotógrafo de jornal ainda é o que recebe menos. Nós temos uma rotina muito mais desgastante, porque muitas vezes o repórter de texto e de TV não precisa ir in loco, enquanto o fotógrafo precisa ir e trazer a foto do acontecimento.
AAG – O que você acha do mercado aqui em Salvador e em geral?
CG – Eu não tive experiência fora de Salvador ainda. Mas acho o mercado aqui na cidade restrito. Ao mesmo tempo, o fotógrafo tem a possibilidade de se reinventar e atuar em várias áreas. Isso é uma coisa que eu procuro fazer, porque escolhi a fotografia como meio de vida. Eu não tenho muita dificuldade em fazer coisas diversas como casamentos, eventos e ensaios. Além de restrito, ainda paga mal, não valoriza o trabalho da gente e não oferece a estrutura que precisamos para poder trabalhar.
AAG – Você tem algum projeto paralelo ao seu trabalho? Qual?
CG – Sim. Em 2014, eu lancei um livro em parceria com uma amiga, Bárbara Falcão, ela é antropóloga. O livro é sobre grafite e é uma continuação da minha pesquisa de graduação. Eu continuo em contato com o grafite, os artistas do grafite, e tenho essa pesquisa paralela. É algo que ainda faço e pretendo ainda ter um outro produto sobre a temática do grafite, dar continuidade à produção e publicar isso de alguma forma.
AAG – Sendo uma repórter fotográfica mulher, você sofreu algum tipo de preconceito? Acha que é mais difícil?
CG – Eu acho que hoje as mulheres já ocuparam a cena da fotografia e do fotojornalismo. Hoje não se tem mais o preconceito que se tinha. É muito comum encontrarmos colegas e cinegrafistas quando vamos cobrir uma pauta e tem muito mais homens do que mulher. Mas quando se trata de fotógrafos isso muda um pouco. Na SECOM, por exemplo, nossa equipe é composta por dez pessoas, nove fotógrafos e um coordenador, sendo quatro mulheres e seis homens com o coordenador. Mas ainda há um preconceito que resiste, esse pensamento de que mulher é mais frágil, que mulher não dá conta de certas pautas.
AAG – Quais dicas você daria para quem pretende seguir essa carreira?
CG – A dica que eu dou para quem quer ser fotógrafo é que a pessoa precisa ser “cara de pau”. Na verdade, todo jornalista tem que ser um pouquinho cara de pau, né? E quando você quer ser fotógrafo a gente tem que ter uma disponibilidade ao extremo. Você não pode ficar fechado em você mesmo achando que as coisas vão chegar, pelo contrário, precisa estar aberto, observando e entregue mesmo. Porque se você não estiver entregue ao momento, concentrado no que você está vendo e sem vergonha você não vai conseguir a foto.