Escola de Dança da UFBA aproxima diálogo com a sociedade

A Escola de Dança da UFBA expõe suas criações em apresentações, como o XXII Painel Performático e o espetáculo Corpos em Solos e Duos, e estreita o diálogo com a comunidade

*Por Gustavo Salgado

A Escola de Dança da UFBA vive um momento de convergência e renovação. Projetos de extensão e mostras performáticas reafirmam as identidades culturais locais e exibem os trabalhos desenvolvidos por alunos da Escola – que se abre cada vez mais para a comunidade.

Acontece esta semana, entre os dias 4 e 7, no Campus de Ondina, o XXII Painel Performático. Criado em 2003, e com uma edição a cada semestre, o evento comporta as experimentações e criações da Escola como um todo, envolvendo graduação e pós-graduação, em uma construção coletiva com a comunidade.

“O Painel permite que as investigações propostas pelos alunos nos módulos estudados sejam colocadas em cena para fruição de todos, não apenas para os colegas e professores, mas para seus familiares, amigos e para a comunidade em geral”, avalia a professora Leda Muhana, atual Diretora da Escola de Dança, através da página do evento na rede social Facebook.

Leda Maria Ornelas, arte-educadora, como prefere se definir, e professora da Escola de Dança da UFBA, ressalta que é preciso “trazer a Universidade à sociedade, instrumentalizar profissionais da sociedade civil e fortalecer o diálogo”. Leda Maria também é produtora executiva do espetáculo Corpos em Solos e Duos, que integra o projeto de extensão de mesmo nome.

Corpos em Solos e Duos, em suas últimas apresentações nos dias 23 e 30 de janeiro, trouxe um discurso forte sobre a importância da formação identitária cultural brasileira e baiana, com ênfase nas danças de matriz africana. Nesse contexto, um dos artistas a se apresentar foi a carioca Eliete Miranda, atriz e dançarina afro, que desenvolve atividades no Rio de Janeiro, em comunidades como a Rocinha e o Vidigal, e em Salvador.

Eliete Miranda Foto: Gustavo Salgado
Eliete Miranda Foto: Gustavo Salgado

A produção artística fora da academia é um grande interesse de Leda Maria Ornelas, que se preocupa com a questão de que apenas o conhecimento produzido na Universidade é historicamente reconhecido e legitimado. “Como podemos afirmar que ali não tem pesquisa?”, questiona a professora em relação às apresentações de Anitta e do grupo Parangolé, por exemplo. “Há uma enorme preocupação com a música, o figurino, a coreografia…”, explica. “Fui entendendo a historicidade do meu corpo, adquirindo técnica e me aperfeiçoando. Mas trouxe essa bagagem de fora da academia”, afirma Leda Maria ao abordar um tema que ainda gera conflito na Escola de Dança da UFBA: a formação tradicional e conservadora dos dançarinos.

Sem o teste de aptidão em dança no vestibular da UFBA, com os estudantes ingressando diretamente pelo ENEM, há um diferencial profundo em relação à história da Universidade, defende Leda. “A Escola vai ter que se adaptar aos novos corpos que vão chegar, sem terem vindo necessariamente com uma formação”, diz.

Mas a professora mostra otimismo com a promessa dessa nova perspectiva, e acredita que a sociedade civil e a academia têm muito a ganhar.

“Se eu não oportunizo o outro, como eu vou oportunizar a mim mesma? Isso não é discurso, é uma ação”, defende ao finalizar a última apresentação de Corpos em Solos e Duos. Esse projeto, que dá voz e palco à comunidade além da universidade, segundo Leda expõe temáticas e corpos sob a ideia de “eu sempre estive aqui, você que nunca me enxergou”.

Professora Leda Maria Ornelas Foto: Gustavo Salgado
Professora Leda Maria Ornelas
Foto: Gustavo Salgado

 

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