A mídia e a sua relação com as populações LGBT foram discutidas em palestra da III Semana da Diversidade
Por João Bertonie
Como os veículos midiáticos lidam com a representação de lésbicas, gays, bissexuais e pessoas trans? Qual o papel que eles desempenham na construção ou desconstrução de preconceitos envolvendo esta parte da população? Estas são algumas das perguntas cujas respostas foram discutidas na palestra com o tema “A mídia como produtora de sofrimentos e homofobias”, realizada na última quinta-feira, 18, no auditório da Faculdade de Comunicação (Facom/Ufba). A conclusão desse debate, curiosamente, foi para a direção oposta: ao final da discussão, os palestrantes reconheceram a mídia como aliada das populações LGBT.
LGBT NA MÍDIA
Welton Trindade, ativista gay e mestre em Comunicação pela PUC/SP, abriu a mesa falando de sua dissertação de mestrado, na qual pesquisou a representação dos homosseuxais em novelas da TV brasileira e seus efeitos nos telespectadores. Autores famosos como Aguinaldo Silva, João Emanuel Carneiro e Glória Perez e suas produções foram abordados numa conversa cuja conclusão foi, no mínimo, fora do senso comum, quando se trata de representação LGBT nos grandes veículos. “A mídia brasileira produz liberdade e valores humanos para LGBTs em muito maior proporção do que sofrimento e homofobia”, garantiu Trindade.
Em sua pesquisa, Welton Trindade entrevistou 250 pessoas que afirmavam assistir ou terem assistido alguma novela da faixa das 21h. A lista ia de produções como “América” (2005) até “Duas caras” (2007/2008). Dos entrevistados, 18,6% acreditava que os meios de comunicação são responsáveis pela mudança positiva em relação às pessoas homossexuais. Este valor, na visão do ativista, representa uma fatia considerável dos telespectadores atribuindo importância à representação LGBT nas grandes mídias.
O pesquisador paulista, que também é sócio-proprietário da Guyia Editora (responsável por editar o Guia Gay Salvador, única publicação destinada a este público existente na cidade), tem uma visão otimista em relação a situação das pessoas LGBT no cenário atual. “Hoje um LGBT brasileiro tem mais direitos assegurados do que um LGBT alemão, por exemplo”, afirma.
HOMOFOBIA
A professora da Facom Malu Fontes falou sobre a necessidade de tipificar crimes homofóbicos para viabilizar a penalização destes tipos de infrações. Segundo ela, as pessoas tendem a catalogar este tipo de crimes como “crimes passionais”, negando que eles tenham causa homofóbica. Além disso, Malu tratou da “redução identitária” que passam as pessoas LGBT nos veículos da imprensa, que não se preocupam em tratar estas populações como personagens complexas e humanas.
A discussão foi finalizada com a palavra de Luiz Mott, fundador do Grupo Gay da Bahia (GGB, a mais antiga organização do tipo no país), para quem há certa contradição entre a boa representação dos homossexuais na mídia nacional e a grande violência a que estas pessoas são expostas diariamente. “O Brasil é responsável por pelo menos 44% dos assassinatos de LGBT no mundo”, afirmou o ativista e antropólogo. Ele ainda dedicou parte de sua fala a distinguir a homofobia em três categorias: a homofobia individual, a cultural e a institucional.
O professor da Facom, Maurício Tavares, também esteve presente na palestra que integrou a III Semana da Diversidade LGBT, que se iniciou no dia 14 deste mês e foi até o último domingo, 21, com a realização da 13ª Parada Gay de Savador, no Campo Grande.
Concordo com a opinião da profa. Malu Fontes, não há um tratamento humano, que retrate compreensão das restrições que sofrem aberta ou disfarçadamente desde a infância.
Há uma tendência visível em mostra-los de maneira caricatural ou depreciativa no teatro, novelas, a mídia aborda “o passional’ .
Como sempre surge uma tendência em comparar nossos problemas e deficiências com “o alemão”‘ ou outro modelo estrangeiro, quando a situação do Brasil, apesar das ditas visões de alguns autores de novelas, não condiz com a realidade dos crimes assinalados.