Relato de experiência “BAFÔNICO”
Artur Mello
Na última quinta-feira (13), ocorreu um dos momentos mais esperados do XI Enecult (Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura), o relato de experiência: dissidências sexuais e de gênero, arte e comunicação. Realizado no auditório do PAF 3 (Pavilhão de Aulas da Federação), em Ondina, o relato contou com a participação de Sofia Favero, administradora da página Travesti Reflexiva, e Jota Mombaça, o escritorx, articuladorx e artista de performance.
Com o intuito de dividir suas experiências de vida com o público, Jota e Sofia construíram um momento de interação e compartilhamento de opiniões com os presentes.
Jota destacou a importância do debate de gêneros e afirmou que “a questão dos gêneros está longe de estar resolvida, tem muita “treta para rolar” ainda”. Jota acredita que a mudança vai começar a ocorrer quando as minorias, como gays e negros, pararem de ser mortos a toda hora, aumentando assim o debate de gênero e raça.
Jota também abordou a questão da valorização da “pirataria conceitual”, que são as pessoas atuantes no debate de gêneros, mas que não são reconhecidas por não fazerem parte do núcleo acadêmico. Para ele, o fato da exclusão destes autores acaba sendo extremamente prejudicial e enfraquecedor para a luta do reconhecimento de gêneros. Jota enfatizou que considera alguns autores excepcionais, mas que por não terem tido a oportunidade realizar um curso superior em alguma instituição de ensino, eles acabam sendo menosprezados e excluídos dos debates.
Já Sofia, ampliou a discussão sobre as dificuldades que os transexuais têm para conseguirem ser reconhecidos por seu nome social. Ela trouxe o dado de que o processo de troca de nome para pessoas trans tem o dobro de rejeição quando comparado a pessoas que se declaram heterossexuais (15% para 30%).
Sofia ainda falou que a página administrada por ela no Facebook é usada como uma forma de divulgar a luta das pessoas transexuais. Ela citou que a maioria do público atingido por sua página, é formado por pessoas não transexuais e que acabam, de maneira muito interessante, interagindo com a página e aprendendo mais sobre a luta.
O estudante de gênero e diversidade da Ufba, Mateus, esteve presente no relato de experiências e considerou que o encontro ajudou a fortalecer o debate de gêneros. “Para mim, foi a oportunidade de trazer os grupos marginalizados da sociedade para dentro da academia”, explica.
Sofia aproveitou o espaço para divulgar o projeto EducaTrans, instalado em Aracaju (SE). O programa foi criado com o intuito de estimular a entrada de transexuais no ensino superior, através de um cursinho preparatório para o Enem. Servindo também como um curso de conclusão do ensino médio para algumas das pessoas participantes.
O tema do preconceito sofrido por gays, drag queens, travestis e transexuais foi pauta em todo o tempo dos relatos. Sofia, enquanto falava da sua história, citou diversas situações em que sofreu com o preconceito, até mesmo por parte do seu psicólogo, que a perguntava se ela tinha namorada. “Não fiz a operação para ser penetrada, fiz porque queria ir a praia”, explica.