Jornalista e animador Ricardo Araujo lança livro sobre o panorama da animação em Salvador
Por Madu Motta
O panorama da animação baiana e soteropolitana ainda é um campo com pouco histórico de pesquisa e catalogação, apesar de ser uma importante produção artística e cultural. Juntamente com a arte circense, a dança, o teatro e outros tipos de arte tem o objetivo de entreter, educar, conscientizar.
A partir desse incômodo, o jornalista e animador Ricardo Araujo buscou realizar um estudo mais aprofundado sobre a animação em Salvador, resultando na recente publicação do seu primeiro livro: “Panorama da Animação em Salvador”, que foi lançado na sexta (13). O título é fruto da sua dissertação de mestrado que contou com a orientação do reitor da UFBA, Paulo Miguez e coorientação da professora da Facom e pesquisadora na área da comunicação, Natasha Canesso.
O evento, realizado na biblioteca do Cine Glauber Rocha, fez parte da programação do VI Festival Anima Aí, que destaca a produção audiovisual da animação, como também de games. A programação contou com mostras, palestras, workshops, além de unir, em vários dias de realização, um público variado, de crianças a pessoas experientes no ramo, mostrando que a animação possui características diversas.
Panorama da Animação em Salvador
Com uma modificada para o público externo, o livro Panorama da Animação em Salvador compõe o terceiro capítulo da dissertação de mestrado de Ricardo, que busca apresentar de forma dinâmica o histórico da animação soteropolitana, a partir do primeiro registro de um filme de animação em Salvador, produzido em 1972 e analisando fatores como o desenvolvimento de mercado da animação na cidade e os eventos que dão visibilidade ao gênero.
É o que relata o autor, que a partir da produção do trabalho de conclusão do curso, viu a possibilidade de estudar sobre animação: “Tudo começou a partir de uma pesquisa do Anima Mundi onde era citado que na Bahia só haviam três animadores e eu sabia que isso estava errado, com isso, fiz um documentário sobre animação na Bahia e logo após pesquisei sobre a animação em Salvador.” relatou o jornalista e animador.
Com mais de quinze animadores entrevistados, a dissertação de Ricardo é resultado de indicações feitas pelos próprios animadores, o que proporcionou um acervo de pessoas que estão inseridas nesse mundo da animação no qual antes não se tinha informações precisa.
“Eu utilizei a técnica de Bola de Neve, onde os próprios animadores iam indicando outros e isso facilitou bastante o trabalho. Mas a dificuldade que tive foi em entrar em contato com algumas pessoas da área porque muitos não respondiam, então no final foram mais de 15 animadores entrevistados.”
O livro, que é uma adaptação da dissertação do autor, passou por um processo de mudança do texto acadêmico, para que poder ter um alcance maior do público geral, deixando de ser algo acadêmico.
“O livro é o terceiro capítulo da dissertação, mas de uma forma que possa alcançar outras pessoas. A gente faz um texto acadêmico que na maioria das vezes quem lê são pesquisadores, já o livro é uma forma de as pessoas terem mais interesse em ler, com imagens que enriquecem o texto, o que é muito importante”.
Se tratando de um livro que traz a animação como tema principal, o projeto gráfico também é fundamental para a composição do trabalho. Para Eduarda Dellamagna, responsável pela diagramação, o processo foi uma composição de diversos elementos, como cores e fontes, que resultaram em um produto destinado para o público geral: “O projeto gráfico do livro foi um processo em conjunto. Desde o começo a gente já tinha decidido que seria um livro mais quadrado, como é um livro que fala sobre animação e não queria trazer letras muito sérias, então tivemos esse processo de pesquisa para que o produto tivesse uma personalidade própria.” detalhou
Visibilidade dos animadores na Bahia
A animação em Salvador possui potencial, mas ainda enfrenta desafios para ganhar maior visibilidade, especialmente em comparação ao eixo Rio-São Paulo. Segundo Ricardo, o cenário local tem muito a oferecer, embora ainda seja pouco conhecido. “A animação na Bahia é diversa. Um dos primeiros longas-metragens de animação foi feito aqui, para o Chico Liberato, mas muita gente não sabe disso. Há produções feitas na Bahia que fazem sucesso fora daqui, mas ainda são desconhecidas pelo público local”, afirmou. Ele também destacou o reconhecimento internacional, com animações que concorreram a premiações como o Festival de Cinema de Animação de Annecy, considerado o Oscar da animação. “Temos animações com estética impecável e roteiros muito bem escritos, capazes de competir em premiações internacionais. O mercado está crescendo e tem muito espaço para expandir”, concluiu.