Ciclo de seminários mensais discute a Extensão na UFBA
*Por Vanice da Mata
Fomentar as atividades de extensão universitária com a centralidade e atenção que lhes são devidas. Este é o objetivo a que se propõe a Pró-Reitoria de Extensão (PROEXT) da Universidade Federal da Bahia (UFBA) ao realizar o seminário Extensão: a bola da vez. Planejado em uma série de cinco encontros até o fim deste ano, a PROEXT pretende mobilizar toda a comunidade da UFBA e a sociedade baiana a repensarem e planejarem, conjuntamente, os rumos deste fazer acadêmico.
O primeiro encontro da série aconteceu no auditório do Instituto de Matemática no último 14 de agosto, às 14h. Com o tema Oportunidades e desafios da Extensão Universitária, Eduardo Lyra, coordenador do Fórum de Pró-reitores de Extensão do Nordeste (FORPROEX-NE) e professor doutor da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) foi o convidado do dia da professora doutora Blandina Felipe Viana, Pró-reitora de Extensão (PROEXT) da UFBA.
Na plateia, alunos e professores de diversos cursos da casa, além de gestores de organizações sociais, interessados em discutir a importância deste eixo da Universidade, enquanto instituição social. “A UFBA está de parabéns pelo protagonismo em realizar esta série de encontros para discutir com a seriedade necessária o papel social, político e cultural da Extensão”, declarou Lyra, que afirmou não haver hoje iniciativa semelhante em outro lugar do país, apesar de haver uma conjuntura propícia para a valorização da extensão universitária no Brasil.
Academia e Sociedade Blandina Viana abriu a tarde de trabalhos, no Instituto de Matemática, abordando a extensão como o caminho de entrelaçamento da academia com o mundo social que a permeia. “Se considera superada a concepção de que a Extensão universitária seria simplesmente um conjunto de processos de disseminação de conhecimentos acadêmicos, tais como prestação de serviços, assistências, assessorias e consultorias, ou de difusão de conhecimento por meio de eventos diversos e divulgação de produtos”, refletiu a Pró-reitora. Para ela, a atividade é algo bem mais complexo do que isso, sendo compreendida como “importante instrumento de mudança e de transformação, que viabiliza a relação entre a Universidade e a sociedade. Um dos desafios é trazer a maioria dos extensionistas para a realização de ações que explorem esse potencial mais amplo da atividade”, afirmou a Pró-reitora.
Dada a analogia do ciclo de debates com o jogo de sinuca, eleita pela PROEXT para o slogan Extensão: a bola da vez, a horizontalidade do instrumento com o qual se joga – neste caso, o conhecimento – é fundamental para uma melhor experiência do jogo, o que implica um desempenho com mais acertos. A sociedade entra, aí, com seus saberes, práticas, valores e necessidades em pé de igualdade com o saber acadêmico. Paulo Freire, educador e filósofo nordestino, chegou a formular a questão “extensão ou comunicação?” no fim dos anos 60 – pergunta que, inclusive, deu nome a um de seus livros. Nesta obra ele explorou sentidos da palavra extensão e problematizou, sobretudo, sua relação significativa com termos como entrega, transmissão, messianismo, manipulação, dentre outros. Por outro lado, destacou o caráter dialógico da comunicação e viu, ali, o espaço para uma relação entre sujeitos, capaz de dar vitalidade a espíritos humanos em condição de preencher conscientemente seus próprios destinos. Reflexões como a de estudiosos como Paulo Freire ou do sociólogo português Boaventura de Sousa Santos, no seu ensaio “A Universidade no século XXI: para uma reforma democrática e emancipatória (…)”, orientam o fazer da PROEXT da UFBA rumo a uma cultura de Extensão consciente de sua responsabilidade em fomentar transformações sociais.
Argentina e Brasil: a Extensão na História Respeitadas as diferenças que definitivamente separam brasileiros de argentinos, uma coisa há que se agradecer aos hermanos latinos: a inspiração por uma Universidade autônoma e democrática, cujas raízes remontam ao Manifesto de Córdoba (1918). Este “Documento da Reforma Universitária” representou as lutas populares contra os valores oligárquicos que então predominavam no sistema acadêmico do país vizinho, que reivindicava uma maior participação estudantil nas questões administrativas da Universidade. Quase meio século depois, tal movimento inspiraria as lutas do Movimento Estudantil brasileiro, na década de 60, pela conquista de uma universidade empenhada em transformar a realidade social. A partir do Manifesto argentino, a identidade desta instituição passou a incorporar uma dimensão sócio-política e cultural agregada à clássica competência educacional. A Extensão Universitária passou a ser a expressão desta nova feição.
As primeiras experiências por aqui ocorrem entre 1911 e 1917, na Universidade Livre de São Paulo (primeira faculdade privada de Medicina de São Paulo). Naquela época, a marca da universidade era como a tal instância “difusora de conhecimentos”. De lá para cá o golpe militar frustrou o processo de amadurecimento da Extensão Universitária brasileira, marcado pela efervescência da discussão da Reforma Universitária nos primeiros anos sessentistas. Tendo como marcos legais a Constituição do Brasil (1988) e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (nº 9.394/96), a Extensão vem se propondo a fazer uma espécie de revisão de si mesma.
Desafios nacionais No encontro da UFBA, Eduardo Lyra apontou como um ponto a superar a necessidade de inserir no currículo, definitivamente, as ações de extensão. Na Bahia, a PROEXT já vem fomentando a curricularização da Extensão ao regulamentar, no início deste ano, a(s) Atividade(s) Curricular(es) em Comunidade – ACCS, na modalidade disciplina. A Pró-reitoria de Extensão planeja que, dentro de cinco anos, elas já estejam incorporadas ao projeto pedagógico de todos os cursos de Graduação da casa.
Além desta dificuldade, Lyra destacou a necessidade de regulamentação da Lei de Extensão para normatizar as ações da área; o reconhecimento das atividades de Extensão nas normas e carreiras de técnicos e docentes; a criação de meios legais de financiamento permanente da extensão (na UFBA o financiamento regular tem se dado com recursos próprios por meio de chamadas públicas); instituir uma política de avaliação com base em indicadores, bem como instituir o Plano Nacional de Extensão pelo MEC. Também foram comentadas as necessidades de incorporação da Extensão Universitária no Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES), a criação do colegiado de Extensão das Instituições Federais de Ensino (IFES), a inserção das atividades de extensão no Currículo Lattes, o fortalecimento de parcerias para a implementação de políticas públicas; e, principalmente, a necessidade de consolidação de uma política cultural para a área.
Serviço Para os próximos encontros, todos abertos e gratuitos, a PROEXT trará à UFBA os temas: em 3 de setembro, o papel dos Núcleos de Extensão nas Unidades Universitárias; em 16 de outubro, a curricularização da extensão com as ACCS; em 14 de novembro, as bolsas de extensão universitária (programa PIBIEX) e, fechando o ciclo dos seminários em 2013, as oportunidades de financiamento da extensão (programa PROEXT/MEC), em 13 de dezembro.
Acesse aqui o site da PROEXT para saber mais sobre as atividades.