Editora de livros da Ufba comemora recorde de publicações
Por Catarina Reimão e João Bertonie
A Editora da Universidade Federal da Bahia (Edufba) alcançou um recorde de publicações este ano: 120 títulos. Para comemorar o feito, a editora realizará, nesta sexta-feira, 19, às 17h, o primeiro Festival de Livros e Autores da Ufba, no Palacete das Artes Rodin Bahia. Na ocasião, todos os livros que compõem esta marca serão vendidos com 50% de desconto.
É a segunda vez que a editora da universidade realiza mais de 100 publicações em um ano, a primeira foi em 2011. Segundo a diretora da Edufba, Flávia Rosa, este recorde aponta para o aumento significativo da pesquisa realizada na instituição de ensino. Além disso, o acesso ao que é produzido pela editora foi ampliado com novas parcerias onde os títulos podem ser encontrados, como as livrarias Multicampi, Palmas Cultural, no Tocantins, Unesp, em São Paulo, e Escariz, em Sergipe, e também nos sites das livrarias Cultura e Cia. dos Livros. Para Flávia Rosa, isso é possível porque hoje a visibilidade da editora é muito maior. “Nós conseguimos uma melhoria em nossa distribuição e ganhamos a confiabilidade das pessoas”, afirma a diretora.
O evento, que tem entrada gratuita, será uma oportunidade de confraternização para os alunos e professores da universidade, além de marcar o encerramento oficial das atividades deste segundo semestre de 2014. Durante o Festival, acontecerá um bate-papo sobre a perspectiva da música para o verão da Bahia. Os convidados são os professores Marilda Santana, autora do livro “As Donas do Canto: o sucesso das estrelas intérpretes no carnaval de Salvador”, e Milton Moura, um dos organizadores do livro “Coisa de Artista: a inquietação pela autonomia”, ambos publicados pela Edufba.
VIVA EUCLIDES NETO
Entre os destaques do Festival de Livros e Autores está a Coleção Euclides Neto, que contém 13 obras do autor publicadas entre as décadas de 40 e 90. O escritor baiano, nascido na cidade de Ubaíra, localizada a 270 km de Salvador, foi também advogado e político, precursor da reforma agrária e atuante em oposição ao Regime Militar. Sua trajetória política é refletida em sua obra literária. O ex-militante do Partido Comunista do Brasil (PCB), graduado pela Faculdade de Direito da Ufba, em 1949, tem em sua bibliografia títulos como “Birimbau” (1946), “Vida morta” (1947) e “Os magros” (1961), todas obras com forte cunho ideológico. A coleção conta ainda com outros dez livros, que dividem-se entre romances, novelas, relatos e crônicas.
A principal articuladora do relançamento da obra de Euclides Neto, ocorrida em novembro deste ano, foi sua filha, a arquiteta Denise Teixeira. Para trazer a este século as críticas políticas e sociais de seu pai, Denise entrou com um processo junto ao Ministério da Cultura e recebeu um recurso financeiro através da Lei Rouanet (Lei Federal de Incentivo à Cultura) para redigitar todos os livros, com as correções necessárias. Esse trabalho foi concluído ao fim de três anos. “Denise entrou em contato conosco, propondo que cuidássemos da produção gráfica, da editorialização e da distribuição”, explica a diretora da Edufba, Flávia Rosa.
A editora acredita que a obra do autor baiano é relevante em várias perspectivas (sociais, culturais, políticas) e, por isso, há um forte apelo em relação à releitura de suas obras. Segundo Flávia, a repercussão a respeito do relançamento dos títulos tem sido bastante positiva. “Euclides Neto tem uma linguagem muito peculiar que consegue ter uma amplitude enorme”, defende. Apesar da relevância do conteúdo das obras, a principal queixa dos interessados em adquiri-la foi o preço alto, de R$162,00.
MAIS DESTAQUES DO FESTIVAL
Com um total de 1.150 livros publicados até hoje, a Edufba tem se especializado na divulgação da produção acadêmica. Apesar do foco ser a publicação de pesquisadores da Ufba, a editora também transforma em livros teses e dissertações de acadêmicos vinculados a outras instituições, como a Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs). “Nosso critério é que seja um bom original e que atenda aos requisitos de um bom livro científico e acadêmico”, afirma Flávia.
Além da Coleção Euclides Neto, outros livros publicados pela Edufba esse ano têm apresentado boa repercussão. O título mais recente de Wilson Gomes, professor doutor da Faculdade de Comunicação (Facom/Ufba), por exemplo, foi lançado em julho e já está em sua segunda tiragem. “A Política da Timeline” conta com postagens feitas pelo próprio docente em sua página pessoal no Facebook, ao longo de quase três anos, todas dedicadas à discussão sobre política.
A estudante de jornalismo Vilma Martins, 21, considera que um dos principais méritos da publicação do professor é tratar de assuntos “usuais com uma carga maior de inteligência e ironia”. “Na sua timeline do Facebook, você vê opiniões sobre política muito próximas ou iguais às suas, porque os seus amigos geralmente têm o mesmo perfil ideológico que o seu. Então, é interessante encontrar opiniões dissonantes e tão bem embasadas quanto as de Wilson”, acrescenta a graduanda, referindo-se aos posts que deram origem ao livro.
Outro livro que compõe o Festival é a obra “Transexualidades – Um Olhar Multidisciplinar”, com organização de Thereza Coelho e Liliana Lopes. Lançado em agosto desse ano, o livro aposta nas múltiplas abordagens para trazer à academia o debate acerca da transexualidade. “Este livro foi construído ao longo de dois anos, através de contatos com pessoas transexuais, pesquisadores e profissionais de diferentes áreas, ligados à temática”, explica Thereza Coelho.
A obra conta com contribuições de pesquisadores das áreas de ciências sociais, comunicação, direito, enfermagem, medicina, psicologia e serviço social. O que resulta em um convite à imersão na complexidade da temática, que divide opiniões inclusive entre a comunidade LGBT. “Buscamos oferecer uma diversidade de reflexões acerca do tema, de modo a colaborar com os debates existentes, com a ampliação dos direitos humanos e com a qualificação da assistência às pessoas transexuais”, completa.
Foto: Palacete das Artes/Divulgação