Trajetórias: A mulher negra latino-americana e caribenha é ancestral

Por Madu Motta

 

No dia 25 de julho é comemorado internacionalmente o Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha. Data essa que se tornou um símbolo de resistência e manutenção de lutas por igualdade de direitos. Em 1992, mulheres negras originárias de diversos lugares da América Latina e Central, se juntaram na República Dominicana e decidiram que a partir daquele dia, seria demarcado a celebração dessas lutas, que a cada dia ganham maior adesão dos movimentos interseccionais de raça e de gênero.

 

No Brasil em especial, é relembrado anualmente o nome de uma figura de grande importância representativa: Tereza de Benguela. Líder do Quilombo Quariterê, no Mato Grosso, ela é simbolo de resistência do movimento negro e feminista. A liderança de Tereza de Benguela, que também era denominada como rainha no Quilombo, é um fator marcante na história dessa líder. Teresa foi considerada uma grande estrategista, por conta das suas táticas de guerra, e da dedicação total à segurança do quilombo. 

 

Renata Dias e Ialorixá Valnízia Ayrá na Caminhada do Povo Santo
Renata Dias e Ialorixá Valnízia Ayrá na Caminhada do Povo Santo

 

Um dos principais objetivos dessa data é também celebrar, sem romantizar as intolerâncias e violências diversas, a união de mulheres negras e o apoio que se é construído entre elas. Não é à toa que o sentimento de conexão ancestral entre essas mulheres é um fator que está inserido nas vidas e trajetórias de cada uma.

 

Para Renata Dias, esse movimento identitário não é diferente. A relações públicas é ex diretora geral da Fundação Cultural do Estado da Bahia (FUNCEB), idealizadora e diretora da Junbai, empresa de comunicação e produção cultural que atua na gestão multidisciplinar de empreendimentos criativamente conectados à diáspora africana, e atualmente Doutoranda pelo Programa em Meios e Processos Audiovisuais da Escola de Comunicações e Artes da USP (ECA/USP). 

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A doutoranda acredita que a sua trajetória é conectada com todo o processo de vivências das mulheres negras de sua família: “A minha trajetória tem relação com a minha mãe, da maneira como eu fui criada por ela, eu sou fruto da mulher que ela é, e olhando mais para trás a minha avó que também foi essa pessoa de uma vivência incomensurável”.  

 

A reverberação das nossas construções

Assim como Renata teve na família uma rede de apoio que contribuiu significativamente na sua formação, tanto no aspecto da construção individual como mulher negra, como também na construção do seu lado profissional, auxiliando-a   alcançar locais ainda pouco acessíveis por mulheres negras em cargos de liderança, ela enxerga que a luta é coletiva, e relembra sua trajetória como diretora geral da Funceb, onde a prática de inserção de políticas afirmativas ainda era escassa: Eu tenho um enorme orgulho de dizer que fui a primeira gestora pública da área de cultura na Bahia que trouxe as cotas num edital no campo das artes. Se hoje vemos, por exemplo, as cotas raciais incidindo em torno da lei Paulo Gustavo, essa experiência que hoje é nacional, ela tem raízes neste tipo de ato de encorajamento. É por isso que nossa luta é coletiva, a gente precisa uns dos outros. É importante a reverberação das nossas construções e das nossas convicções, sobretudo da mulher negra na gestão pública”. 

Renata e Carla Akotirene no lançamento do livro “O que é interseccionalidade em Cachoeira/BA“
Renata e Carla Akotirene no lançamento do livro “O que é interseccionalidade em Cachoeira/BA“

Tereza de Benguela continua entre nós

O Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha destaca a importância de trazer à tona as vozes e experiências das mulheres negras, que muitas vezes são invisibilizadas nas narrativas dominantes. Ao promover a visibilidade, é criado um espaço para discutir, permitindo que mulheres negras se tornem protagonistas de suas próprias histórias. 

 

Segundo Renata, estar em espaços de lideranças sendo uma mulher negra ainda é um papel muito desafiador e solitário: “não é agradável portar essa voz de alguém que necessita de direitos, que necessita de melhores condições de vida e de respeito, que precisa ser vista como alguém dotado de humanidade”. Por isso a importância de tornar a mulher negra o sujeito de sua própria fala: “não nos resta outra senão falar e criar palco para que as nossas possam falar.

 

Ler Lélia Gonzalez, conhecer a história de Beatriz Nascimento, estudar as interseccionalidades vigentes que Carla Akotirene manifesta são papeis fundamentais na construção dos pilares do pensamento afrolatinoamericano. Segundo Renata ser mulher negra latino-americana é pertencer a uma territorialidade que tem significações ancestrais, por isso reconhecer, aprender e visibilizar.

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