Mesa sobre dificuldades das políticas culturais na Bahia marca Ciclo de Debates no MAB
A mesa composta por Paulo Miguez, Ana Vanesca e Renato da Silveira discutiu problemáticas que envolvem o desenvolvimento das políticas culturais na Bahia.
Por: Glenda Dantas
Qual a dificuldade de efetivação das políticas culturais? Qual a perspectiva de institucionalização? Há possibilidade de autonomia política na cultura quando não há autonomia financeira? Que tipo de organização política queremos? Qual nosso papel para essa transformação? Esses foram alguns dos questionamentos levantados na segunda mesa do X Ciclo de Debates sobre Políticas Culturais, que aconteceu no Museu de Arte da Bahia (MAB) na noite da última quarta-feira (25).
A mesa composta foi pelo vice-reitor da UFBA, Paulo Miguez; o artista e professor da UFBA, Renato da Silveira e a vice-presidente do Conselho Estadual de Cultura da Bahia (CEC-BA), Ana Vanesca, e discutiu “Democracia e Cultura”. A mediação foi do pesquisador do Pós-Cult, José Roberto Severino.
Todas as apresentações da mesa destacaram as problemáticas que envolvem o desenvolvimento das políticas culturais na Bahia. Ana Vaneska destacou o período entre 2007 e 2014, quando o CEC-BA atuava como espaço de formulação de disputa e de debate, prova disso é a presença dela no cargo. “A razão de eu, enquanto mulher negra e advinda do movimento popular, estar aqui hoje é possível graças a um processo efetivamente democrático que o CEC passou”, contou.
Ela apontou ainda o fato de os membros do Conselho Nacional de Políticas de Cultura não se reunirem “desde o golpe de 2016”, evidenciando o caráter “antidemocrático” e “conservador” do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. “O estado vem negligenciando a relação com os conselhos, esta ação focaliza uma tentativa de destruição do pouco que conseguimos construir nos últimos 8 anos”, afirmou.
Paulo Miguez, no entanto, questionou o porquê de os setores de cultura no país não conseguirem algo valoroso. Para ele, isso se deve ao fato de não haver possibilidades simples para a cultura. “É como se a cultura precisasse justificar todos os dias a sua importância, pois mesmo nos melhores momentos da democracia, as batalhas eram as mesmas”.
“O primeiro recurso a ser cortado, em qualquer situação de crise, é o da cultura”, completou. Miguez.
Desconstrução
Já o professor Renato trouxe outra perspectiva na leitura de cultura e democracia. Ele relacionou o período “turbulento” que o país está passando no âmbito das políticas culturais, com o retorno dele ao Brasil, em 1993, após o exílio, quando foi censurado após fazer peças gráficas com imagens “fora do comum”, de Jesus e de santos da igreja católica, por exemplo, Jesus com uma folha de maconha nas mãos.
Para ele, a liberdade de desconstruir o que está enquadrado como padrão da sociedade, abre a possibilidade de análise crítica. “É a falta de respeito que fomenta o pensamento crítico. Para os fundamentalistas, a liberdade é um crime, por isso eles tentam a todo tempo neutralizar o potencial de desordem”.
O ponto de vista de Renato se relaciona, principalmente, com a quase ausência da cultura nas prioridades governamentais e os retrocessos que vem acontecendo, como apontam os dados apresentados por Vaneska. “Dos 417 municípios da Bahia, apenas 167 possuem Conselhos de Cultura”, afirmou a representante do Conselho de Cultura.
Ciclo
O evento reuniu professores e estudantes interessados na área de cultura. Para o estudante de Comunicação Social em Produção Cultural da UFBA, Roberto Junior, discutir políticas culturais, principalmente para um público majoritariamente jovem, “é importante para que, além do aprendizado adquirido, incentive a luta e consequentemente a efetivação das políticas culturais”.
A 10ª Edição do Ciclo de Debates sobre Políticas Culturais teve como objetivo analisar o papel desempenhado pela comunicação na construção do “golpe de 2016” e na luta em defesa da democracia; examinar a função da cultura na construção de uma sociedade autoritária e desigual e na luta pela democracia; e refletir as relações entre as políticas de comunicação e de cultura e suas relações com a luta pela democracia e diversidade cultural no Brasil.
O evento é coordenado pelo professor Albino Rubim, e realizado pelo Coletivo Políticas Culturais, Observatório de Políticas e Gestão da Cultura, Centro de Estudos Multidisciplinares em Cultura (CULT), Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade (Pós-Cultura), Instituto de Humanidades, Artes e Ciências Professor Milton Santos (IHAC/UFBA). O evento tem parceria com o Museu de Arte da Bahia, Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia e Secretaria de Cultura da Bahia.