Pesquisadora apresenta os “Novos Desafios Alimentares” na primeira palestra oficial da XXXV edição do SEMENTE

A pesquisadora apontou problemas como o desperdício de alimentos que acontece da colheita ao consumo e apontou alternativas sustentáveis para os problemas desencadeados pela produção de alimentos

Por Kelven Figueiredo

Aconteceu, de 21 a 23 de novembro, a  35ª  edição do Seminário Integrado de Ensino, Pesquisa e Extensão – SEMENTE. O seminário teve como objetivo debater e expor à comunidade UFBA os resultados alcançados pelos diferentes programas institucionais de bolsas implementadas pela UFBA, viabilizando um espaço de discussão e aprendizado entre alunos e professores. A programação do evento foi intensa. Por isso as palestras foram divididas entre os pavilhões de aula Glauber Rocha (PAF I) e Reitor Felipe Serpa (PAF III), no campus de Ondina. O evento também contou com intervenções artísticas que aconteceram na Praça das Artes, no Teatro do Movimento da Escola de Dança e também nos PAFs I e III.

A primeira palestra oficial do evento teve como tema  “Novos desafios alimentares”. Apresentada pela coordenadora do Programa de Mestrado em Ciência de Alimentos da UFBA,  Janice Izabel Druzian, a atividade fez parte do ciclo de quatro palestras programadas para o seminário, sendo elas:  “Pesquisa e Produção Artística: o valor da Indissociabilidade” com Paulo Costa Lima, “Energia escura, Supernovas do tipo Ia e a aceleração da expansão do universo” com Cássio Pigozzo e “Inteligência artificial e você” com Augusto Loureiro da Costa.

A pesquisadora iniciou a atividade fazendo um alerta sobre o paradoxo entre a produção e o consumo de alimentos. “Nunca se produziu tantos alimentos como no momento atual, mas ainda nos encontramos com um problema básico: a fome no mundo”. Janice explicou que isso se deve à grande distância que o alimento percorre desde a primeira etapa da produção alimentar até a etapa em que o alimento chega no prato e  frisou que esse não é o único fator, mas apenas o primeiro deles.

brasil-mapa-da-fome-da-onu
Mapa da Fome da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura

A professora também apresentou  um quadro comparativo  entre a quantidade média de pessoas obesas versus a quantidade média de pessoas que passam fome no mundo. Segundo ela, parece ser um problema muito fácil de  resolver se olhado com “olhos matemáticos” já que são números relativamente próximos. Mas trata-se de um problema mais complexo que envolve a economia, a sociedade e o meio ambiente. E é aqui que ela expõe o segundo fator: desperdício. Segundo dados trazidos pela palestrante, cerca de um terço da quantidade de alimentos retirados do meio ambiente é desperdiçada ao longo do que ela chama de “ciclo alimentar”- que corresponde ao processo que ele passa até que esteja próprio para consumo- e esse desperdício acontece ainda no consumo. O desperdício não é apenas alimentício, mas um desperdício de energia, solo e nutrientes também.

Segundo dados apontados pela professora, 800 milhões de pessoas passam fome.Isso significa que aproximadamente 15% da população mundial sofre com o problema. Sendo assim, uma solução apontada por Janice para solucionar a questão  da fome no mundo seria reduzir a quantidade de desperdício de alimentos em 33%, este seria o primeiro passo para o começo da erradicação da fome em escala mundial.

Janice apontou ainda os problemas que nosso sistema alimentar enfrenta atualmente. Um sistema, que segundo ela,  não é  sustentável. Para conseguir um sistema de alimentação sustentável, é preciso investir em agricultura familiar -uma alternativa que, de acordo com a pesquisadora, corresponde à 70% da produção alimentar e necessita de muito menos terras que agronegócio. É preciso também procurar fontes fontes alternativas de proteínas que não exijam muito gasto no seu cultivo.Um exemplo disto seriam os insetos que, por não precisarem de tanta água, terras e alimentos tornam-se mais rentáveis, econômicos e tão nutritivos quanto às carnes bovinas.

saiba-como-o-brasil-saiu-do-mapa-da-fome

Consumir mais alimentos in natura e menos enlatados. Investir em campanhas de economia de água e alimentos para uma maior conscientização da população. Investir na produção de cereais, pois segundo a pesquisadora, temos um estoque muito baixo deste tipo de alimentos e eles representam 70% dos carboidratos que são consumidos. E, por fim, o aproveitamento dos resíduos alimentares, como as cascas de alguns alimentos que não são consumidos, mas que possuem  potencial para consumo. Entre as alternativas apontadas pela pesquisadora, estão a casca do maracujá, a levedura de cerveja e a casca do camarão, que eventualmente vão para o lixo e são fontes de nutrientes, proteínas e vitaminas.

Janice Druzian  é pesquisadora do Comitê de Biotecnologia, formada em Química Industrial pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), mestrado em química pela Universidade de Santa Catarina (UFSC) e doutorado em alimentos pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *